Hora de expor os sentimentos

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     Chegamos na casa de praia dos Peres e colocamos nossas coisas. Os meninos querem surfar, mas Hugo diz estar cedo. As ondas boas começarão mais tarde. Enquanto organizo um lanche, vejo Thomas saíndo com ele para o quintal. Termino minha tarefa e vou chamá-los.

_O lanche está pronto. Vocês viram Jean e Clara?
_Estão na praia. Jean garantiu que só iriam dar uma volta. - Hugo responde concentrado no chão.
_Tudo bem. E vocês querem comer?
_Daqui a pouco mom! Já estou terminando de conversar um assunto, e depois a gente entra.
_Ok! Entendi o recado. Já estou saíndo... 

     A casa do Hugo é parecida com a dos Tavares, na parte de cima contém três  quartos e no térreo, um. Todos com vista em direção ao mar. Me aventuro em explorar o ambiente. Não resisto à uma varanda. Abro a porta de um dos quartos e observo que está vazio. Resolvo entrar e o horizonte do mar me chama. Fico distraída vendo as ondas agitadas e não percebo quando alguém segura meus ombros.

_Também gosto de ficar assim… - Hugo diz. 
_Me acalma e começo a engrandecer a Deus pelas suas maravilhas. O mar é tão lindo e ao mesmo tempo perigoso! Suas ondas, o horizonte, sua cor, tudo me impressiona. E olha que daqui só consigo ver a superfície.
_Thomas perguntou o que sinto por você. - Ele aperta meus ombros e me vira.
_E o que disse a ele?
_A verdade! Contei que gostava de mim na adolescência, mas eu não estava pronto pra ter alguém como você. Teria estragado tudo. Eu precisava amadurecer. Agora imagino ser o momento certo.
_Hugo…
_Diana olha pra mim! Não sente absolutamente nada?
_Não é isso. Ouça… Não sou mais uma adolescente, mas existem muitos medos. Antes de tudo, não conseguiria me relacionar com você se minha mãe não aprovasse. Sabe disso! Receio por meus filhos, será que vão aceitar? O medo de quê a gente não dê certo. Fico apavorada em pensar que volte aos vícios. São muitas dúvidas.
_Eu sei. E entendo todas elas. Seus medos não são sem sentido. Infelizmente não posso garantir que nenhum deles não irão se realizar. Saí faz poucos dias da reabilitação. Se comparar isso a David, que foi quase perfeito, realmente perco feio. Acha que também não tenho medos? David foi bom pai, bom esposo, crente fiel e verdadeiro. E eu? Qual é o meu histórico? Acha que chegar aqui, pedir que fique comigo, e entrar em sua vida de família quase perfeita, é algo fácil? Quais as chances que eu tenho? Por isso vou perguntar mais uma vez… Tem algum sentimento além de amizade por mim? Por que é só isso que eu vou ter.
_Os sentimentos do passado amadureceram. Você sabe que amei David e isso jamais pode ser apagado. O que me tornei e quem meus filhos são, muito vem dele. Não quero comparar você com ele, é injusto, são completamente diferentes. O que me pergunto é: Quem vou me tornar ao seu lado? Que influências meus filhos terão? Dependendo da resposta Hugo, posso mais uma vez enterrar qualquer sentimento que tenha ressurgido do passado. Não sou movida somente à emoção, mas à razão também. Vamos encerrar esse assunto aqui e ver o que nos aguarda daqui pra frente. - Passo por ele e saiu do quarto.

***

     O clima entre mim e o Hugo fica estranho depois da nossa conversa. Ele se mantém calado e eu também. Vamos todos até a praia e eles surfam. Pegam boas ondas. Alguns surfistas se aproximam para cumprimentá-los. Hugo conversa um pouco, mas depois volta às ondas com os nossos filhos. 

_Nossos filhos? De onde saiu essa ideia?...  É melhor voltar na casa e ir arrumando tudo. - Falo baixinho enquanto me levanto.
     Hugo sai da água correndo na minha direção, parece câmera lenta. O cabelo escuro molhado grudando na testa, o corpo agora saudável e bonito dentro de uma roupa neoroprene de surfe, o sorriso dele, e as sempre belas mãos segurando a prancha, me faz lembrar das coisas boas no casamento. Quando chega perto, percebe meu olhar.

_Se gostou pode levar pra casa. - Ele sorri sedutoramente.
_Está em fase de análise. Não dá pra levar pra casa ainda. - Rebato sorrindo.
_Boa!... Estive pensando numa coisa… Continua sem emprego?
_Sim. - Dou um suspiro cansado. - O trabalho freelancer é bom, mas muito exigente também.
_Peço que me escute. Não precisa responder agora, certo?... Gostaria de me dedicar mais à instituição, ser uma espécie de coordenador. Ontem conversei com o diretor e ele achou a idéia ótima. Mas meus pais estão ficando cansados de trabalhar nos dois lugares. Não viam a hora de eu sair pra tomar conta das lojas, principalmente a de lá. Querem trabalhar só com a daqui. Estando na coordenação não teria como eu me dedicar à loja da cidade. Então a pergunta é: Você tomaria de conta da loja  junto comigo?
_Ahhhhh… - Abro a boca sem ter o que responder. 
_Não precisa responder agora. Mas gostaria muito da sua ajuda.

***

     Passo o caminho de volta pensando na proposta do Hugo. Será  que funcionaria eu trabalhar numa loja de artigos de praia? Realmente não sei.
_Está calada. - Hugo observa.
_Na verdade vocês estão calados. - Jean completa.
_Estou pensando na proposta da loja. Não sei se me encaixo. Nunca vendi artigos de praia.
_Não é difícil. Posso contratar alguém pra ficar como vendedor. E você na parte de gerência. Estamos chegando na época das festas de final de ano. O movimento aumenta bastante e sempre contrato mais uma ou duas pessoas.
_Agora tenho realmente o que pensar. Achei que teria de vender os artigos. Não sei muito sobre isso.
_Pense que está vendendo livros. - Ele ri.
_Ah é muito parecido! - Digo fazendo troça. 
_Preciso de alguém de confiança. E você se encaixa nos altos padrões.
_Vamos fazer assim… Vou à loja com você e me explica tudo o que preciso saber. Como uma espécie de período de experiência. Depois avaliamos minha efetivação.
_É por isso que quero você. Por ser uma mulher sábia. - Ele sorri.
     O celular dele começa  a tocar e o nome da d. Sandra aparece.
_Oi mãe?! - Hugo atende no painel do carro. 
_Onde vocês estão? - D. Sandra pergunta.
_No carro. Vou deixar Diana e os meninos em casa. 
_Certo. Já comeram?
_Sim. Passamos numa lanchonete. Hoje foi o 'dia do lixo'.
_Não acredito que a Diana comeu essas porcarias! Ela não estava bem hoje de manhã. - Sinto o tom de reprimenda da d. Sandra.
_Pode deixar d. Sandra, comi salada e bebi suco, convenci até a Clara a tomar um pouco. - Resolvo me defender.
_Ah ótimo! Tudo bem então. Venham em paz!
_Daqui a pouco chegamos. - Hugo afirma.
_Ok. - Ela diz e desliga.
_Escapou de uma bronca da d. Sandra. - Ele gargalha com vontade.
_Não costumo comer esses tipos de lanche. Então sempre vou de salada ou sopa. Minha consciência está livre de gorduras trans. - Agora quem ri sou eu.
_Vocês dois estão passando bem? - Thomas pergunta. - Minha mãe levar bronca... E livre de gorduras trans?... Tinha algo diferente na comida de vocês?
_De vez enquando é bom voltar a ser adolescente Thomas. Você sentirá falta disso um dia. - Hugo sorri e pisca para mim. - Enfim chegamos! - Ele estaciona. - Foi um dia muito bom! Vamos sair mais vezes.
_Concordo. - Digo e olho para trás. - Clara até já dormiu.
_Sua ideia de todos virem prontos pra dormir foi ótima. Agora é só colocá-la na cama quando chegar.
_Fazíamos isso quando os meninos eram pequenos. É bem mais prático.
_Verdade!
_Até amanhã! E Obrigada por tudo hoje. Foi ótimo! - Agradeço e saio do carro.
_Tudo certo! - Ele se vira para os meninos. - Tchau rapazes! Durmam bem!
_Valeu Hugo! - Se despedem e saem.


***Ah!! 😍***

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De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora