O resgate

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     O vilarejo é um pouco distante da área praiana. E realmente eu não estava preparada para o que vi. Nos deparamos com pessoas na rua, um tanto desorientadas, o lugar está sujo, escuro e fede a lixo. A minha vontade é de voltar para casa, chorar e esquecer tudo aquilo, mas o alerta vem: seja forte e corajosa. Estarei contigo. 
     Nos direcionamos à casa em que algumas pessoas estão saíndo. O sr. Peres me deu instruções no carro para não encará-los ou fazer qualquer movimento que  acreditem ser de ameaça. Ele toma a frente e bate na porta da casa. Um homem de aspecto arrogante vem atender. É o tipo de pessoa que não precisa abrir a boca, só no  olhar, sentimos o desprezo dele por nós.
_Hummm! Interessante. Faz tempo que não vejo o senhor. E ainda trouxe companhia. Temos as melhores mercadorias para os nossos clientes. Seu filho pode confirmar. - Ele ri com escárnio na voz. Parece o próprio inimigo zombando da gente.
_Não vinhemos por causa da mercadoria. Queremos apenas ver meu filho.
_Certo. E o que eu ganho com isso? Se vocês tirar ele daqui, não vai continuar consumindo. Ele chegou faz pouco tempo,  talvez ainda esteja relaxando com as meninas, antes de começar a usar. - Ele olha em minha direção. - Você eu não conhecia. Esse cara não perde tempo mesmo. E ainda por cima só arranja mulher bonita. Gosta de compartilhar, linda? - Ele sorri tentando ser sensual. E eu só consigo me arrepiar de nojo.
_Olha, pago o consumo de hoje. Só me diz onde ele está. - Percebo o medo na voz do sr. Peres e começo a clamar a Deus em silêncio.
_Oook! Passa esse relógio bacana aí no seu braço. - O homem estende a mão para receber o objeto. - Está na casa ao lado no quartinho dos fundos. Aconselho as damas a não entrarem, podem ficar um tanto… chocadas. - Ele gargalha, me fazendo querer vomitar. Quando damos as costas o homem se aproxima de mim e diz baixinho.
_Ninguém pode salvá-lo, nem você.
_… Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior. (1 Timóteo 1:15) Eu não salvo ninguém, mas Jesus sim. - Digo o olhando de lado.
_Uma da igreja? - Ele gargalha alto fazendo barulho, e chamando a atenção das outras pessoas. 
     O sr. Peres me abraça pelos ombros e me puxa dali. Andamos às pressas para bater na casa indicada pelo homem. Dessa vez uma mulher aparece. Ela aparenta ser bonita, se não fosse a maquiagem tão carregada e borrada que está em seu rosto. 
_Boa noite! - Ela soa embriagada. - O que vocês vão querer? Os três juntos, mais pessoas, só assistir…
_Boa noite! - O sr. Peres pigarra e a interrompe. - Por favor, queremos ver o Hugo. Sabemos que ele está no quartinho dos fundos. E não se preocupe, pagamos a noite. 
_Ah, certo! É só entrar. Mas se mudarem de ideia me chamem. - Ela diz e sai rebolando tentando chamar nossa atenção.
     A casa é simples, e está mais limpa do que a rua. As paredes são de tons claros, mas estão meio encardidas, luzes vermelhas iluminam um pouco o ambiente deixando-o na penumbra. Parece querer insinuar sensualidade, no entanto me sinto oprimida em estar ali. Chegamos ao final de um corredor e paramos frente à porta do quartinho indicado. O sr. Peres cola o ouvido tentando escutar algo. Ele bate algumas vezes até uma outra moça abrir a porta.
_Tá ocupado. - Ela atende irritada. - E não queremos mais ninguém.
_Boa noite! Podemos ter uma palavrinha com o homem que está aí com você? - Falo já impaciente querendo sair daquele lugar.
     Ela me dá as costas e exclama alto:
_Xiii Hugo! Sua mulher veio te buscar. - Ela se vira de novo e me olha. - Só não quero barraco! Ele tá aqui por que quer, eu não chamei!
_Quem tá aí? - Hugo fala de dentro do quarto, mas a voz é meio enrolada.
     Não aguentando mais esperar, escancaro a porta, e o que vejo tenho vontade de chorar. Ele se encontra sentado numa cadeira de plástico, e na frente uma mesinha onde tem alguns tipos de bebidas e drogas. Hugo parece distante e apático. Vou andando até o seu lado e me abaixo, chamo o nome dele por duas vezes. Quando olha para mim, me reconhece, depois observa  ao redor e compreende onde estamos. Ele chora e começa falar coisas incoerentes. Peço que levante e chamo o sr. Peres para ajudar. Passo um braço por suas costas e o sr. Peres faz o mesmo do outro lado, d. Sandra guia nosso caminho, tirando os obstáculos. Ao saírmos na porta da casa, as mulheres se despedem dando até logo ao Hugo.
_Que você possa voltar para o Pai e não a este lugar, Hugo. - Falo lembrando do texto de Lucas 15:18. Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti.
     Dessa feita entramos no carro e finalmente saímos do vilarejo. Um verdadeiro alívio. Chegando na casa deles, Hugo sai do carro um pouco agitado. Tenta me agarrar dizendo que me ama. O sr. Peres o puxa e começa arrastá-lo para dentro de casa.
_Oh Diana! Quantas vezes mais isso vai acontecer? Meus nervos já não suportam. - D. Sandra me abraça e chora.
_Eu não sei. Tenho esperança que seja a última. Mas não podemos garantir. - Retribuo o abraço. - Agora preciso ir. Amanhã venho conversar com ele.
_Ah minha filha! Já tivemos tantas esperanças e conversas do dia seguinte. - Ela diz balançando a cabeça. - Não se preocupe, vá pra casa, sua mãe deve estar muito irritada.
_Estou indo. Até amanhã!
_Diana, é melhor se afastar do Hugo, hoje você pode ver com os próprios olhos que ele não é boa companhia, filha. Pense nos seus filhos.
_D. Sandra estou muito cansada pra rebater isso agora. Amanhã a gente conversa. Boa noite! - Dou um beijo em seu rosto e vou para casa.

***Mulher corajosa.***

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De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora