Quando o telefone toca

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Na manhã seguinte acordo com barulhos na cozinha e cheiro de café. Levanto, vou ao banheiro, tomo banho e escovo os dentes. Saio do quarto e vejo que todos estão acordados.
_Bom dia!
_Bom dia! - Eles respondem.
_Estava te esperando pro café. - Hugo fala terminando de colocar a mesa. - Depois vou levar Clara pra casa e ir até o hospital.
_Posso ir com você. Os meninos...
_Vão ficar bem, sozinhos. - Thomas se defende. Talvez pense que os trato como crianças.
_Eu ia dizer... Que... Vocês iriam para a Lígia... Mas se querem ficar aqui... Sem problemas! - Dou de ombros.
_Thomas foi precipitado mom. - Jean olha chateado para o irmão. - Claro que vamos pra tia Lígia.
_Então venham! Vamos tomar logo esse café e sair. - Hugo entra no modo mandão de novo.
...

Primeiro passamos na Lígia e deixamos os meninos. Só então fomos à casa dos Peres. D. Sandra já estava com o telefone na mão, ia ligar para o Hugo.
_Oi meu filho!
_Bom dia mãe! Clara já comeu. Estou indo pro hospital com a Diana.
_E vocês já comeram?
_Sim d. Sandra. Todos tomamos café em casa.
_E os seus filhos?
_Estão com Lígia. Não se preocupe.
_Certo. Então vão em paz.
_E nos dê notícias, Hugo. - Sr. Peres diz se aproximando.
_Pai? Quando você voltar vai trazer minha mãe? Ela já está boa? - Clara pergunta preocupada.
_Venha aqui filha. - Ele chama. Ela se aproxima, e ele se abaixa. - Sua mãe ainda está bem doente. Ela precisa ficar no hospital por um tempo. Hoje o papai vai tentar descobrir quanto tempo ela vai ficar lá. Certo? Aí venho te contar.
_Diz que mandei um beijo pra ela.
_Eu digo sim. - Ele a beija na testa, levanta e se despede dos pais.
...

Ao chegarmos no hospital, Hugo é bombardeado de perguntas. Não queriam dar informações a alguém que não fosse da família. Só o atenderam depois de revelar ser o pai da filha dela e mostrar documentos. O médico que a atendeu, se aproxima.

_Bom dia! - Ele nos cumprimenta. - Sou o dr. Vasconcelos.
_Bom dia! Como ela está? - Hugo pergunta agitado.
_A paciente sofreu um hematoma extradural. - Ele nos observa perdidos com o termo. - Vou tentar simplificar: houve um trauma agudo na artéria meníngea média. Nesta região. - Ele aponta para a lateral da cabeça. - Fizemos uma tomografia para ver qual a situação. Foi necessário uma intervenção cirúrgica, devido o sangramento arterial possibilitar o aumento rápido do hematoma. Agora vamos ficar monitorando. A cirurgia serve para drenar esse sangue. Mas existe a possibilidade de voltar. No termo mais simples, o estado é muito grave.
_Deus me ajuda! - Hugo passa as mãos no rosto e pescoço. - Posso vê-la?
_Não é possível visitas no momento.
_Ok! Por favor doutor, qualquer novidade no estado dela, quero ser informado. Rafaela não tem parentes aqui. - Hugo pede.
_Tudo bem! Deixe seus contatos na recepção. Estou de saída. Com licença!
_Tenha um bom dia doutor! - Cumprimento depois de todas as informações, e ele assente.
_E agora Diana? - Hugo pergunta.
_Agora é hora de exercitar a fé. É só o que posso dizer. - Dou um suspiro cansado.

************************************

Três dias se passam. Hugo e eu temos corrido contra o tempo. Ele no hospital com Rafaela, dando todo o suporte necessário, e eu com a loja. Estou resolvendo tudo praticamente sozinha. Quando surge alguma dúvida ligo para os Peres me ajudar. E ainda tem a Clara que temos tentado mantê-la confiante. Uma verdadeira loucura!

_Olá! - Hugo cumprimenta ao chegar na loja.
_Oi! Como ela está hoje?
_Pior. O quadro está evoluindo negativamente cada vez mais rápido. - Ele se joga na poltrona do escritório.
_Sinto muito!
_Venho pensando em como vai ser caso ela fique com sequelas. - Ele abaixa a cabeça entre as mãos.
_Pare de pensar no que não aconteceu. 1 Pedro 5:7 ''Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês''. Entendo que tenha medos, mas do que adianta querer prever o futuro?
_Me sinto muito cansado.
_Eu sei. Dá pra ver.
_E como estão as coisas por aqui?
_Nada que aumente suas preocupações. Tudo sob controle. Seus pais têm me ajudado.
_Fico aliviado por isso. Preciso de um café.
_E como vai ficar a situação do Diego?
_Nem me fale, ainda tem isso. Ele alega legítima defesa. Ninguém, a não ser Clara, viu a briga. Já falei à polícia o que ela me disse. Naquela noite começaram uma briga por ciúmes. Até nossos nomes foram citados. Aos poucos a discussão foi chegando na cozinha e lá ela pegou uma faca. Avançou em direção ao Diego, entraram numa luta corporal, e ele a empurrou com muita força. Foi isso. Não quero Clara em um tribunal. Ele vai responder o processo em liberdade. Bônus das nossas leis. - No momento em que se levanta para pegar o café, o celular dele toca. - Alô?! Sim, sou eu. - Hugo fica pálido e volta a sentar. - Estou indo. Obrigado.
_O que foi? - Pergunto assustada.
_Rafaela, acabou de falecer. - Ele coloca mais uma vez a cabeça entre as mãos. - Como vou dizer isso à Clara? Ela acreditava que a mãe ia se recuperar.
_Tente explicar com calma, dizendo que ela vinha piorando até não ter mais forças pra ficar.
_Preciso que você esteja comigo. Por favor, Diana!
_Tudo bem. Vá ao hospital e depois te encontro na sua casa.
_Estou indo. - Ele sai se arrastando da sala.

...

Dar a notícia do falecimento à Clara, não foi fácil. Ela chorou muito, esperneou e se jogou no chão. Acalmá-la deu bastante trabalho. Durante à noite acordou algumas vezes gritando. Pela manhã estávamos esgotados. Hugo nos consultou sobre deixar a filha ir ao velório.
_Quando eu era criança, estava presente no do meu pai. Com o tempo as imagens vão embora. Mas não sabemos como vai ser com ela. Clara viu tudo acontecer. E por exemplo, essa noite estava muito inquieta.
_É melhor perguntar a ela, filho. - D. Sandra dá sua opinião.
_Vou acordá-la, então. Pode ficar chateada por eu não ter dado a chance de se despedir da mãe.
_Vou com você. Mas não posso ir ao velório. Desde de David, não consigo.
_Eu entendo.

Clara optou por ficar com a mãe até o último momento. Ajudo a prepará-la e ir com o pai. Depois sigo para minha casa. Nas duas lojas, Hugo decreta luto de três dias. Por não ter familiares na cidade, ninguém foi ao enterro senão os Peres e Tavares. Quando tudo termina e chegam em casa, ele me liga. Atendo no segundo toque.

_Como você está? E Clara?
_Foi muito difícil ver como ela se comportou. Diana, parecia que não existia mais ninguém no mundo pra cuidar dela. Quando o caixão baixou ela se agarrou a mim com tanta força, que meus braços estão vermelhos. Está com minha mãe agora. Me sinto totalmente esgotado. Se eu dormir por dias não se preocupem.
_Sei muito bem como se sente. É melhor desligar e ir dormir.
_Vou sim. Depois a gente se fala. E obrigado por tudo, Diana. Você me deu muita força com orações e apoio.
_Apenas descanse.
...

Passados alguns dias oriento ao Hugo que procure um psicólogo para Clara. Será mais fácil ela lidar com o luto. E também a família conseguirá compreendê-la melhor tendo orientações. Passadas as duas primeiras noites depois do enterro, ela se encontra abatida, triste e não quer comer. Hugo me pede algumas vezes para eu ir vê-la. Comigo ela até conversa e come um pouco, mas logo pede que eu cante para dormir. É angustiante vê-la assim.

_Não sei mais o que fazer. Ela fala pouco, não quer comer e só dorme com minha mãe.
_Dê a ela tempo. Compreendo como ela se sente. Aos poucos vai se acostumar com a nova realidade. A ajuda psicológica será importante também. Ela só precisa saber que você está disposto a ficar e cuidar dela.
_Mas eu já garanti isso. De forma alguma vou abandonar minha filha.
_Hugo?! - Toco em seu braço para que me olhe. - Já pensou que ela tem medo de perder você também? A cabecinha dela está muito agitada e pode passar muitas coisas em sua mente. Tudo vai se encaixar, tenha fé. Lamentações de Jeremias 3:31-33 Porque o Senhor não o desprezará para sempre. Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível. Porque não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens.

***Assista o vídeo na mídia.***



De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora