O mundo gira

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     Um silêncio toma conta do lugar. Minhas pernas ficam bambas, o coração acelera, e não consigo respirar. Todos esperam minha resposta, e eu só consigo ficar olhando para ele em choque. Como se não bastasse a situação, Hugo retira do bolso e abre, uma caixinha com dois anéis dentro.
_Se não consegue falar, pode pegar o anel maior. É o que você vai colocar no meu dedo. - Todos riem.
     Estico a mão trêmula, retiro a aliança maior e ele a menor.
_Todos aqui são testemunhas do seu 'sim'. Mas preciso ouvir de você. Aceita casar comigo depois do natal? - Todos abrem a boca dizendo 'uau', 'mas já?'
_Você apenas perguntou se eu te aceitava, e não que já seria pra daqui a vinte dias! - Digo espantada.
_Alguém ali muito homem, me disse que não quer marmanjo esquentando o sofá da casa dele por muito tempo. - Thomas ergue a mão fazendo um 'legal' com o polegar, e caímos na gargalhada.
_Sendo assim… Sim!  Eu aceito casar com você no dia vinte e sete. - Estou quase explodindo de emoção.
_Vinte e sete foi quando o Espírito Santo usou você pra me resgatar.
_O começo da sua nova vida!
     Ele me dá um beijo na testa. E todos nos aplaudem.
     Logo as pessoas nos cercam para as felicitações. Minha mãe se aproxima com lágrimas nos olhos.
_Antes de qualquer coisa, quero pedir perdão a vocês. A história de ambos para chegar aqui… - Ela quase engasga. - Vocês amaram a Deus acima de tudo, pra que hoje pudessem viver esse amor como deve ser. Agora compreendo como Deus trabalhou na história de vocês. Sejam felizes meus filhos. Certamente o  Senhor os abençoará.
_Ouvir essas palavras da senhora… Fico ainda mais segura e alegre em dar esse passo, mãe!
_Está perdoada d. Ana. Sei que fez tudo pro bem da Diana. E sou muito grato por isso. Agradeço também por sua bênção. 

… 
     Ainda na instituição as mulheres me cercam para cumprimentar e planejar o casamento relâmpago. Nem eu acredito que vou casar, e em poucos dias.
_Primeiro de tudo. Onde vai ser? - Pergunta Lígia com papel e caneta na mão. - Seria perfeito na praia. - Ela brilha com a ideia.
_Eu gosto disso. - Hugo se manifesta.
_Poderia ser na sua casa d. Beatriz? Sempre sonhei com um casamento pela manhã na praia.
_Claro! Podemos fazer o cerimonial no quintal, e a recepção dentro de casa. Um coffebreack maravilhoso! - Ela se empolga.
_Eu gosto disso. - Aprovo a ideia dela.

     As ideias pipocam e todas tentamos falar ao mesmo tempo. Hugo se afasta indo conversar com os homens. Lígia vai anotando tudo no papel, que já está quase cheio. Por ser tarde, resolvemos ir para nossas casas.

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     Nos dias que se seguem não falamos de outro assunto a não ser o casamento. Convidamos apenas as pessoas mais próximas e que acompanharam nossa caminhada. Estou nervosa. Pedi ao Hugo que me liberasse da loja, cinco dias antes, a fim de resolver todas as pendências da cerimônia e do buffet. Queria fazer algo realmente simples, por não sermos mais tão jovens. Mas é incrível como mais e mais ideias vão surgindo.
     Separei um momento em meio a tudo isso para conversar com meus filhos, Clara e Hugo. Seremos uma grande família. Decidimos morar na minha casa. Vamos mobiliar o quarto de hóspedes, onde será o da Clara. Quando passar o casamento cuidaremos da decoração dele. Também conversamos sobre respeito uns com os outros. Entendo que Thomas e Jean vejam Hugo como amigo, mas peço que o respeitem como pai. Da mesma forma será com Clara, a filha mais nova terá que obedecer às regras. 

_Então estamos acertados? - Hugo arremata. - Vou trazendo minhas coisas aos poucos. Serão só roupas mesmo. A casa vou alugar. Meus pais querem morar definitivamente na praia. 
_Eu não os culpo. A vida lá é mais tranquila, e mesmo assim não fica tão longe de nós.
_Vamos continuar no mesmo ritmo. A diferença é que a loja da praia vai ficar com eles.
_E agora vamos, que a pessoa do bolo nos espera. Você tem alguma preferência de sabor?
_É sério isso, Diana? - Ele fecha os olhos. - Prefiro não me envolver. Dando pra comer, está ótimo!
_Nada disso! Deixamos Clara nos seus pais e depois vamos escolher logo esse bolo.
_Fazer o quê?!
_Deixa de reclamar. Sinta-se feliz!
_E quem disse que não estou? Por mim casava hoje mesmo no cartório e já passava pra lua de mel.
_Engraçadinho! Vai ter que esperar.
_Fazer o quê?! - Ele dá um suspiro cansado e eu caio na gargalhada.
_Deixa de drama.
_Vamos logo ver esse bolo. Não quero cair na tentação.
_Se comporte!
_Só estou sendo sincero.
_Anda logo!
     Enquanto ele dirige uma nova ideia surge.
_Gostaria de colocar uma namoradeira na decoração.
_Namoradeira? - Ele franze a testa. - Por quê?
_Foi onde aconteceu nosso primeiro beijo.
_Tem certeza que quer lembrar disso?
_Acho que sim. Naquela época me fez triste, mas hoje representa vitória. No passado foi motivo de vergonha, hoje me lembra que eu venci.
_Se você se sente dessa forma. Tudo bem! Vai ser como quiser.

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     Um dia antes do casamento recebo uma ligação um tanto inusitada.
_Alô?! - Não reconheço o número.
_Boa tarde! É a Diana?
_Quem fala?
_Oi Diana! Desculpa te ligar assim. Peguei seu número na loja. É o Douglas!
_Ah! Oi. Como você está?
_Bom… Gostaria de estar melhor… Na verdade te liguei pra pedir desculpas. - Ele pausa, suspira e respira. - Vou falar logo tudo senão perco a coragem… Quero te pedir perdão por não ter ficado ao seu lado quando os problemas na editora começaram. Eu acreditava em você, mas tinha medo de perder o emprego. E acabei perdendo.  - Ele ri nervoso. - Você sempre foi uma pessoa de confiança, super do bem e não merecia ser tratada daquele jeito. Se você tivesse continuado na editora, com certeza não teriam quebrado. Você soube o que aconteceu?
_Calma Douglas! Primeiro, nunca dei motivos pra me tratarem como fizeram. Foi decepcionante. Mas me recuperei e hoje estou bem.
_Fiquei sabendo.
_Segundo, não tenho notícias da editora desde quando saí. Quebraram, por quê?
_Milena. Ela cometeu várias falcatruas na empresa. Roubou o sr. Jonas durante o ano todo, até deixá-lo sem quase nada. As pessoas buscavam  alertar, mas ele não acreditava. E aí ela tentou subornar o contador, ele a denunciou e foi uma confusão. Encurtando a história… Ela está presa por várias acusações.
_Isso é triste Douglas. Nunca desejei mal ao sr. Jonas.
_Todo mundo sentia sua falta. Ela ficou louca depois que assumiu tudo. Ninguém podia nem respirar. Estava insuportável.
_E como está o sr. Jonas? Você? E o resto do pessoal?
_O sr. Jonas está numa depressão profunda. Não quer ver nem falar com ninguém. Eu e o pessoal recebemos nossas contas e fomos mandados embora.
_Nossa Douglas! Não sei o que dizer, de verdade.
_Logo você que sempre foi boa com palavras. - Escuto um sorriso triste. - Refletindo bem, agora posso enxergar que a empresa crescia porque Deus estava com você, Diana. A gente era feliz e não demos valor. Perdão… Mãezinha!
_Está perdoado Douglas. Espero que seja feliz. Busque a Deus e encontrará tudo o que precisa nEle.
_Obrigado! - Ele pausa. - Soube que vai casar.
_Sim. Lembra da história do meu primeiro beijo?
_O que foi uma aposta?
_Pois é. Amanhã vou receber o prêmio dessa aposta, casando com ele. - Dou risada.
_Sério Diana? Vai casar com o primeiro cara de quem gostou?
_Exatamente.
_Mas ele está dentro dos seus padrões?
_Sim. Está!
_Então sejam muito felizes. Que o seu Deus possa cuidar de vocês.
_Tenha certeza que Ele cuida e continuará cuidando muito bem. A Bíblia diz: Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você. Salmos 32:8. E se você permitir, esse mesmo Deus pode mudar sua vida também. 
_Você é incrível! - Ele ri. - Até outro dia mãezinha!
_Até outro dia Douglas. Encontre a verdade e seja feliz.
_Até mais!
… 

De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora