O passado se torna presente

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     Na manhã seguinte pegamos a estrada por volta das 8h. Queríamos chegar cedo para aproveitar ao máximo. Assim que descemos do carro, Lígia também encosta. Percebemos nossos pais dentro da casa, por conta  das risadas que ouvimos.
_Bom dia! A conversa parece animada lá dentro. - Falo indo em direção a Lígia.
_Bom dia! Estão atualizando os assuntos. Talvez falando da nova professora de hidroginástica. - Lígia diz com um sorriso matreiro.
     Depois dos cumprimentos, entramos.
_Olaaaá! Será que tem gente animada por aqui? - Lígia entra gritando.
_Bom dia filha! Estamos na cozinha. - Responde sr. Lúcio, pai dela, também em alta voz.
_Você tem a quem puxar Lígia, falando alto desse jeito. - Breno diz balançando a cabeça em direção ao sogro e sorrindo.
_Bom dia à todos! Sua bênção mãe. - Falo em direção a ela que está sentada perto do balcão.
_Bom dia Diana! Está vendo Lígia, Diana ainda pede a bênção da mãe. E você não faz mais isso. - Reclama o sr. Lúcio.
_Para com isso Lúcio, não começa. - Ralha d. Beatriz, mãe da Lígia.
_Oh pai! Pelo menos ainda digo que te amo. - Ela se aproxima do sr. Lúcio e o beija no rosto - Já vamos subir e colocar as malas nos quartos. - Fala se retirando de fininho.
_Boa estratégia de fuga. - Digo baixinho só para ela ouvir.
_Tudo o que ele quer é ser o centro das atenções. Tiro isso de letra! - Ela me responde subindo as escadas.
     A vista dos quartos dá em direção a praia. Tenho uma sensação de bem estar ao ver o mar da varanda. Amo sentar aqui e observar a força das ondas. É incrível quando elas quebram, porque mesmo vindo com tanto vigor sabem onde parar. Me considero uma privilegiada por ter oportunidades como essas, de poder observar as obras maravilhosas das mãos de Deus.
     Arrumo o quarto colocando nossos pertences nos seus lugares. Os meninos andam pelos cantos da casa cheios de segredos e mistérios, assim como eu e Lígia quando tínhamos a idade deles.
     À tarde, antes do pôr do sol, resolvo caminhar na praia. Coloco um maiô estampado de folhas, verde-escuro. Visto por cima uma saída de praia branca, estilo envelope na altura dos joelhos e feita de crochê.
     Gosto muito de caminhar sem chinelos na areia, me dá a sensação de obstáculo a ser superado. Pensando nisso e olhando o chão, sou literalmente parada por uma barreira. Não é tão dura quanto uma pedra, mas que me faz voltar e quase cair. Por bem a mesma tem braços e  me segurou pelos ombros.
_Ah! Desculpa eu estava distraída. - Peço ainda sem olhar a pessoa.
_Tudo bem! Os dois não estavam atentos. - Diz ainda me segurando.
_Hugo? - Pergunto totalmente surpresa.
_Oi Diana! Como vai? - Ele sorri.
_Ahhh… Vou bem! - Por que isso ainda acontece? Argh!
_Que bom! Veio passar o natal na casa dos Tavares?
_Sim. Estão todos aqui. Vamos ficar o natal e a entrada do ano novo. E você está com a sua família? - Falo disparando tudo de uma vez.
_Meus pais e minha filha. Terminei o namoro há um ano.
_Não sabia. Sinto muito!
_Não tem problema. Minha ex permitiu que a Clara passe o natal comigo. Ela vai ficar com a menina na entrada do ano novo em outro lugar.
_Entendo. Bonito nome, Clara! Quantos anos ela tem?
_Oito anos.
_Quase uma mocinha. - sorrio pensando em como deve ser a menina.
_O tempo passa depressa. Seus filhos devem ter crescido bastante também. Já são adolescentes?
_Sim! Thomas tem quinze anos e Jean, treze.
_Imagino a dor de cabeça por conta da idade. Adolescência é fogo!
_Sabe, sou muito abençoada com os meninos. Eles não me dão tanto trabalho. São amigos entre si, gostam de conversar comigo, e têm prazer de estar na igreja. Então, essa 'adolescência fogo' eu pelo menos, ainda não percebi.
_Você sempre foi boa filha. Obediente, nunca saía das regras. Eu lembro disso. Talvez os garotos herdaram sua genética, e atrelado a isso, com certeza você sabe ser uma boa mãe.
_Na adolescência descumpri sim algumas regras, foram sucientes pra me fazer perceber que não valia a pena quebrá-las. E quanto a ser boa mãe, só vou ter a certeza mais tarde. - Digo dando de ombros.
_Puxa! Essa eu mereci. - Diz passando a mão na nuca.
_Ainda preciso aprender muitas coisas. Uma delas é fechar a boca de vez enquanto. Quem tem conhecimento é comedido no falar, e quem tem entendimento é de espírito sereno. Até o insensato passará por sábio, se ficar quieto, e, se contiver a língua, parecerá que tem discernimento. Provérbios 17:27,28.
_Não pode deixar de citar a Bíblia em uma conversa. Sempre admirava isso em você.
_Não sabia que admirava alguma coisa em mim. - Digo franzindo a testa.
_Na verdade apreciava muitas coisas em você, só não sabia dizer ou demonstrar isso. Então não falava nada ou apenas fugia!
_Nunca imaginei. De verdade. 
_E no momento também não sei mais o que falar. - Sorri desconcertado - Você está ainda mais bonita do que naquela época!
_Ai, me senti velha agora! - Falo querendo quebrar o clima estranho - Obrigada?!
_De forma alguma se sinta velha. Mal parece estar chegando aos quarenta!
_Certo. Vamos parar por aqui. Nunca soube receber elogios, então por favor…
_Tudo bem Diana. - Fala me cortando. - É melhor mesmo eu ir andando. Clara me espera pra ter aulas de surfe.
_Sério que ela surfa?
_Está querendo aprender.
_Uau! Admiro quem encara o mar sobre uma prancha. Queria ter coragem, mas não sei nem nadar. E ela tão novinha já quer se aventurar.
_Quando se é novo o perigo parece sedutor, atraente, e se não temos limites nos deixamos levar. É bom aprender conhecer o mar, mas ninguém pode brincar com ele. - Hugo fala olhando as ondas de forma pensativa, depois volta a me olhar. - Sério que não sabe nadar? Costumava vir nas férias com Lígia, nunca aprendeu? O que foi? - Ele pergunta após me ver com cara de espanto.
_Não sei! Só estou impressionada. Nunca conversamos muito e ainda assuntos tão pessoais. O tempo fez bem a você. 
_Apanhei demais na vida Diana, quase morri. Até cansar e tentar ser útil em alguma coisa. Mas isso é assunto pra outro dia. Clara deve estar impaciente.
_Tudo bem. Foi muito bom falar com você.
_Verdade! Foi ótimo te ver. A gente se esbarra por aqui. - Diz zombando.
_Espera! É você mesmo quem está dando as aulas de surfe?
_Sim sou eu. Inclusive tenho duas lojas de pranchas e artigos de praia. Uma aqui e outra na cidade, façam uma visita lá!
_Pode ser! Você tem algum horário livre? Acredito que os meninos gostariam de aprender a surfar.
_Seria ótimo, mas preciso ver os alunos já inscritos. Poderia me dar o seu número, e aí mando uma mensagem avisando. - Ele afirma já tirando o celular do bolso.
_Acho que se você tiver algum cartão seria melhor. Dessa forma eu entro em contato.
_Certo. Tenho um aqui. Preciso mesmo ir.
_Tchau Hugo. Dê um 'oi' para seus pais.
_Tchau Diana! Até mais.
_Até mais - Grito observando-o se afastar. - Lígia a gente precisa conversar. - Murmuro quase correndo em direção a casa.

***Tantas emoções.***

***Veja o vídeo.***


De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora