Triste madrugada

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     Uma semana passa, e até que consigo  entender como funciona a loja do Hugo. Ele contratou uma jovem para ficar no período de alta estação. No total somos cinco. 
     Hugo, Thomas e Jean viraram os três mosqueteiros. Querem sempre andar juntos. Eu e ele também nos aproximamos bastante, devido o trabalho.
_Hoje encerramos por aqui. - Ele diz fechando o notebook.
_Que bom! Por que estou realmente cansada. Não paramos um instante nos últimos dias.
_E ainda não chegou dezembro!
_Diz isso tentando me animar? Por que agora não está conseguindo. - Dou um sorriso. - Talvez depois de um final de semana de descanso eu fique bem feliz com os seus lucros. Como seus pais conseguiam cuidar das duas lojas?
_Com a ajuda da Tici. Na praia podiam contar com ela e eles ficavam aqui.
_Entendi. Bom! Vou pra casa. - Digo me levantando.
_Obrigado mesmo Diana, você pegou o sistema rápido. Na próxima semana vou te deixar sozinha. Disse ao diretor que vou começar a trabalhar lá.
_Já vai deixar a funcionária se virando sozinha? E se eu errar? Hugo ainda é cedo!
_Você está preparada. Qualquer coisa peça ajuda. Não se preocupe.
_Ah tá! Simples assim. - Digo rindo de nervoso. - Deixa eu ir embora. Até domingo na igreja.
_Até domingo!

***

     Por volta das 2h o telefone toca insistente. Quando pego para desligar a ligação e deixá-lo no silencioso, vejo o nome do Hugo. Atendo no mesmo instante.
_Alô?!
_Diana…  - Ele para.
_O que aconteceu?
_Acabei de receber uma ligação da polícia…  Rafaela foi levada às pressas pro hospital… Estou indo pegar a Clara.
_Por quê?... Calma Hugo! Assim você não vai conseguir dirigir. O sr. Peres tem como te acompanhar?
_Não sei! Estamos muito abalados! Diego e Rafaela… tiveram uma briga feia…  Na casa dela… ela atacou com uma faca… ele quando foi tentar se defender a empurrou… ela bateu a cabeça com força na quina de um móvel e desmaiou… Ainda não tornou… o estado é muito grave.
_Meu Pai… Hugo! Ninguém sai daí até eu chegar. Levo você pra pegar a Clara. - Vou conversando com ele enquanto coloco uma roupa. - Com quem ela está?
_Com a vizinha… Está muito assustada. Os vizinhos chamaram a polícia depois de ouvir os gritos da minha filha.
_Estou dirigindo! Tenta manter a calma. Vamos pedir a Deus que tudo acabe bem. Clara vai precisar muito de você nesse momento. Rafaela também.
     Depois do que parece ser um longo silêncio, ouço novamente sua voz. 
_Estou angustiado! Salmos 38:8 Sinto-me muito fraco e totalmente esmagado; meu coração geme de angústia. - Hugo recita.
_Salmos 77:2 Quando estou angustiado, busco o Senhor; de noite estendo as mãos sem cessar; a minha alma está inconsolável! - Eu respondo.
_Salmos 142:2 Derramo diante dele o meu lamento; a ele apresento a minha angústia. - Ele declama.
_Salmos 120:1 Eu clamo pelo Senhor na minha angústia, e ele me responde. - De novo respondo.
_Obrigado!

     Desligo o carro e desço. Me deparo com os três me esperando na porta de casa. Hugo anda rápido em minha direção e me abraça.
_Vamos! Os policiais estão esperando. Meus pais vão ficar. Precisam se acalmar pra receber Clara. - Hugo fala indo em direção ao carro.
_Você me diz como chegar lá. 
_Certo! Obrigado por vir. Precisava de alguém.
_Está tudo bem! Gálatas 6:2 Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo.
_Me ajudou muito recitar os salmos. Me sinto um pouco mais calmo.

     Ele me orienta em como chegar à casa. Ao entrarmos na rua, avistamos duas viaturas e alguns curiosos. Não conseguimos ver a menina logo de início. Encosto e Hugo salta antes do carro parar. Desço e ele já está dentro da casa.
_Claraaa! - Escuto ele chamar.
_Pai! - Ela responde e sai correndo da sala na direção dele. - Pai. Tenho medo… Eu quero minha mãe. - Ela chora muito.
_Calma filha! Deus está cuidando da sua mãe. Vai ficar tudo bem! - Ele diz emocionado, e os dois se abraçam forte.
     O policial se aproxima de mim.
_Boa noite! Sou o sargento Clóvis.
_Olá! Sou Diana Campos.
_Tem algum parentesco com o pai da menina?
_Não. Somos amigos, ele me ligou. Estava muito nervoso pra dirigir até aqui.
_Ok! A mulher está no hospital em estado grave. - Ele olha os dois conversando baixinho. - É pouco provável que sobreviva.
_A pancada foi tão forte assim?
_Ela não tornou em momento algum. Estava sangrando muito.
_A criança viu tudo?
_Quando chegamos a tiramos de perto da mãe. Mas não queria sair, chorava e gritava bastante.
_Meu Deus! E onde está o homem que a feriu?
_Foi levado para a delegacia, prestar esclarecimentos. Como é advogado, talvez escape.
_Entendi. Vou levá-los daqui. - Aponto Hugo e Clara. - Posso?
_Pode sim!
_Com licença.

     A cena é de cortar o coração. Clara parece cola, grudada no pai.
_Oi linda! - Me abaixo para falar com ela. - É melhor a gente ir. Sua mãe está sendo bem cuidada. E você precisa descansar.
_Foi muito feio, Diana! Horrível. - Ela fala entre soluços.
_Só posso imaginar, linda! Vem comigo!
_Posso dormir com você e o meu pai? - Ela olha para nós dois com os olhos vermelhos e inchados.
_Diana não pode Clara. Os filhos dela estão sozinhos.
_Posso dormir na sua casa, Diana?
_Claro linda! Vamos pra minha casa. Vai ser melhor. - Toco na perna do Hugo para que ele me olhe. - Você pode dormir com ela lá.
_Não quero incomodar. E tenho que ver primeiro com meus pais.
_Você liga quando chegar. Eles não estão bem também. Vocês descansam na minha casa e amanhã vai ao hospital vê-la.
_Não tenho nada de roupas.
_Vai dar tudo certo. Vou pegar roupas dela aqui e os meninos podem te dar alguma coisa lá. Venham!
… 

     Quando chegamos na minha casa, levo Clara para tomar um banho. Em algumas partes do corpo tem sangue ressecado. Lavo seus cabelos. Aos poucos ela vai parando de chorar e se acalmando. Quando a gente sai do banheiro Hugo está conversando com os meninos, explicando a situação. Thomas e Jean dão à pequena um sorriso solidário. Peço que saiam para ela se trocar. Eles levam Hugo a um banho e roupas limpas também. A criança se veste e eu começo a desembaraçar seus cabelos. Canto baixinho louvores calmos.

_Sua voz é tão bonita!
_Obrigada linda! Sempre gostei de cantar.
_Quando eu crescer quero cantar assim.
_E você pode! A Bíblia diz em Salmos 150:6 Tudo o que tem vida louve o Senhor!
_Diana?!
_Hum?!
_Minha mãe vai morrer?
_Melhor não pensarmos em coisas ruins. Precisamos ter fé e esperança em Deus que ela vai ficar bem.
     Escuto leves batidas na porta.
_Pode entrar!
_Com licença. - Hugo aparece. - Liguei pros meus pais. Eles estão mais calmos.
_Que bom! - Dou um beijo na cabeça da Clara. - Terminei com seu cabelo linda. Agora vamos dormir.
_Eu não estou com sono. - Ela choraminga.
_Está com fome?
_Sim. Não comi, porque minha mãe começou a brigar com o Diego.
_Vou fazer um chocolate quente com torradas. Gosta?
_Hum-hum. - Ela balança a cabeça afirmando.
_Então seu pai fica aqui com você enquanto preparo tudo.

     Saio do quarto e vou à cozinha preparar o lanche. Passo pela sala e os meninos ainda estão sentados no sofá.
_Mom?! A senhora precisa de ajuda? - Pergunta Jean.
_Vocês podem ficar um pouco com os dois e distraí-los. Vou fazer um lanche. Clara não comeu e está com fome.
_Deve ser difícil vida a dessa menina. - Diz o observador Thomas.
_Parece que sim. Mas vamos orar pra que tudo fique bem.
_Vamos lá no quarto. - Jean puxa Thomas pela mão. - E mom?! Faz lanche pra gente também? Estou com fome. - Ele passa a mão na barriga.
_E quando vocês não tem fome? Basta estarem de olhos abertos. - Entro na cozinha balançando a cabeça.

     Preparo comida para todos. Encontro um copo alegre, cheio de carinhas sorridentes e coloridas, separo esse para Clara. Decoro as torradas dela, com creme de queijo no formato de rostinhos felizes. Vou até o quarto e convido todos para a mesa. Mesmo que na minha cama tenha espaço para todo mundo, não quero dormir em cima de migalhas.
     Sentamos e damos graças. Clara gosta dos rostinhos e do copo. Parece melhor, ri das piadas malucas do Jean e esquece um pouco da triste situação. Quando terminamos encaminho pai e filha ao quarto de hóspedes.
_Podem ficar à vontade.
_Diana, canta um pouco pra eu dormir?
_Tudo bem!
     Resolvo contar a história da rainha Ester. Ela foi escolhida para ser rainha pelo o rei Assuero. Porém seu povo começou a ser perseguido, ela teve atitudes de fé e creu que Deus poderia salvar sua vida e a de seu povo.
_Ela lutou contra os inimigos? Pegou em armas?
_Não! Ester usou a oração e a fé. Ela pediu que todos do seu povo orassem e jejuassem, ou seja, ficassem sem comer por três dias, somente orando e clamando a Deus para que tudo desse certo. E deu.
_Espero que tudo dê certo com minha mãe também.
_Vamos orar e ter fé.
_Mas eu não sei fazer isso.
_Podemos te ensinar filha. - Hugo se manifesta. - Vamos crer no Deus de Ester. Que salvou a vida do povo. Ele tem poder pra salvar a vida da sua mãe também.
_Hum-hum. - Ela assente.

     Após orarmos com Clara e cantar dois louvores. Ela dorme. Olho para o Hugo do outro lado e vejo que apagou também. Decido sair do quarto na ponta dos dedos para não acordá-los.

De volta ao (primeiro) amor - COMPLETO 🥇🥇🥈Onde histórias criam vida. Descubra agora