LIPS I KISSED|Siyoon

017

Chegou o momento mais difícil, Heyoon disse para si mesma mais tarde ao se aproximar do escritório de Sina. Teria que deixá-la.
A mesa da secretaria se encontrava vazia. Heyoon bateu a porta.

-Entre- Sina convidou.

-Heyoon!- Sina exclamou, espantada quando ela entrou.

-Olá- Heyoon fechou a porta e parou, hesitante ao lado da mesa dela. Parecia adequado terminar o relacionamento no mesmo lugar onde elas começaram algumas semanas antes.

-Como foi a sessão? O cliente apareceu?- Sina perguntou, se levantando e deixando um beijo rápido em seus lábios.

-Sim- ela respondeu sem jeito, se lembrando dos momentos apaixonados que tinham acabado de viver.

A notícia da promoção caiu como uma bomba, mas com um cliente prestes a chegar, não teve alternativa senão adiar a conversa agradável.

-Quero falar com você- Heyoon pediu, procurando controlar o tremor em sua voz.

-Claro, sente - Sina convidou, intrigada pelo tom sério de sua voz.

Heyoon deu a volta para se sentar e percebeu o olhar de Sina observando suas roupas, uma calça jeans clara modeladora e uma camiseta sem mangas, simples e confortável. Ela se vestiu daquela maneira para deixar clara a diferença entre quem era e quem Sina a obrigava a ser. Não havia mais papel a representar.
Sem dúvida, ela não se encaixava naquele mundo. Na verdade, Sina a via como uma ameaça a sua vida segura. Sina só confiava nela com seu corpo, não com suas emoções ou seu coração. Sentia que Sina considerava indigna de sua confiança.
Sina a procurava pelo sexo e nada mais. Desde que Sina a deixou, na hora do almoço, tentava aceitar esse fato. Queria ficar com ela e afastar a dor de nunca vê-la outra vez, mas sabia que o preço era alto demais.

-Então, o que aconteceu? - Sina perguntou cautelosa.

-Agora que você conseguiu a promoção, não precisamos mais fingir.

-Fingir?- Ela repetiu após a olhar por um tempo.

-Essa história de noivado- Heyoon explicou, proferindo as palavras com dificuldade, estava determinada a não mais enganar a si mesma, pois havia limites para o sofrimento que seu coração podia suportar.

-Certo- Sina murmurou após uma pausa- Se é isso que você quer. Assim não precisa mais se aborrecer com meus assuntos profissionais.

Heyoon a observou com tristeza e percebeu o alívio em seu olhar.

-Tudo bem, então. Vou começar a fazer os pagamentos do empréstimo no mês que vem. Talvez a gente se vê por aí.(n/a: esse talvez a gente se vê por aí doeu em mim assim como doeu na Heyoon como já disse as vezes me identifico muito com a Heyoon dessa história e essa foi uma das frases que também usei pra finalizar algo que significava muito pra mim...)

-O nosso noivado acabou, mas isso não quer dizer que a gente não possa se encontrar.

-Por quê? Não há futuro para nós. Não sou a esposa ideal para uma executiva e aborreço seu chefe.

-Isso não tem nada a ver com ele- Sina disparou irritada.- Podemos namorar. Não é da conta de ninguém com quem eu saio fora do trabalho.

Heyoon a fitou, espantada pelo tom irônico em suas palavras. No começo, Sina saia com ela apenas por causa do trabalho. Agora queria se relacionar com ela às escondidas. Sina a veria, transaria com ela, mas acharia outra acompanhante para os eventos profissionais, Heyoon constatou com raiva.

-Acho que não- Heyoon concluiu finalmente- Que motivo teríamos para fazer isso?

-Se essa tarde significou alguma coisa, nos temos razões de sobra para nós vermos. Nas minhas contas tinham três razões.

Heyoon sentiu seu sangue subir a cabeça. Que idiota! Deveria saber que ela iria usar o sexo contra ela.

-Não- ela disparou, se erguendo e a encarando- Não vou ter um relacionamento às escondidas com você!

-Não fale como se estivéssemos traindo alguém. Somos adultas. Não interessa a ninguém se dormimos juntas.

-Olhe, você não entende nada. Para mim não é só uma questão de sexo. Eu... gosto de você!- Heyoon confessou tentando controlar o tremor que a percorria- Mas você não pode me dar seu coração. Ele já pertence ao seu trabalho. Você se vendeu...

-Você está me dando um fora. Me deixando na mão de novo- tornou Sina furiosa sem reagir a confissão dela- Isso não tem nada a ver com meu trabalho. Você acha que sou idiota? Para que quer que eu entregue meu coração? Isso não passa de uma aventura para você, não é mesmo? Seus outros namorados confiaram em você, e onde estão agora?

-É seu trabalho, sim! Você está obcecada. Aterrorizada com a possibilidade de não escalar os degraus do sucesso profissional. Isso esta te consumindo. Você teve uma infância difícil...

-Isso é ridículo!- Sina esbravejou se erguendo também- Minha infância nada tem a ver com sua recusa em me ver.

-Certo. Acredite no que quiser.

-Então é assim? Você está indo embora?

Heyoon já estava a meio caminho da porta quando as palavras exigentes de Sina a fez parar.

-O que mais posso fazer?

-Os seis meses ainda não passaram!- Ela gritou- E você está tirando o time de campo. Fugindo!

-Nada disso. Eu vou trabalhar no estúdio e pagar minhas contas.

-Então é só de mim que vive está fugindo!- Sina acusou furiosa.

-Não! Eu fiz minha parte, você conseguiu sua promoção. O jogo acabou.

-É verdade. E você saiu com muitas vantagens dele, não é mesmo? Além das evidentes recompensas físicas.

-Do que você está falando?- Heyoon vociferou,com o coração partido.

-Você usou minha influência e minhas conexões em benéfico do seu estúdio. Quem lhe apresentou Emma Fuller? Eu! Quem conseguiu o contrato do clube feminino? Emma.

-Não seja estúpida! - Heyoon reagiu furiosa se contendo para não a bater- Trabalhei duro para isso. Posso ter conhecido Emma através de você, mas foi a minha capacidade e o meu portfólio que me conseguiram trabalho.

-É o que você pensa. Emma e o marido me conheciam. Você acha que eles iriam procurar seu negócio se não fosse assim? É assim que funciona o mundo dos negócios.

-É triste pensar que você acredita nisso. Você se vendeu para o emprego. Vendeu sua integridade por esse cargo, pela segurança que precisa tão desesperadamente. E, se continuar aqui, vai acabar perdendo a alma também!

-Que bobagem é essa? - ela a fitou hostil.

-Veja o que esse emprego está fazendo com você. Você é uma pessoa honesta e confiável. E veja como está vivendo. Você fez coisas para conseguir essa promoção que vão contra seu caráter.

-Isso é um absurdo.

-Ah, então sempre mente para os amigos e diz que está noiva de uma mulher que mal conhece? Você sempre bajula pessoas que não respeita?

-Cale a boca! Eu mereci esse cargo, me matei de trabalhar por ele.

-MAS NÃO FOI POR ISSO QUE VOCÊ CONSEGUIU- Heyoon gritou- FOI PORQUE JOGA GOLFE. PORQUE ESCONDE SEUS VERDADEIROS SENTIMENTOS. PORQUE SABE JOGAR O JOGO.

-Tudo que vale a pena conseguir exige sacrifícios- Sina justificou com raiva.

-Não, não esse tipo de sacrifício. Não quando se tem que trair a própria natureza todos os dias.

Sina a encarou do outro lado da mesa, o rosto endurecido como uma máscara de gelo.

Nervosa, Heyoon enxugou as lágrimas que desciam pelo seu rosto.

-Talvez você queria viver assim, se vendendo em troca de segurança, mas eu não vou ficar aqui para assistir.

Heyoon deu meia volta e saiu correndo da sala.

^_^

A vida nem sempre é um mar de rosas. Às vezes ela nos derruba, nos machuca, nos despreza. Por quê? Por que ela é assim! A vida não é sempre justa! Uma hora você ganha, outra você perde, assim são as coisas...