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-Então você quer que eu ajude a denegrir a imagem de Stevenson?- Sina indagou devagar.

-Eu não usaria essas palavras- Simon retrucou, contrariado- Ele está numa situação difícil porque não consegue realizar seu trabalho. Sua unidade está afetando todo mundo, puxando todos para baixo.

-E você quer que meu relatório torne as coisas ainda piores para ele? - Sina concluiu com uma estranha calma.

Desde que assumiu o novo cargo, conseguia ver o jogo empresarial sendo jogado com uma perspectiva totalmente diferente. Infelizmente, o jogo não lhe agradava nem um pouco.

-Eu só disse que você deve enfatizar os problemas de produção que ele está causando- Simon falou irritado- Mas o relatório é seu. Escreva o que quiser.

-Obrigada.

-Você está no cargo há pouco tempo e talvez não perceba o quanto é importante responsabilizar a pessoa certa. Entre a minha cabeça e a dele, prefiro que seja a dele.

-É claro- Sina concordou com uma ironia que Simon não captou.

-E nesta empresa é preciso cuidar dos amigos- Seu ex-chefe concluiu significativo.

Que amigo era aquele, que tratava os funcionários daquela forma?

-Pense a respeito- Simon sugeriu se levantando.

Sina observou enquanto saia e pensou  no quanto o homem a desagradava.

As suas costas, os raios de sol atravessavam as janelas do novo escritório e se refletiam sobre a enorme escrivaninha. Desde que assumiu o novo cargo, passou a maior parte da semana viajando. Albuquerque, Wilmington, Seattle. Sempre uma série de reuniões aborrecidas, quartos de hotéis impessoais, comida ruim. E sem Heyoon para ligar ou para esperá-la em casa.
Como nova Vice-presidente tinha que conhecer seus novos funcionários. Mas as viagens não eram a parte parte do cargo. Noite após noite, ouvia a voz de Heyoon falando sobre sua integridade, se lembrava de seus olhos castanhos marejados de lágrimas.
Nas quatro ultimas semanas desde que assumiu, havia sido chamada várias vezes para endossar práticas nas quais não confiava totalmente. Quase como um político, tinha que manter as linhas de comunicações abertas entre ela e seus colegas, não apenas por sua causa, mas também por causa de seus subordinados, as pessoas que confiavam nela. Por eles, muitíssimas vezes tinha que ceder em vez de impor sua opinião.

Nesse período, Sina contratou Michael Topher, seu ex colega, agora consultor autônomo. Para sua surpresa, contudo, suas conversas giravam principalmente sobre as atividades de Michael e não sobre as próprias. Segundo informações do amigo, o ramo de consultoria não era tão instável quando ela imagina.
Sina analisou o relatório a sua frente e se perguntou desde quando começou a ficar desanimada com seu emprego. Durante anos de trabalho árduo sempre tentou se convencer de que teria tempo para formar uma família. Mas ali estava ela, sem um dia sequer para descontrair. Não havia espaço para lazer, para uma família. Não era assim que queria criar seus filhos.

O telefone em sua mesa tocou.

-Sina Deinert.

-Ei, que tal ser a chefona?- Sabina indagou rindo.

-Olá, Sabina.

-Pois é amiga, agora você está aí em cima, estou com vontade de lhe fazer um favor.

-É mesmo? Que surpresa- Sina retrucou secamente.

-Pois é amiga. É que sou uma sujeita legal.

-E que favor seria esse?

-Achei que, já que terminou com a linda e maravilhosa Heyoon, você gostaria de substituí-la.

-Do que está falando?- Sina replicou mais irritada do que pretendia.

-Uma acompanhante. Quer dizer você tem que levar alguém nesses eventos com os figurões e andei conhecendo umas candidatas ótimas.

-Não, obrigada- A ideia de sair com outras mulheres a fez se sentir mal.

-Tem certeza? Pense a respeito-Sabina sugeriu- São garotas muito apresentáveis se é que você me entende.

Sina entendia e se sentiu enojada com a interferência.

-Escute, Sabina, ando meio sem tempo agora. Não posso sair com ninguém.

-Tudo bem, mas que o puder me avise.

-Claro. Escute, eu ligo para você depois. Estou terminando um relatório urgente.

-Está certo amiga. Vamos jogar golfe qualquer dia desses.

Sina desligou, sentindo as mãos suadas e um nó no estômago.Como se pudesse substituir Heyoon como uma lâmpada queimada, simplesmente eliminá-la de sua vida e colocar outra mulher em seu lugar!
Em instantes, uma imagem se formou em sua mente: Heyoon esperando por ela em casa, segurando um bebê no colo, e mais um ou dois sentados à seu lado, loiros, morenos com feições coreanas. A insubstituível Heyoon, com seu sorriso maravilhoso e olhar brilhante.

Sina olhou para parede a sua frente sem enxergar coisa alguma. Sentia falta de Heyoon. O período da noite era ainda mais difícil. Inúmeras vezes pegou o celular para ligar para ela. Heyoon não a rejeitaria, não se recusaria a ouvi-la. Contudo, sempre desistia ao se lembrar das lágrimas, das palavras que a acusavam de vender sua alma em troca de segurança.

LIPS I KISSED|SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora