Capítulo décimo terceiro

26 5 11
                                    

— SOCORRO! — Valentina se debatia na cama, ferindo os seus pulsos.  — SOCORROOOO!

— Valentina. — O homem se virou. — Você não se lembra de mim. — Ele sorriu. — Do Pelourinho?

Ao ouvir aquelas palavras sua mente voltou alguns dias no tempo e finalmente conseguiu associar o rosto do homem ao seu nome. Ela percebeu que era Francisco e parou de se debater.

— O moço barro? 

Ela baixou levemente a guarda, mas o medo de ser violada não tinha sumido de sua mente, não por completo.

— Sim. — Ele riu.  — Eu sou da polícia. — Valentina chorou de alívio. — E eu juro que vou te salvar, tá?

— Moço. — Francisco se levantou e começou a soltá-la das cordas. — Me tira daqui! — Ela começou a chorar. — Tem uma… — Soluçou. — Tinha a Laura e… — Massageou a mão esquerda que acabara de ser solta. — E também tem a Tina… — Francisco soltou a perna esquerda, já comovido com o desespero e choro da garota. — E também tem a Joana… — Acelerou o ritmo e rapidamente soltou o sua mão e perna direita. — E aí… — Ela se sentou na cama ainda soluçando. — Moço…

— Calma. — Ele abraçou a criança que mal conseguia completar uma frase. — Tá tudo bem agora.

Valentina apertou o policial com toda a sua força, o que não era muito. Francisco não sabia o que fazer direito, então ficou pensando na frase de Valentina. "Tinha a Laura… tem a Tina… tem a Joana…" ele então martelou em sua cabeça "Tinha a Laura?" O que será que aconteceu com ela? Não conseguiu mais pensar sobre o assunto quando Valentina voltou a falar:

— Moço… — Ela o olhou de baixo para cima. — A gente vai sair daqui agora? — Ela sorriu com os olhos marejados. — Já posso ver Mami e meu pai agora? — Ela voltou a enterrar a cabeça no corpo dele. — Tô preocupada com eles… — Francisco fez um cafuné. — Sem mim eles vão se separar, moço. — Ele apertou o abraço. — Não posso deixar isso acontecer.

O silêncio dominou o local. Ele não conseguia reunir as palavras, e nem tinha força o suficiente para mover a língua e acabar com toda a felicidade depois de tanta desgraça que ela passou, desgraça essas que ele não conseguia nem imaginar. No momento em que ele abrisse a boca e ela ouvisse um "Olha… você precisa continuar" não ia aguentar ver a menina desabando novamente, não quando ele seria aquele que acabaria com suas esperanças.

— Valentina… — Ele hesitava em falar e ela continuava abraçando ele. — Quem é Laura?

— Ela era uma menina muito barro. — Abraçou ele mais forte e a voz chorosa voltou. — Mas aí eles mataram ela…

Ele não quis insistir mais no assunto, sabia que a menina morreu nesses dias em que a Valentina estava lá. "Seria uma reposição?" "Eles estão matando algumas e substituindo por outras mais novas?" 

— Quando é que a gente vai sair, moço?

Francisco percebeu que não iria conseguir desviar desse assunto por muito mais tempo, então respirou fundo e começou a falar:

— Valentina…

Ele a afastou do seu abraço e a encarou. Percebeu que era uma péssima ideia quando ela devolveu com um olhar cheio de esperança e um sorriso na cara. Ele desviou o olhar e continuou a falar:

— Você quer me ajudar a salvar as outras meninas também? 

Valentina assentiu com a cabeça pensando em Tina, Joana e também na garotinha que tirou as fotos junto com ela. 

— Quer mesmo? — Ela repetiu o movimento. — Então posso pedir a sua ajuda?

— Sim, é pra falar como aquela velha é, né?

Cama de gatasOnde histórias criam vida. Descubra agora