— PERDEU, PIVETE, PERDEU!
— Calma… eu só vou…
— BORA, DESGRAÇA! — O de trás desceu e se aproximou de mim, encostando sua arma na minha cabeça. — BORA, PORRA! — Ele passou a revistar meu corpo até achar a minha carteira no bolso de trás, e então jogou para outro. — Seu merda.
— O fila da puta tem dinheiro. — O motorista abriu a carteira, dando um sorriso e pegando o dinheiro para depois jogá-la no chão. — Pega o celular desse merda aí no bolso da frente.
O outro pegou o celular e rapidamente montou na moto. Logo depois cantaram pneu e se distanciaram tanto que sumiram na escuridão da noite. Alguns segundos depois, um ônibus passou: 0102 – Iguatemi. Era o ônibus que eu teria que pegar, fiz o sinal e ele parou já abrindo as portas.
— Boa noite, motor. — Falei enquanto subia as escadas. — Tudo na paz?
— Rapaz… — O motorista olhou para mim. — Eu e o Matheus aqui a gente viu o que aconteceu. — Ele apontou para o cobrador que tinha ódio nos olhos. — Pode pegar carona aí de boa, cê vai descer aonde?
— Bando de filho da puta. — O cobrador roubou minha vez de falar. — Aí tem que pegar e encher de porrada um sem mãe desses. — Ele olhou para o motorista. — Né não, Balofo?
— Ô véi, não me fale não. — Ele fechou as portas do ônibus e começou a acelerar. — Dá uma paz da porra descer vagabundo na porrada. — Ele olhou para mim. — Né não, pivete?
— É… tô ligado…
Falei isso apenas para não causar um constrangimento no local. Não concordo e nunca concordarei com isso, o motivo? Já fui quase linchado no meio da rua, se eu não estivesse carregando o meu distintivo para provar quem sou, tudo isso por causa de um "pega ladrão" enquanto eu estava correndo atrás do meu buzu. No Brasil, preto parado é suspeito e correndo é culpado, não é nada raro ver notícias de vidas inocentes perdidas por linchamento.
Sentei na parte da frente do ônibus, antes da catraca, e resolvi responder à pergunta que me foi lançada antes desse papo.
— Vou descer no Campo Grande.
— Beleza, irmão.
O caminho até o Campo Grande foi uma tortura. Parecia que o tempo não andava, ou então que o motorista não queria passar de 20 Km/h. Após aquela eternidade, desci no ponto em frente ao Teatro Castro Alves, atravessei a praça Dois de Julho e encarei meu caminho pelo escuro e vazio Corredor da Vitória. Ele apresentava um silêncio que precedia o perigo e, por conta disso, meus passos foram mais rápidos.
No meio do caminho passei pelo hotel Sol Vitória Marina, lembrei de Luciana, e acelerei o passo até minha casa. Não consegui passar muito tempo na frente daquele hotel depois de tudo o que aconteceu.
Continuei o caminho até o Largo da Vitória, número 50. Assim que cheguei, não precisei nem apertar o interfone para que o porteiro abrisse o portão. Entrei no menor espaço possível em que eu pudesse passar e continuei o meu caminho.
— Boa.
— Boa.
Esse foi o diálogo que tive com ele durante minha breve passagem para o estacionamento, estava com tanta pressa que não aguentaria esperar pelo elevador. Então peguei a escada que fica no estacionamento e pouco tempo depois, após um mísero lance que eu subi correndo, já estava abrindo a porta do meu apartamento.
— Oi bê. — Letícia respondeu enquanto lia um livro. — Como você tá?
— Tô bem. — Fechei a porta do apartamento e ela, o livro. — Mas fui assaltado.
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Cama de gatas
Mystery / ThrillerLuciana resolve viajar em família, composta por: Antônio e Valentina, seu marido e filha. O destino da viagem é Salvador, e o propósito é uma recompensa pelo primeiro ano sóbria, graças aos encontros do AA. Mas o que ela não esperava é que essa via...