20 - O ritual

115 12 0
                                    

A anciã me olhava sorrindo, era noite, e tinha se passado cerca de duas horas.
- Como você me achou? - perguntei a ela.
- Eu senti a sua presença, senti que queria me ver e vim.
- E porque demorou tanto?
- Você é um pouco presunçoso, percebo, sei exatamente o que você quer, quer invocar o Papa não é?
- Eu perguntaria como você sabe? Mas como é uma bruxa já suponho.
- Exatamente, eu senti a morte em você garoto, você poderia alcançar grandes feitos como necromancia, se não fosse proibido!
- Porque é proibido?
- Quando se ressuscita os mortos, eles continuam mortos, nenhuma bruxa conseguiu fazer uma ressurreição como Cristo fez, esse poder só é guardado aos celestiais como anjos, Deus e a estrela da manhã!
- Você quer dizer Lúcifer?
- É isso que estrela da manhã significa não é? - ela sorriu.

De repente um vento frio cortou o ar, a velha tremeu e olhou para mim.

- Você não sente o frio?
- As vezes - respondi - as pessoas reclamam que minha temperatura é elevada, como consequência eu não sinto muito frio.
- Venha comigo!
- Onde vamos?
- Para a minha casa claro - e sorriu.
Caminhamos por cerca de vinte minutos, até chegarmos a um córrego fino que ela chamava de serpente. Logo chegamos a uma casa de madeira, pequena, mas bem feita, com um jardim enorme, mas curiosamente havia poucas flores.

Ao entrarmos na casa senti uma sensação de paz e tranquilidade, era tudo simples, vários móveis em madeira e nada eletrônico.

- Você não tem televisão? Perguntei
- Eu me entreguei a natureza, vivo dela e por ela, nem energia tem aqui, o mundo era cruel de mais, prefiro o conforto do mato e o canto dos pássaros, mas vamos ao que interessa.
Ela caminhou até uma prateleira e pegou um livro feito a mão, capa dura e preta, com uma mulher de três faces na capa, reconheci como Hécate!
- Você é devota dela - afirmei - Hécate a mãe das trevas.
- Sim, já fui donzela, mãe e hoje sou anciã.
- Esse é o seu livro das sombras?
- Esse meu jovem é um dos meus livros, escrevi vários ao longos dos anos e creio que você também terá mais de um algum dia.
- Você vai me ajudar? Tipo, preciso saber se posso confiar no papa.
- Vamos ver o que descobrimos, venha até a mesa.

Nós nos dirigimos até a mesa redonda, ela acendeu 5 velas e uma pequena e mais larga no centro, ao lado do grimório e estendeu a mão, percebi que era para colar a minha sobre a dela e eu fiz. Ela pegou minha mão aberta, respirou fundo, quando relaxei ela perfurou minha mão com uma adaga, que não vi de onde saiu, quando gritei de dor, olhei pra ela, seus olhos eram brancos, o medo me dominou.
- Ele quer você, eu posso ver.
- Quem me quer? Perguntei em meio a dor.
- O Papa, ele já se aproximou, no seu primeiro ritual - com isso virou minha mão, e o sangue derramou sobre a vela que se apagou.

O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora