37 - Um final quase feliz

15 0 0
                                    

O barão me olhava, como se esperasse que eu disse algo, ou fizesse uma reverência, afinal ele era o senhor da morte! Diferente do papa, ninguém atravessa o Aloa sem sua permissão, mas isso se trata dos mortos, o barão? Ninguém vivo entra no seu reino sem a permissão dele, ele dizia sim para todas as mortes.
- Vim até você, para lhe oferecer um acordo, um presente na verdade, algo que eu não concedo as nossos filhos, fiz isso apenas duas vezes. E você terá a honra de ser o terceiro!
- Que presente você veio oferecer, eu sei que nada que vem de vocês é de graça, e ontem enchi as névoas dos teus domínios de almas - respondi.
- Todas as almas alimentam o submundo, é verdade! Mas o que venho te oferecer é mais como um favor, não preciso de algo de você, pelo menos não agora, basta dizer que aceita, e teremos um acordo!
- Quando você irá me cobrar?
    - Quando eu precisar, mas nada além do que você já não tenha feito, aproveite a oportunidade, diga sim.
     - SIM - fechei os olhos com medo, nesse momento ouvi o barulho de uma porta abrindo, uma porta que não tinha naquele quarto, ouvi correntes arrastando, então abri meus olhos.
    Vi um cara negro, saindo de uma porta atrás do barão, numa parede que antes era só uma parede, ele tinha a boca costurada, estava sem camisa e tinha um corpo muito escultural, usava uma calça branca suja de terra e sangue, e via-se terror em seus olhos, quando se virou, tinha as costas marcadas por cicatrizes horríveis, como se em algum momento de sua tivesse sido açoitado. Ele puxava uma corrente, que vinha da porta, uma sombra se ergueu da névoa e do outro lado da corrente um homem de calça social preta, e sem camisa de cabeça baixa saiu de lá, ele parecia assustado. Então ele levantou a cabeça, e eu o vi, corri até ele, e abracei com toda força com o intuito de não soltar mais.
    - Afonso - meu coração doía, doía como nunca doeu antes, mesmo com a morte dele, eu não tinha sentido uma dor tão grande assim.
     Ele não respondeu, não olhou pra mim, não pareceu notar minha presença.
    - Vá de vagar garoto - disse o barão - seu corpo tá aqui, mas ainda não a alma, estou te dando um presente que somente dei a duas pessoas.
    Nesse momento minha mão ardeu, e o símbolo do Aloa na minha mão mudou de preto pra vermelho.
    - Você será muito grato por isso meu filho, você é íntimo da morte, você sempre soube - nesse momento o barão sumiu, o homem com a boca costurada sumiu, e as correntes sumiram como fumaça, a porta ao fundo se fechou e sumiu, e só restava eu e Afonso no meu quarto depois de tudo.
    Os olhos dele se abriu e um fôlego tomou conta dos seus pulmões. Ele começou a se contorcer e aos poucos foi voltando a si e percebeu minha presença.
    - O que você fez Victor? Disse Afonso.

O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora