12 - A voz da experiência

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- Onde você estava com a cabeça? - Ele gritava - eu deixei claro que para esse ritual você devia ter usado velas brancas.
- Me desculpe, eu só pensei que...
- Pensou errado, você ainda é inexperiente, sei que algum dia será capaz de conjurar feitiços poderosos.
- Eu pensei que poderia fazer do meu jeito, as velas negras traz um tom sombrio ao ritual.
- E traz, mas em um ritual de projeção astral? você tem ideia do perigo que correu? Há pessoas lá fora caçando e matando bruxas e você se põem em perigo?

     Não importava o quanto tentasse me explicar, Afonso continuava a brigar comigo, embora eu fiquei revoltado e chateado hoje eu entendo seus motivos, aquele ano era tempos difíceis para bruxos(as), principalmente os(as) jovens.

- Eu sou um bruxo consagrado bem antes de você nascer. O clã corre perigo. Ele disse.
- Clã? Eu faço parte desse clã? Porque eu sou um bruxo e o único bruxo que eu conheço é você! Retruquei.
- Você tem razão. Está na hora de conhecer outros membros, e principalmente nossa anciã.

     Ao que me parece, cada clã possui uma bruxa anciã, e até aquele momento eu não conhecia nenhuma. Após toda aquela discussão acabei admitindo que Afonso tinha razão, eu fui irresponsável, e só depois do que aconteceu me dei conta do perigo real que eu corri. Quando se faz uma projeção astral seu corpo fica vazio, e velas brancas mantém espíritos malignos afastados, aprendi essa lição da pior maneira.

     A vida de um bruxo não é nada difícil, difícil é ser um universitário de uma universidade federal e ter uma professora carrasco que reprova 98% da turma. Sandra, esse era o nome dela, personalidade difícil, e carregava consigo alguns defeitos gritantes, uma típica despreparada, para uma sala de aula com alunos de diferente culturas.

     Ela se dizia uma pessoa dislexa como o cebolinha da turma da Monica e que trocava o R pelo L mas somente na hora de escrever, e descontava pontos por erro de ortografia. Seu método de avaliação era uma prova contendo 10 questões em cada questão havia mais 5, a resposta poderia estar certa, mas se não estivesse do jeito que ela queria, ela zerava a questão. Alunos novos em sua turma achavam que iriam tirar 8 em suas provas e se decepcionavam com seus 1,8 e no máximo 3,9.

     Já estava na turma dela havia 1 ano e decidi que aquela seria a última vez. Ela precisava ir embora e foi exatamente o que eu fiz. O plano inicial envolvia rituais e feitiços tirados diretamente do diário do diabo. Como fazer com que todos os dentes de sua boca caísse e depois fazê-la morrer afogada no próprio vomito. Mas a regra é valida até para nós "Tudo que você faz, um dia volta para você". Então esqueçam a morte e o sangue, pretendo viver mais algumas décadas.

     Após refletir bastante, decidi como fazer com que ela se afasta-se da universidade. Com um feitiço de fertilidade.

    
    

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