𝐖𝐢𝐜𝐤𝐞𝐝 🃏 Alice in Borderland

Control

Ainda que existissem as regras e o grupo de "militantes" havia sido criado para evitar o caos interno da utopia, era obvio que nem tudo dava para ser controlado. 

Ao menos, era o que uns achavam. 

--- E essa cara? --- Aguni perguntou à garota de cabelos lilás. 

Eles haviam acabado de fazer uma reunião na grande sala onde estava o mural das cartas. 

Mais membros se juntaram ao grupo da Praia naquela manhã. Um dos novatos tinha uma carta valiosa que ainda não tinha sido coletada por eles e, por isso, seu ranking subiu em comparação aos outros. Mas, ainda assim, havia aquele gosto amargo na boca, porque a lista de pessoas esperando sua vez para voltar para o outro lado apenas crescia. 

Danma, "o Chapeleiro", como sempre havia bancado o titeriteiro, fazendo os outros de fantoches para realizar suas vontades enquanto os demais, ao redor, pouco ou nada falava.  

Kōshin Haigha, "a Lebre de Março", havia sido uma das que permaneceram quietas.

Ela estava num canto da sala, a única sentada à mesa enquanto os demais estavam de pé ao redor dos novatos, ocupada demais bebendo seu chá de Rosacea Datura e deixando sua mente ser consumida pelas drogas para sequer reparar no corte de cabelo dos novatos ou se importar em aprender seus nomes.

Eles não eram tão interessantes, nem pareciam tão espertos, então ela imaginava que eles não iriam sobreviver muito tempo para ocupar um espaço em sua mente. 

E, de qualquer jeito, mesmo que ela falasse algo durante a reunião, seria apenas para confundir os outros. Algo que, da última vez, levou a um pequeno suicídio grupal.

Com o fim da reunião, todos saiam para fazer o que bem queriam, menos os três (o Chapeleiro, a Lebre e Aguni), que continuavam ali para tratar outros assuntos. Melhor dizendo, tratar daquilo que os outros membros executivos não tinham conhecimento, e nem deveriam saber, do que era o verdadeiro motivo da existência da Praia.

--- Cansou de se auto envenenar com esse chá esquisito que você toma? --- Aguni voltou a perguntar quando não obteve nada como resposta à primeira pergunta e a garota continuava parada com a xícara de porcelana branca em mãos na metade do caminho até os lábios.

--- Estou entediada --- Ela falou e desceu a xícara de volta ao pires.

--- Garotinha... --- Aguni começou a falar, mas Danma pulou em cima da mesa, se sentando de pernas cruzadas na superfície de madeira escura e pegou a xícara da garota.

--- E o que pretende fazer? --- O Chapeleiro perguntou, ao interromper Aguni, olhando atentamente para a garota enquanto tomava de seu chá venenoso.

--- Vou controlar Borderland --- A garota falou decidida e Aguni franziu o cenho. Danma afastou a xícara dos lábios, as pupilas de seus olhos se dilataram e então se contraíram por efeito da droga contida no chá agindo em seu sistema.

--- E como vai fazer isso? --- Ele perguntou, um sorriso se formando em seus lábios. Aguni olhou de um para o outro, se preparando para a loucura que estava prestes a ouvir, porque era apenas isso o que ouvia desde que eles se conheceram.

--- Há alguém controlando esse lugar. Isso é certo --- A garota falou se levantando e pegando o bule de vidro, onde estava contido o restante do chá cor de rosa, onde algumas pétalas de Datura ainda flutuavam, e servindo mais uma porção ao Chapeleiro que sorriu mais abertamente --- Alguém deve ter criado e programado tudo enquanto nós somos apenas um bando de soldadinhos se arriscando na linha da frente. Não têm como esses jogos serem criados sozinhos a não ser que haja uma programação pré-existente --- Ela disse, voltando a repousar o bule na mesa antes de se afastar e caminhar até o mural, onde vários Xs aos poucos preenchiam a parede --- Como as carta contendo letras jamais apareceram antes, devemos supor que a programação fez elas serem os jogos mais difíceis e por sua vez mais mortais, colocando a todos nós em risco e diminuindo nossas chances de sobrevivermos. A única coisa que precisamos fazer é achar o padrão dos jogos --- Ela disse, se virando para os dois e deixando de encarar a parede de cartas --- Quando isso acontecer, nós vamos dominar o jogo e não mais serão eles dando as cartas.