VINTE

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Elisa

Aquele que havia começado simplesmente como o dia mais esquisito da minha vida rapidamente se transformou no mais assustador.

Começou com a dor de cabeça que não parava nunca e terminou com total desespero ao lado do túmulo do meu pai.

Depois de conversar com Niall no cemitério, eu havia passado o dia em meio a uma indescritível confusão.

O garoto era irmão de Harry, mas estava morto a treze anos. Como era possível eu ter conversado com ele? Talvez fosse verdade o que as pessoas dizem -fique num cemitério por bastante tempo e você começará a ver fantasmas. Seria possível eu estar tendo alucinações? 

Por outro lado, podia não ser Niall. Talvez fosse outro moleque fazendo uma brincadeira idiota.

Mais do que qualquer coisa, eu sabia que precisava ver Harry o mais rápido possível e dessa vez eu não excitaria em perguntar sobre seu irmão.

Quando o sol subiu para iluminar Marblehead e os marinheiros de domingo iam para o bar, eu caminhei com Popu de volta para casa. Ninguém na rua me cumprimentou, nem mesmo as amigas irritantes da minha mãe que sempre me questionavam do por que eu estava faltando a igreja.

-Quer mais um pouco de ração? -eu ofereci ao meu cachorro, mas ele também me ignorou. -Tudo bem então, fique aí deitado. Eu vou dar uma olhada no Querência.

Eu andei pela doca e parei de repente em frente ao local onde costumava deixar o barco amarrado, e no mesmo instante, percebi que ele não estava lá. 

Eu me senti um pouco tonta e minha cabeça parecia que ia explodir, girando e girando até me deixar sem equilíbrio. Me ajoelhei e apoiei as mãos na tábua gasta, talvez eu esteja doente.  

Inclinei minha cabeça por cima da borda e olhei para água. Foquei os olhos e gritei.

Não vi o reflexo do meu rosto.

E foi aí que eu percebi. Eu não estava lá.    

A minha mente repassou os eventos conturbados do dia anterior. Cindy não havia me visto, Popu não obedeceu as minhas ordens e Morgan me ignorou na praia.

E agora estava claro, ninguém me deu atenção porque ninguém conseguiu me enxergar.

Ninguém além de Harry e seu irmão morto.

O que estava acontecendo?

Eu me levantei e me toquei meu corpo, eu estava ali, conseguia me sentir.

Algo terrível havia acontecido, eu sabia disso. Tentava lembrar a todo momento do que tinha acontecido com o barco depois da tempestade, mas só lembrava do Querência virando de cabeça para baixo.

E depois? Como eu tinha voltado ao porto? Como fui parar no cemitério?

Minha memória estava falha, eu busquei respostas em minha mente e não consegui encontrar absolutamente nada.

Quando eu morri?

Eu senti o medo e o terror dentro de mim. Só havia uma coisa a se fazer: encontrar Harry. Ele seria o único que conseguiria explicar o que estava acontecendo. Mas e se algo tivesse mudado e ele não conseguisse me enxergar também? 

Ansiosa, eu procurei por todo cemitério, mas ele não estava em lugar algum. 

Finalmente, encontrei o túmulo do meu pai e desabei sobre ele. Se aquilo era a morte, então ele viria me encontrar. Ou ele estava esperando em algum outro lugar. Onde eu deveria ir? O que eu deveria fazer? 

Entre Mundos |H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora