Entre Mundos |H.S

QUATRO

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As bandeiras no ancoradouro tremiam quando Elisa Carter estacionou sua velha caminhonete. Ela desceu da picape e estudou os pedaços de tecido ao vento, sabendo que essa era uma relaxante brisa de sudoeste, não mais do que quatro nós. Começava na Nova Escócia, passava pela Nova Inglaterra e ia até o Caribe.

Elisa foi até a caçamba e tentou abrir a porta traseira, mas aquela porcaria estava emperrada. Ela havia ganhado essa picape do seu pai, e quando ele morreu, sabia que nunca conseguiria se livrar dela.

A menina era baixa, magra, e tinha os fios pretos e lisos, com leves ondulações nas pontas que insistiam em aparecer sempre que secavam naturalmente.

Ao passar pelo porto, no caminho para seu barco, ela encontrou Ellis Grey, que estava sentada em uma cadeira ao lado da placa que anunciava: A MULHER QUE ESCUTA. Quando viu Elisa, gritou:

-Puxe uma cadeira!

Após 40 anos como médica, ela havia se aposentado por conta do Alzheimer, e resolveu abrir um novo negócio. Por $15 a hora, a mulher escutaria qualquer coisa a qual quisesse conversar, com a garantia de sigilo absoluto.

-Vamos lá Lisa, eu te dou meu desconto especial para amigos e família.

-Talvez outro dia. Preciso cair na água.

Mais adiante, alguns ratos de doca estavam jogando baralho. Eram pescadores aposentados que ganhavam a vida com Seguro Social e jogando bingo.

-Ei princesa!

-Como vai, Jeffrey?

-Perdendo a minha camisa. Precisa de uma tripulação para essa tarde?

-Eu gostaria de poder pagar pelos seus serviços.

-Eu imploro. Trabalho de graça!

-Você realmente quer ter outro ataque cardíaco? Sabe que eu vou lhe dar um desses.

-Raios! Que mulher difícil!

-Até mais tarde!

-Cuidado com o tempo!

-Pode deixar! E você vê se não rouba o coração de outra donzela enquanto eu estiver no mar!

O grupo riu conforme ela passou, vestindo uma calça florida e regata branca, seus olhos escuros e sua bochecha rosada exibiam a bela aparência que sempre tinha, mesmo não se importando com isso.

Ao entrar em seu barco, Querência, ela notou que a maré estava subindo, já dava para sentir o cheiro da água salgada que tanto amava. 

-Você vai me ajudar ou só vai ficar aí olhando? -disse para o homem a sua frente, que fumava um cigarro em plena manhã.

-Você está se saindo bem sem mim. Sabe, até que você é bem forte para uma garota.

-Você quis dizer bem forte para uma garota que paga seu salário e pode chutar seu traseiro?

-O que tem o meu traseiro?

-Confie em mim Zayn...não tem nada de interessante. Oh céus, só mais uma semana.

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Elisa

Só mais uma semana.

-Zayn, acha que vai sentir saudades?

-Saudades? Desde quando escravos sentem saudades?

-Engraçadinho. E como vai na vela? Pronta para A Grande Viagem?