DEZOITO

32 8 15
                                    

· · • • • ✤ • • • · ·

Harry

O oceano nunca pareceu tão imenso. Com uma mão, eu me apoiava no painel; com a outra, segurava os binóculos, observando o mar revolto. Eu e Zayn estávamos fazendo buscas numa área perto de onde o pescador havia recolhido fragmentos do Querência.

Naquela manhã, no Drifwood, eu me recusei infinitamente a acreditar nas notícias sobre Elisa. No início eu até gritei para todo bar: "Não pode ser! É impossível!", e então todos se voltaram para mim.

-Você sabe de alguma coisa? -Jeffrey havia perguntado.

Eu queria ter contado para eles sobre a visita de Elisa ao túmulo de seu pai e nosso jantar a dois. Queria ter descrito a caminhada à meia noite e nosso beijo.

Mas tive medo.

Porque talvez algo terrível podia ter acontecido com o Querência na água, e eu tivesse encontrado o espírito de Elisa no cemitério.

Não era impossível, e eu sabia que naquele momento precisava me proteger.

-Ela tem que estar em algum lugar, não é mesmo?

-Do que você está falando? -disse Zayn se levantando. -Eles encontraram um leme e uma boia, ela não manda notícias a mais de 36 horas. Do que mais você precisa?

-E a casa dela? Já olharam lá?

-É claro. -disse Julian. -Não tivemos sorte. Morgan disse que viu o cachorro dela correndo na praia sem a guia esta manhã. A mãe dela já esperava ter recebido um contato, mas não houve nenhuma notícia. Até agora.

E assim, os homens saíram em pares para iniciar a busca. Eu me juntei ao Zayn em seu grande barco de pesca. Nós nos conhecíamos do bar e não éramos muito próximos, mas estávamos determinados a encontrar Elisa e era isso que importava.

Nas primeiras horas de busca não encontramos nada de importante, mas na metade dia achamos um bote salva-vidas destruído pela fumaça.

Trazendo-o a bordo, Zayn viu que era um dos botes do Querência e soltou um grito de raiva.

-Não!

E aquela simples palavra se estendeu em um gemido de dor, acompanhado de lágrimas.

O veleiro havia desaparecido. Elisa não estava em lugar nenhum.

Eu comecei a pensar no que realmente havia acontecido. Era Elisa mesmo no cemitério ou seu espírito? Eu já havia visto milhares de almas irem e virem, e conhecia todos os indícios. Nunca havia me enganado antes. Todas brilhavam ao redor. No começo, os seus contornos eram leves e suaves como gaze. Depois, a aparência mudava de forma sutil, e começavam a ficar da maneira que queriam. Em pouco tempo, quando estavam prontos para próxima vida, eles desapareciam.

Mas Elisa era diferente. Eu olhei bem no fundo de seus olhos escuros. Ela ficou bem ao meu lado. Eu escutei seu riso inconfundível. Eu até comecei a me apaixonar. Não havia nada estranho nela. Ela era muito real, muito viva. Isso tinha que ser um engano.

Uma onda se chocou contra o convés, espirrando água bem no meu rosto e me livrando dos pensamentos.

O dia todo eu orei para Deus que não levasse uma pessoa tão especial e rara embora. Para cada fato perturbador, eu encontrava uma solução otimista.

Entre Mundos |H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora