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Com um vento gelado soprando pela armação da ponte General Edwards, Paul pegou o cortador de metal. Ele avaliou a gasolina derramada e a chance de haver uma explosão. Assim, fez as contas para saber quanto tempo tinha para o resgate. Tempo, o precioso tempo.
Ele nem se incomodou com o caminhoneiro sentado no meio fio, ele fedia a cerveja e sangue. Era uma lei: o céu protegia os bêbados, por isso a cara ia ficar bem.
O veículo estava como uma barata esmagada e ele notou que o carro havia capotado pelo menos 2 vezes. Paul olhou pela lateral, não ouvia nenhum som, nada de respiração ou gemidos. Então, rapidamente os outros bombeiros abriram passagem no carro e ele entrou, avistando dois garotos presos pelo cinto de segurança, abraçados.
-Dois garotos com traumatismo presos na frente e um cachorro no banco de trás, vamos trabalhar!
Primeiro retiraram Niall, ele estava sangrando pelos ouvidos e tinha as pupilas dilatadas - sinais ruins, todos eles. Hora de pegar a outra vítima.
Não havia esperança para o cãozinho no banco de trás, esmagado entre o eixo traseiro e o porta malas.
A ambulância arrancou, e a sirene gritou. Ele colocou seu estetoscópio no peito do garoto mais novo. Assim, escutou e percebeu a verdade simples: era hora de um milagre.
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Harry
Uma névoa encobria o chão, abafando os sons do mundo. Por algum motivo eu estou abraçado a Niall e Payno no escuro. Não faço ideia de onde estamos, mas não importa, estamos juntos.
-A mamãe vai nos matar -ouvi meu irmão dizer.
-Não se preocupe garoto. Eu dou um jeito.
-A gente vai para cadeia!
-Você não vai para cadeia, eu não vou deixar.
-Desculpa, foi minha culpa. Eu distraí você com a lua.
-Não, nada disso. Ninguém teve culpa.
Mas no fundo eu sabia que a culpa era toda minha. Eu não devia ter feito nada disso.
Olhei em volta tentando descobrir onde estaríamos, mas não conseguia ver a ponte, nem o rio, nem os prédios. Procurei pelas estrelas para tentar me localizar, porém o céu estava negro. Eu estava confuso. Muito confuso.
Aos poucos comecei a notar que de alguma maneira, nós havíamos sido transportados para o topo de uma colina, de onde era possível ver o porto.
-Acho que estamos em casa -falei franzindo o cenho.
-Como isso aconteceu? -Niall me olhava assustado.
-Eu não sei, mas fique calmo irmãozinho. Vamos sair dessa. Confie em mim. Já estou pensando em um plano. E por favor, nunca se esqueça de que eu te amo, ta bom? Nós sempre estaremos juntos, não importa o que aconteça -minha voz já estava carregada de emoção, porque mesmo jovem, eu já sabia o que havia acontecido.
Foi aí que vi uma luz. Fraca no começo, mas cada vez ficava mais brilhante. Payno começou a latir.
-Olha lá! Quem está ali?
-Que porra...- deixei escapar sem querer, apavorado.
-É a mamãe?
-Eu acho que não...
-Então quem é? Quem está vindo Harry? Estou ficando com medo.
A luz era quente e brilhante, estava chegando cada vez mais perto.
-Está tudo bem, não tenha medo.
Nós estávamos mortos. Bem mortos.
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Eles estavam mortos. Bem mortos.
Sem pulso. Sem respiração. Nenhum oxigênio no sangue graças ao ataque cardíaco causado pelo traumatismo do acidente. Mortos, Paul piscou sua lanterna mais uma vez nas pupilas dilatadas do garoto mais velho. Elas estavam negras e embasadas. A linha do eletrocardiograma estava reta, sem modificação.
O bombeiro pegou seu kit de intubação e colocou na boca de Harry. Com um movimento rápido, ele inflou o manguito, apertou a bolsa do ambu e começou a ventilar.
O veículo corria em direção ao pronto-socorro North Shore, e Paul sabia que só lhe restava uma chance. Assim, puxou o desfibrilador, pressionou contra o peito nu do garoto, apertou o botão com o polegar, e o atingiu com 250 joules.
Droga.
O monitor não mostrou nenhuma conversão cardíaca. Em rápidos movimentos uma enfermeira colocou um torniquete ao redor do braço do garoto, encontrou uma veia, enfiou-lhe uma agulha, conectou uma mangueira intravenosa, e aplicou-lhe uma dose de epinefrina, ajudando Paul e ajustando o desfibrilador para 300 joules.
Ela apertou o botão e o corpo convulsionou. Novamente, nada de sorte, mas eles já haviam passado por isso e nunca, nunca desistiam.
Assim, a mulher ajustou o desfibrilador para 320 joules e apertou o botão. O corpo a sua frente se curvou com a descarga. Era a última chance. A menos que ela conseguisse fazer o coração do garoto bater no ritmo certo, estava tudo acabado.
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Entre Mundos |H.S
Teen FictionUm coração dividido entre dois mundos. Em uma pacata vila de pescadores da Nova Inglaterra, Harry Styles cuida dos gramados e monumentos de um antigo cemitério onde seu irmão mais jovem, Niall, está enterrado. Após sobreviver ao acidente de carro qu...