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Harry
A escuridão havia desaparecido, e a luz nos cercava quase que completamente. Niall estava tremendo e havia colocado seu braço ao redor de Payno.
-Estou com medo -ele dizia. -Não quero que a gente se encrenque. Não quero que a mamãe grite. Não quero que nenhuma pessoa estranha nos leve embora.
-Vai ficar tudo bem, garoto. Confia em mim. -eu respondi, sentindo a dor começar a desaparecer.
-Harry?
-Fala.
-Promete que você não vai me abandonar?
-Eu prometo.
-Jura?
-Juro.
-Jura por Deus?
-Por Deus. Mas você também tem que prometer que não vai me deixar.
-Nunca. -Ele sussurrou, tão baixinho que quase não pude ouvir.
Então eu o abracei, ficamos lado a lado, sentindo a luz, uma onda de branco e dourado. Algo assustador e reconfortante.
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Paul
Eu ouvi o monitor bipar.
Talvez fosse São Floriano. Ou São Judas Tadeu. Ou simplesmente a graça de Deus. Eu retirei o desfibrilador e vi as queimaduras que havia deixado no garoto. A tela do aparelho mostrava que o coração do menino havia voltado a bater de forma regular. Então, incrivelmente seus olhos se abriram devagar. Eles tinham cor de esmeraldas e estavam cercados por vasos capilares estourados. Parecia ter viajado por uma longa distância.
-Bem vindo de volta! -falei animado, mas o garoto parecia um tanto preocupado.
-Cadê o Niall? -Ele disse quase instantaneamente. -Eu estava conversando com o Niall, eu prometi...
-Qual é o seu nome?
- ...eu prometi a ele que não o abandonaria.
-Me diga seu nome, filho.
- Styles. Harry Styles.
-Você vai ficar bem Styles. Estou fazendo o melhor que posso por Niall. Ok? Não se preocupe.
Assim, eu rezei, silenciosamente.
Obrigado pela graça da respiração.
Pela graça da vida.
Pela graça de todos os momentos...E então ouvi o garoto dizer novamente:
-Pelo amor de Deus, onde está meu irmão? Eu não posso deixá-lo para trás...
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Harry
As palavras não faziam muito sentido, mas eu entendi a urgência na voz daquele homem. Era uma tensão que os adultos sempre demostram quando as coisas não vão bem, quando elas estão fora de controle. O paramédico estava trabalhando em Niall bem ao meu lado.
Pressão sistólica 60.
Sem postura.
Não dá para entubar.Eu comecei a sentir muita dor nas minhas costas e uma moça me ajudou aplicando um remédio na minha veia.
Com isso senti o calor se espalhar, tudo ficou girando. Mas eu tinha certeza de uma coisa, eu havia dado a minha palavra a Niall, havia prometido cuidar dele. Seus pais biológicos podiam ter o abandonado, mas eu não vou, não importa o que aconteça.
Claro que a gente estaria muito lascado, a nossa mãe nos deixaria de castigo por muito, muito tempo. Mas nada é para sempre. Qualquer coisa que ela fizer, nada vai nos impedir de crescer. Nada.
Quando tudo ficou escuro, em algum lugar da minha mente, uma sequência de imagens flutuava ao redor: algum dia, nós teríamos idade suficiente para sair de casa, ir a faculdade, arrumar um emprego, e morar próximos um do outro. A gente teria uma família. Iríamos jogar golfe com os nossos filhos e ter ingressos para toda temporada dos Atlantics.
Eu nunca tinha imaginado o futuro antes. Eu só vivia o presente, com Niall e Payno. Mas naquele momento eu pensei nos dias e anos que viriam -dias e anos ao lado do meu irmão, sempre juntos, não importavava o que acontecesse. Não tinha alternativa. A vida sem Niall era simplesmente inimaginável.
Eu juntei a energia que ainda tinha dentro de mim e estendi minha mão até o braço fino do meu pequeno, a agulha em sua pele. Eu senti sua mão, inerte e fria.
E segurei nela com toda minha força.
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Entre Mundos |H.S
Teen FictionUm coração dividido entre dois mundos. Em uma pacata vila de pescadores da Nova Inglaterra, Harry Styles cuida dos gramados e monumentos de um antigo cemitério onde seu irmão mais jovem, Niall, está enterrado. Após sobreviver ao acidente de carro qu...