VINTE E NOVE

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Harry

Pousei as mãos sobre o farolete e acionei o interruptor. O feixe de luz cortou a escuridão, e o seu clarão branco refletiu na água. Ele se moveu em um grande círculo. Um peixe-voador saltava na superfície da água. 

Uma noite de buscas desesperadas se estendia.

Zayn e eu alternávamos no timão, enfrentando o oceano e varrendo a escuridão com a luz, chamando por Elisa até que nossas vozes estivessem roucas. Louis acordou por volta das 3h da manhã e se juntou a nós por mais de uma hora. 

Com cada movimento do farolete de buscas, com cada segundo que passava, meu coração parecia pesar ainda mais. Teria eu me enganado a respeito das pistas? Seria tudo isso uma criação da minha própria agonia? "Me dê um sinal, Liza" -, eu pedia - "Me mostre o caminho."

Só silêncio. O interminável e doloroso silêncio.

Quando o dia clareou, por volta das 6h30 da manhã, o horizonte ao leste começou a brilhar com pinceladas de laranja e amarelo. Mas a chegada de um novo dia significava apenas o pior para mim. Aos poucos eu recobrava o juízo e entendia o que havia feito. Eu arrisquei tudo, e perdi. Niall não estaria mais lá. Tudo que me restaria seria um emprego maldito no cemitério, cortando a grama e enterrando os mortos. Eu transformei o pouco que ainda tinha em nada, e só havia eu mesmo para culpar.

Minhas costas doíam por ter passado a noite em pé. Meu estômago roncava pela falta de comida. Minha cabeça doía por ter passado a noite gritando na escuridão. O que eu faço agora?

Olhei ao redor, apenas água e mais água. Pensei em Niall. Procurei por um sinal dele e me perguntei se ele estava bem.

Então, eu ouvi Lou no deque inferior, resmungando e praguejando enquanto subia as escadas:

-Desculpe, acho que caí no sono. Encontraram alguma coisa?

-Nada.

-Bem, você fez o melhor que podia - ele disse tomando o controle no timão. - Eu sou o capitão deste barco e eu digo que é hora de irmos embora.

-Mas está clareando. - Protestei. - Talvez a gente deixou alguma coisa passar durante a noite. -Me virei rápido para Zayn que mantinha um cigarro na boca. - O que você acha? Onde devemos procurar agora?

Louis interrompeu:

-Encare a realidade, Harry. Eu sei que é difícil para você, mas ela está morta.

-Não! Ela está viva - eu senti meu sangue ferver por dentro. Meu cérebro buscava freneticamente por exemplos. - Aquele navegador que ficou inconsciente durante nove dias no Mar de Bering, lembra dele? Ele apareceu no noticiário. Um navio japonês o regatou e ele sobreviveu.

-Certo - Louis já havia virado o barco na direção oposta.

-A água fria diminui o seu metabolismo - eu mal reconhecia minha própria voz. - É o reflexo de hibernação dos mamíferos. O seu corpo sabe como desligar tudo, menos as funções e os órgãos essenciais. - Era meu último argumento. - Você se lembra daqueles alpinistas no Everest, alguns anos atrás? Eles estavam perdidos, tinham queimaduras por causa do gelo, e acabaram entrando em coma. Mas eles conseguiram sobreviver.

-Você está fora de si... - dizia Louis. - Aqueles caras tiveram sorte, e ponto final.

-Não foi sorte, foi um milagre.

-Quantas vezes eu vou precisar repetir isso para você? Essas coisas não existem.

Louis empurrou a alavanca do motor para frente e o barco acelerou para casa.

Estava tudo acabado.

Atordoado, desci as escadas em direção à popa, onde me permiti cair em um dos bancos e me afundar nos meus próprios pensamentos.

Conforme observava o rastro de espuma que o barco deixava atrás de mim, o sol subiu no céu, banhando o oceano com um brilho suave. Meus dedos tiritavam, meu corpo tremia, e eu me perguntei se um dia seria capaz de aquecer meu coração novamente.

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