VINTE E DOIS

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Niall

Elisa tinha uma aptidão natural para voar. Na verdade, "voar" não era exatamente o termo. Não é como o Super-Homem, com seus braços abertos e sua grande capa vermelha. Eu costumo chamar de viagem espiritual, uma "coisa" controlada pela mente. Basta imaginar. Tipo quando se usa a internet, um clique aqui, um clique ali. Bastava você pensar no lugar e você estaria lá.

-Melhor do que jogar vídeo game, né? -eu perguntei a moça. Nós estávamos no topo do farol.

-É de virar a cabeça, com certeza. -respondeu ela, contemplando a vista.

E era mesmo.

A morte era algo revelador. Coisas que eu nunca imaginei que fossem possíveis aconteceram depois do acidente. 

Aquele dia, foi aterrorizante. Depois que Harry desapareceu, ficamos apenas eu e Payno naquela escuridão do cemitério. Até que todos surgiram no dia seguinte. Todos os meus amigos e minha família estavam ali, no meu funeral, mas não conseguiam me ver. Não conseguiam ouvir meus gritos de socorro.

Foi então que o olhar de Harry se encontrou com o meu e tudo se acalmou, eu sabia que não estava só. E que nunca estaria.

Às vezes me pego pensando, o que teria acontecido se eu tivesse feito a travessia anos atrás? Me sinto um pouco mal por atrapalhar tanto a vida do meu irmão, que sacrificou tanto por mim. Mas no fundo eu sei que ele não teria aguentado, e eu também não.

Não até agora. 

Porque agora tem essa menina dos olhos castanhos que mexe com o coração de Harry, o afastando de mim aos poucos. 

Mesmo isso me deixando deprimido, eu não o culpo. Hazz sempre foi um excelente irmão. 

Me lembro do dia em que uma garota partiu meu coração e Harry fez questão de conseguir uma menina da turma dele para fingir ser minha namorada. 

Mas ela nunca me beijou, e eu me sentia mal por isso. Eu tinha muita curiosidade em saber qual era a sensação de um beijo, um beijo de verdade. 

-Sabe, Harry me disse que beijar é igual a jogar golfe, mas sem o taco. -eu comentei com Elisa, pensando que talvez ela pudesse me ajudar. 

Ao contrário disso, a menina caiu na gargalhada.

-O taco ele deixa para outra hora, né? -dissera ela, mas eu acabei não entendendo. -Me perdoe, você é uma criança. Mas essa comparação que Harry fez foi péssima, acredite. Beijar não tem nada a ver com golfe. Você nunca beijou uma garota, Niall?

-Não. Eu até tentei, mas Selena era uma menina difícil. Ela me deu uma bofetada e ainda me chamou de abusado. 

-Nossa, que absurdo. 

-E desde então eu fico me perguntando como é a sensação de um beijo.

-É algo que não dá para explicar. Somente beijando para saber.

-Então acho que nunca vou descobrir...

-Por quê?

Entre Mundos |H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora