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Elisa
Eu estava me sentindo completamente cheia e até mesmo um pouco bêbada, mas concordei em tomar outra taça de vinho. Eu ainda sentia as minhas pernas doloridas por causa da tempestade, mas Harry havia cuidado de todos os preparativos para o jantar, e eu estava desfrutando cada momento. O seu peixe grelhado estava divino e a salada de beterraba com laranja, deliciosa. Definitivamente não tinha espaço para sobremesa na minha barriga, mas eu daria um jeito.
Estávamos sentados ao redor de uma pequena mesa redonda no canto da sala, as luzes eram suaves e duas velas enfeitavam a mesa. Harry havia contado a história do seu nome que vinha de Holmes Chapel, um pequeno vilarejo na Inglaterra e eu observava sua boca se mover, escutando e apreciando sua bela e profunda voz.
Então, sem pausa alguma, ele já estava falando sobre uma coisa que se chamava nefrologia, a ciência que estudava as nuvens. Ele tinha um monte de coisas esquisitas guardadas na cachola, e seu cérebro era meio lento e fazia umas conexões malucas, mas eu até que gostava.
Eu bebia o meu vinho com calma, olhava fixamente nos olhos dele, sentindo as minhas barreiras desmoronarem.
Eu sempre detestei homens que tentavam me impressionar com encontros caros em restaurantes cinco estrelas. Eles pediam o vinho da safra mais antiga, tagarelavam sobre suas casas e viagens com a esperança ridícula de me levar para cama. Eles eram previsíveis, falsos e entediantes.
Harry era diferente. Ele era como um animal raro, era manso e sofisticado. E tinha um charme que era só dele. Havia também algo que deixava a noite mais confortável. Para começar, eu não tinha visto nenhum livro de receitas jogado por aí. Ele fez tudo sozinho -gratinar, flambar, marinar e todas aquelas outras coisas sobre as quais eu não sei. Eu sou uma péssima cozinheira.
Mas o que mais me chamou atenção não era o que Harry havia para dizer sobre as nuvens; era o seu jeito de escutar. Ele parecia absorver cada palavra que eu dizia, e estava se sentindo tão confortável quanto eu.
-Eu realmente adorei o nome do seu barco -ele disse. -Querência, certo?
-Sim. Você fala espanhol?
-Não, mas li em um livro sobre touradas uma vez. Querência é aquele lugar onde o touro se sente protegido e seguro.
-Exatamente. Às vezes é um lugar no sol, outras vezes à sombra. É para onde o touro vai entre um ataque e outro. É como uma fortaleza invisível, o único local seguro.
-Assim como seu barco.
-Isso. E como Marblehead também.
Eu queria que Harry soubesse tudo sobre mim. Sobre como eu havia quebrado o braço quando tinha 11 anos. Sobre como Willy Grace, meu primeiro namorado, me enganou com a proposta de olhar as estrelas quando na verdade tinha muitas outras intenções em mente. Queria que ele soubesse como eu sempre gostei de dançar abraçada ao som de Lana del Rey. E queria que ele soubesse mais sobre o meu pai, que de algum modo parecia estar mais perto do que nunca esta noite.
Eu sentia uma rara ligação com Harry, que era ao mesmo tempo emocionante e assustadora. Em menos de uma semana eu ia partir, e não podia deixar nenhum rapaz me segurar -mesmo que este fosse um homem charmoso, um ótimo cozinheiro e um ouvinte compreensivo.
-Quer sobremesa?
-Por acaso tenho cara de quem recusa sobremesa?
-Já está saindo -disse ele, recolhendo os pratos e caminhando até a cozinha.
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Entre Mundos |H.S
Teen FictionUm coração dividido entre dois mundos. Em uma pacata vila de pescadores da Nova Inglaterra, Harry Styles cuida dos gramados e monumentos de um antigo cemitério onde seu irmão mais jovem, Niall, está enterrado. Após sobreviver ao acidente de carro qu...