Mas em vez de usarmos os elevadores, todos começam a... Correr? Sim. Eles correm feito animais nas escadas, pulando degraus, rindo, gritando e batendo nas paredes. É uma alegria diferente dos amistosos e por um momento eu me pego invejando eles. Eu quero isso genuinamente.
— Devemos gritar feito loucos também? — pergunto a Tobias, que sorri.
— Podemos tentar — e então ele pega minha mão, me puxando e nos enfiando no meio da confusão. Com uma mão sou arrastada por Tobias e com a outra seguro minha saia com firmeza, evitando que eu tropece. Não quero nem pensar em como ficaria se caísse.
O ar gelado nos recebe quando saímos do edifício. Tobias continua segurando minha mão e ele parece estar genuinamente feliz, mesmo que já pareça estar cansado. Eu, por outro lado, estou bem. Já passei dias e noites trabalhando nos campos. Carreguei sacos pesados, escalei árvores e corri bastante — esse último mais por diversão do que qualquer outra coisa.
Os audaciosos são como animais selvagens em bando, há uma estranha conexão entre todos. Como um caos organizado. Eu gosto.
O trem se aproxima pelos trilhos de aço com as luzes piscando e o apito tocando alto. Solto a mão de Tobias e amarro minha saia em um nó lateral. Nada bonito, mas prático. Com isso, tenho liberdade para escalar as colunas até o trem. Começo a escalar e Tobias fica a minha frente, então consigo perceber que ele está apavorado.
— Não olhe para baixo — aconselho — olhe para mim.
E ele o faz. Não somos os mais rápidos, mas conseguimos chegar no topo em segurança. Antes que ele possa olhar para trás, seguro seu braço em repreensão. Observo os mais velhos abrirem as portas e se jogarem dentro dos vagões.
— Merda — um garoto ao meu lado comenta. Olho de relance para ele: um transferido da Franqueza.
— Eles são durões, uh? — uma garota ao lado dele diz. Outra transferida, desta vez da Erudição.
— Podemos ser também — Tobias diz, mas sua voz sai meio incerta — não deve ser tão difícil.
— Então precisamos nos apressar — comento, andando e fazendo eles andarem também. Para minha surpresa, Tobias é o primeiro a pular para frente, abrindo uma das portas com dificuldade e estendendo a mão. Me agarro a ele e pulo para dentro, lançando um sorriso antes de sentar no lado oposto, mais para o canto. Aqueles dois transferidos de antes vem até mim, se sentando ao meu lado. Abro um grande sorriso para eles.
Parece que fiz amizades.
— Isso foi legal — sorri o garoto da Franqueza, agora que parece conseguir respirar melhor.
— Eu ainda preferia entrar nele parado, mas é, foi legal — a garota da Erudição concorda.
Tobias finalmente vem até nós, sentando-se a minha frente. Ele sorri e mesmo que pareça cansado, ainda está radiante.
— Como será que deve ser nossos dormitórios? Eu realmente preciso de uma boa noite de sono — comenta a garota.
— Comer é minha prioridade agora — o garoto diz, se esticando.
— Eu ficaria bem com um banho — encolho os ombros.
— Onde deve ser a sede? — Tobias questiona pensativo, olhando a paisagem passar por nós rapidamente.
— Algum lugar bem secreto — chuta o garoto.
— Ou talvez bem a vista de todos — sugere a garota — é mais esperto esconder algo onde ninguém pensaria em procurar.
— Em um lugar óbvio demais — assinto para seu raciocínio — verdade.
O vento forte faz eu me abraçar e me perguntar por que as pessoas simplesmente não fecham todas as portas. Talvez a sensação de risco iminente agradasse. Não para mim. Risco desnecessário não é meu estilo.

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Ascendente | Divergente
FanfictionSkyler Terrence está certa de que seu futuro não é na Amizade, sua atual facção e inferno pessoal. Presa a um sistema que detesta e pessoas que a maltratam, ela procura liberdade e segurança na facção mais temida: Audácia. Entretanto seu caminho é t...