07

2.4K 298 79
                                    

— Não pode ser tão ruim, não é? — sussurro para Kim, que está ao meu lado, após Blake entrar na sala de treinamento.

— Acho que... Não? — talvez algo na expressão do nosso instrutor tenha feito ela hesitar. Sei que me fez.

— No quadro já tem o nome dos seus adversários — Blake aponta — como estamos em número par, todos irão lutar.

Todos se aproximam do quadro negro, então nem tento. Espero pacientemente meus amigos retornarem.

— Você ficou com Darius — Tobias me conta.

— Quem é esse? — tento me lembrar.

— Bem ali, o que está te encarando — Liam aponta sem discrição para meu adversário.

Seus olhos. É a primeira coisa que eu reparo em Darius. Ele tem os olhos da exata mesma cor das do meu pai. Oh, cara. Que azar. E mais azar ainda que ele seja uns bons centímetros mais alto que eu e seja mais largo. Sinto meu coração acelerar.

— Ele é maior, mas você tem agilidade — Kim comenta.

— Tenho? — me viro para ela, surpresa.

— Você veio da Amizade. É claro que tem — ela me olha por um momento como se eu fosse estúpida.

— Mas tem a desvantagem da não violência — Liam pontua.

— Você pode tentar cansa-lo — sugere Tobias.

— Ou desequilibra-lo — Kim continua.

— Ou fingir cair e dar um soco certeiro quando ele menos esperar! — olho para Liam incrédula. Ele acha mesmo que eu faria isso?

— Eu li que bater nas orelhas de alguém com as palmas das mãos a desorienta — comenta Kim.

— Não consigo visualizar isso  — faço uma careta nervosa. Meu estômago se revira e eu pressiono os lábios, temendo vomitar.

— Assim — ela faz em si mesma discretamente — só que com toda força que puder.

— Isso é loucura — murmuro, observando os primeiros lutadores. Observo o ritmo rápido que eles estabelecem, dois garotos grandes que eram da Franqueza, acho. Eles trocam socos e definitivamente não fogem da luta. Quando um deles desmaia, a luta acaba. O seu ganhador acorda ele e o ajuda a sair da arena.

Infelizmente, a próxima luta é a minha. Praticamente me arrasto até a arena. Me encolho um pouco quando Darius fica a minha frente, há alguns passos de distância.  Aperto minhas mãos, respirando fundo antes de erguer o rosto. Blake anuncia o que podemos começar e Darius não perde tempo em se aproximar.

Não olhe nos seus olhos, penso desesperada. Isso só vai piorar tudo.

Fico na defensiva, recuando cada vez que ele avança. Estou familiarizada com isso. Quando ele levanta a mão para me dar um soco, meu reflexo é olhar para o seu rosto e erguer a mão para tentar impedir. É burrice, é claro. Sua expressão não é como a do meu pai, ele não está com raiva ou parece satisfeito. Darius quer estar aqui tanto quanto eu.

Consigo desviar e me jogar para o lado, mas caio no chão, batendo meu traseiro com força. Segundos de distração com minha dor e ele me dá um soco no maxilar. Chuto quase cegamente, sentindo atingi-lo na perna. Não tenho tempo para me sentir mal por isso. Consigo me sentar, mas Darius é rápido em me dar uma tapa forte na cabeça. Vou ao chão, me sentindo zonza. Não sinto mais ataques, mas também não sinto nada além de tontura.

A Amizade não gosta de desistentes. É claro, não é como na Audácia. Paz em primeiro lugar, honra em algum lugar sem muita importância. Se for salvar minha bunda, eu faço o que for preciso. Até me humilhar.

Ascendente | DivergenteOnde histórias criam vida. Descubra agora