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- Você vai se atrasar! - meu pai, Isaac Terrence, grita. Um dos membros do Conselho da Amizade, os líderes da nossa facção. Como? Esse é um mistério que eu nunca desvendei. Talvez seja o fato dele ser tão simpático com os outros. Todos gostam do jeito que ele sempre tem elogios que acertam em cheio no ego das pessoas.

- Já estou saindo! - aviso, me levantando em um pulo. Pego a roupa que deixei separada no dia anterior e a visto apressadamente: um shorts feito por mim mesma para me sentir mais confortável trabalhando no pomar, uma saia longa com o tecido leve e um top amarelo claro, com uma blusa de mangas compridas da mesma cor vermelho desbotado que a saia. Uso um pedaço de tecido vermelho velho para amarrar o cabelo em um rabo de cavalo alto. Como pareço séria demais, solto alguns fios, deixando o visual mais bagunçado. Calço minhas sandálias e suspiro ao pensar em todo o caminho que terei que percorrer até a base da Audácia com essas sandálias. Pelo menos é a mais confortável que eu tenho e não escorregam. Isso valerá muito na hora de pular para dentro dos trens.

Alguns minutos, mordo meu lábio com força, cruzando os braços em frente a minha barriga, tentando abafar o som dos roncos. Eu bebi água da torneira e fingi comer o café da manhã, mas agora estou pagando o preço. Afinal, ontem eu não jantei.

- Tudo bem? - uma garota ao meu lado pergunta.

- Só um pouco de fome - sussurro, honesta.

- Oh! - ela franze as sobrancelhas e vira-se para o outro lado, falando com um garoto ao seu lado. Meu estômago se agita, mas dessa vez não é fome, sim ansiedade. Ela se vira novamente para mim e me entrega uma maçã - meu irmão sempre tem algo na sacola. Ele vive de lanchinhos - ela revira os olhos e sorri simpática.

- Obrigada - esboço um sorriso, comendo rapidamente.

- Acordou atrasada? Ou ficou ansiosa demais? - ela continua falando. Forço minha mente a se lembrar seu nome... Gemma. Já trabalhei e estudei com ela algumas vezes.

- Os dois - falo entre mordidas - hoje é um grande dia. Isso me deixa nervosa.

- Ah, relaxe - ela ri um pouco - é só mais um dia. Um dia importante, é mesmo, mas só mais um dia.

Ela está sob efeito das drogas, claro. Por isso está tão tranquila e animada. Respiro fundo, forçando um riso.

- Tenho certeza que estou sendo boba - falo - por que não cantamos algo para passar o tempo?

Um garoto com violão, que dedilhava distraído, sorri e começa a tocar uma velha canção. Logo isso chegou a caminhonete de trás e a da frente, que também começam a cantar. Me livro do que sobrou da maçã e tento me distrair com as músicas cantadas. Mas quando chegamos ao Eixo, o maior prédio da cidade, aperto minhas mãos com força, nervosa. Há várias pessoas do lado de fora, algumas tensas, outras animadas. Minha mãe agarra meu ombro e me mantém junto dela, atrás do meu pai. Sorrimos com falsa alegria por todo o caminho. Nós seguimos os outros da Amizade, nos espremendo em um elevador e depois passando pelo salão cheio e barulhento.

O salão é organizado em círculos concêntricos. No círculo externo, ficam os indivíduos de dezesseis anos de cada facção. Ainda não somos considerados membros; nossas decisões hoje nos tornarão iniciandos, e viraremos membros se conseguirmos completar a iniciação. Somos organizados em ordem alfabética, de acordo com os sobrenomes que talvez deixemos para trás. Eu sou uma das últimas.

O círculo seguinte contém fileiras de cadeiras para as nossas famílias. Elas são organizadas em cinco seções, uma para cada facção. Nem todos os integrantes das facções vêm à Cerimônia de Escolha, mas hoje parece que a maioria estão aqui. Soube que vários filhos de líderes, incluindo eu, farão a escolha hoje, por isso tanto alvoroço. Está tão lotado que algumas pessoas ficam de pé no canto.

A responsabilidade em conduzir a cerimônia se alterna entre as facções a cada ano, e este ano pertence à Franqueza, que é representado por uma mulher. Ela é alta, carrega uma expressão séria e possui belos olhos azuis por trás dos óculos.

No círculo central, localizam-se cinco recipientes de metal, tão grandes que, se me encolhesse, caberia dentro deles. Cada um dos recipientes contém uma substância que representa uma das facções: pedras cinza para a Abnegação, água para a Erudição, terra para a Amizade, brasas acesas para a Audácia e vidro para a Franqueza.

Quando Ayla - pelo menos isso eu absorvi do discurso - pronuncia meu nome, ando até o centro dos três círculos. Não falo nada, assim como os outros. Ela me oferece uma faca. Seguro-a firmemente, sem hesitar em selar meu destino. Faço um corte em minha mão e derramo meu sangue dentro do recipiente da Audácia, gerando alguns sussurros e até ofegos surpresos. Procuro meus pais na multidão e encaro-os de queixo erguido. Não dependerei mais deles. Eles não podem me machucar agora. Mas algo dentro de mim se parte, quando em vez de ver tristeza, decepção ou até mesmo raiva - eu poderia lidar com a raiva. Ela é familiar -, eu vejo alívio. Até mesmo satisfação. Um sorriso surge lentamente no rosto de Isaac, sua expressão aliviada me atinge em cheio. Lucy, minha mãe, apenas encara sua mão entrelaçada com a dele. Sua expressão é mais contida, porém igualmente satisfeita. Eles nunca quiseram ter um filho, eu sei. Só fizeram porque é socialmente exigido. E agora eles não precisam mais lidar comigo. Eles estão livres. E eu também.

- Pode ir até sua facção - Ayla sussurra para mim, pegando a faca de volta. Há compreensão em seu olhar e ela me dá um pequeno sorriso incentivador enquanto aponta para os audaciosos. Enquanto me aproximo, eles gritam e batem palmas e até mesmo pulam. Parecem honestamente felizes com a minha escolha. Isso me faz rir com eles e me sentar ao lado de outro transferido. Observo a cor da sua roupa: cinza. O único abnegado a se transferir... bem, em anos.

Ele é bonito. Seu cabelo é castanho quase claro, sua face é agradável. Seus olhos são azuis muito escuros, quase pretos. Suas roupas o cobrem por inteiro, mas ele parece magro. Bastante magro, na verdade.

- Tobias - ele estende a mão para mim quando percebe que estou encarando. Sinto minhas bochechas esquentarem.

- Eu... - mas sou interrompida por Ayla, que continua a chamada. Sussurro para Tobias: - mais tarde.

Ele assente e eu continuo a divagar sobre como minha vida será a partir de agora. Me proibido em sequer lembrar dos meus pais. Eles estão mortos para mim.

- Hora de ir - um dos mais velhos avisa, dando um sorriso selvagem e liderando o caminho para fora do salão.

Tobias permanece ao meu lado enquanto seguimos os outros, o que me acalma. Somos os únicos das nossas antigas facções a vir para Audácia. Somos os quebradores de regras. Isso deve ser algo bom para audaciosos... Certo?

tobias entrou em cena 😍 quem aí também tem um crush ferrado nele? porque eu tenho

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tobias entrou em cena 😍 quem aí também tem um crush ferrado nele? porque eu tenho...

os pais da skye versus o pai do tobias, quem é pior?

próximo capítulo tem introdução dos outros personagens importantes: liam, kim e eric 🔥 mal posso esperar!

postei hoje (quinta pra quem estiver lendo no futuro) pq amanhã estarei ocupada

até sexta que vem, galeraaaa

Ascendente | DivergenteOnde histórias criam vida. Descubra agora