3. Talk to me

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Eu já estava acordada uns dois minutos antes do despertador, olhava pro teto...uma infinidade branca e regular...era segunda-feira, eu iria ter aula de ciências com a Martha, literatura, inglês avançado...hoje iria começar as campanhas de presidente do conselho, clubes e inscrições pros times...e a tutoria, eu sempre me inscrevo mas não sei...sempre pegava o Andrew como aluno e se cair alguém esquisito?
—Shell! Vamos acordar? —Ouvi minha mãe dizer batendo na porta
—Já acordei, daqui a pouco eu desço —Eu gritei e ouvi um ok como resposta.
Me levantei e fui me arrumar...
Depois de pronta, cabelos penteados, dentadura no lugar, uniforme e tênis, eu desci as escadas e encontrei o resto da minha família. Minha mãe falava com alguém no telefone, meu pai e irmão conversavam sobre a pescaria no domingo, minha irmã comia seu café da manhã, eu fiz o mesmo.

[...]
Cheguei na escola e logo vi a Martha se inscrevendo em um dos clubes.
—Bom dia Marty! —Eu disse
—Bom dia S! Vai se inscrever em algum? —Disse apontando para o quadro
—Acho que não, meu lance é a tutoria
—Sério?! Eu tô precisando de uma tutora para química
—Ah, eu posso escolher você então! —Eu disse e ela sorriu
—Que sorte!
—Mas diz aí, qual clube você se inscreveu?
—Dança, eu gosto muito.
—Isso é muito legal!
—Ah, obrigada! —Nós ouvimos o sinal tocar e logo fomos pras salas.
—Bom dia alunos, espero que tenham aproveitado a primeira semana de aula porque agora nós vamos a todo vapor! Para os que faltaram na última semana, eu sou o professor Sidney McLean, o novo professor de história. Para começar a aula de hoje, nós vamos falar da segunda guerra mundial, sei que é um assunto que interessa a muitos por isso começaremos por ele. Vamos lá, digam pra mim, o que acham desse período histórico. Ninguém? Você aí —O professor apontou pra Martha 
—Hum, eu acho horrível —Toni levantou a mão mais ao fundo e o professor passou a palavra pra ela.
—Eu acho que a gente não aprendeu muito com a segunda guerra mundial
—E o que você quer dizer com isso? —O professor perguntou curioso
—Num dia, estavam fazendo piadas sobre os judeus, cartoons e charges sobre sua aparência e modo de viver...no outro Hitler mandava eles pros campos de concentração. Pessoas pretas, marrons como eu, amarelas e até mesmo LGBTQIA + sofrem o mesmo nos dias de hoje. Ninguém fala disso, mas nós estamos morrendo por ser quem somos, assim como os judeus. Não aprendemos nada com a morte deles.
—Isso é um bom ponto de vista...alguém concorda, discorda da Antonia? —O professor disse, mas todos pareciam perplexos demais para responder —A segunda guerra foi importante porque houveram muitos avanços tecnológicos, nem tudo foi ruim —Tomás disse
—Eventualmente a tecnologia se desenvolveria. —Toni disse e foi cortada por Tomás
—Quer dizer que você não acha que é um ponto positivo? —Ele perguntou
—Além de ter aumentado os níveis de poluição, existe uma estimativa que a guerra causou a morte de 60 a 85 milhões de pessoas...o seu celular vale a vida dos judeus inocentes que Hitler matou e torturou nos campos de concentração? Ou a vida das pessoas mortas no bombardeio nuclear no Japão? —Disse simples expondo seu ponto de vista e todos se calaram, e eu principalmente estava sem palavras.
—Bem, se ninguém tem algo a falar, vamos prosseguir...—O professor disse, mas assim como os outros na sala, parecia não saber mais o que dizer.
A Toni realmente era uma pessoa com opiniões fortes, ela não se dobra para caber e pelo que percebi sempre tenta fazer as pessoas entenderem a opinião dela, não é algo que você está sendo obrigado, ela te mostra como ver o seu ponto de vista numa conversa natural, onde não há qualquer tipo de agressão verbal ou física, ela parece realmente querer te mostrar e te ouvir.

[...]

—Shelby —Ouvi alguém gritar meu nome
—Oi...? —Eu disse olhando para trás, eu não conhecia aquele garoto
—Eu sou o Marco, nos encontramos na festa da Fatin, mas você estava acompanhada pelo visto...mas adivinha! Eu conversei com o Andrew e ele disse que vocês terminaram, então você vai sair comigo. —Ele disse com um sorriso meio...psicótico.
—Hum, esse é um convite para um encontro um tanto estranho, mas eu tenho que recusar...—Eu virei as costas para ir embora, mas ele segurou meu braço.
—Calma gatinha, não precisa dessa pressa. — Ele sorriu novamente — eu sei o seu segredo banguela. — Eu olhei nos olhos dele, ele não parecia estar mentindo, mas como ele sabia disso só Andrew sabia disso...
Aquele desgraçado deve ter contado pra ele embora eu tenha feito jurar que nunca contaria pra ninguém
—Te espero hoje às 7h00 no Nancy's esteja lá ou a escola toda vai saber do seu segredinho —Ele ainda apertava meu braço mas quando viu Fatin e Toni se aproximando sorriu e me soltou.
—Ei Shell?! Você tá bem o que aconteceu?—Fatin perguntou me abraçando enquanto Toni estava de braços cruzados olhando pra mim
—Hum, não foi nada...—Eu respondi, a única pessoa da escola que eu confiei esse segredo contou pro primeiro idiota que passou. Como eu fui burra!
—Shelby, pode falar com a gente —Fatin disse tentando me confortar
—Sério gente, tá tudo bem...—Eu disse de novo, Toni e ela se encararam
—Vamos filha! —Alguém gritou
—É meu pai...—Fatin disse —Eu tenho que ir...se precisar de qualquer coisa, só me dizer, ligar, sinal de fogo...—Eu ri
—O sinal de fogo seria pra mim, eu sou indígena aqui. —Toni quebrou seu silêncio e disse isso sorrindo, acho que foi a primeira vez que ela sorriu genuinamente pra mim...sóbria.
—Tchau amigas, até amanhã —Fatin disse se despedindo e me abraçou.
—Tchau —Eu disse, ela e Toni apenas trocaram um aceno.
—E você? Vai a pé? De carro? —Perguntei pra Toni
—Minha irmã vem me buscar hoje —Ela disse
—Sério? Não sabia que você tinha uma irmã! —Eu disse
—Eu não jogo todas as minhas cartas na mesa Barbie! —Ela riu e eu também —Enfim, ela não é daqui, fomos para famílias diferentes no orfanato, nos reencontramos no ano passado, ela é legal...—Sorriu
—Que bom que se reencontraram —Eu sorri pra ela —Ah, meu pai chegou —Eu disse apontando pro carro —Tchau Toni —Eu apenas acenei, diferente de Fatin, Toni não era uma pessoa de abraços e beijos...a Martha e a própria Fatin eram exceções, mas com as outras eram acenos e nada mais.
—Tchau Barbie —Acenou
Eu entrei no carro, beijei a bochecha de meu pai e coloquei o cinto.
—Como foi seu dia? —Meu pai perguntou
—Normal —Eu respondi —Aulas de ciências biológicas, história, inglês
—E quem era aquela menina? —Perguntou curioso
—Ah, é a Toni, uma das minhas novas colegas —Eu disse e senti meu celular vibrar, desbloqueei e fui olhar as mensagens.
[14:13 PM] Marco Davidson: eu gosto de você mesmo sendo banguela
[14:13 PM] Marco Davidson: 😄🥰
[14:13 PM] Marco Davidson: Marco aqui
[14:14 PM] Marco Davidson: Ah, e não se esqueça do nosso encontro!

Screw my life  • The WildsOnde histórias criam vida. Descubra agora