7. Nenhum Tom de Azul

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A música explode pelas janelas a ponto de quase estourar todos os vidros da vizinhança. Eu já não precisava do GPS há alguns quilômetros atrás: o barulho me guiou facilmente.

Estaciono o carro na única vaga disponível do outro lado da rua.

Há luzes coloridas dançando pelo ar e eu me pergunto se é aniversário de alguém, pois ninguém organiza uma estrutura dessas por um motivo pequeno.

Felicity precisou recusar o meu convite, então não sei o que estou fazendo aqui sozinha, encarando o caminho por entre a grama até a parte de trás do endereço que Ash me passou.

Parece ter gente o suficiente para encher uma boate e, não sei porque, mas isso não me assusta.

Me esgueiro pela lateral da casa de dois andares e logo vejo a multidão em volta do que presumo ser uma piscina, já que não enxergo nada além de corpos suados e brilhantes.

Copos vermelhos, cabelos coloridos, cigarros suspeitos. Eu sou um ponto destoante, claramente em outra frequência. Isso é bom, certo? Deve ser.

Mas eu poderia muito bem ter sido vestida pela minha mãe.

Por que eu não escolhi um vestido ou algum tênis brilhante pra tentar me enturmar?  Não quis parecer como se eu tivesse me esforçado tanto. Imagina só se eu chego aqui e estou muito mais arrumada que todo mundo? Bem, antes fosse isso, pois agora me sinto uma colegial no meio de adultos.

Olho rápido pra minha calça jeans e meu cropped que poderiam ser o look de uma ida na padaria.

É muito provável que ninguém vá me oferecer bebida aqui. Por que eu não volto pra casa em três, dois, opa...

- Lola! - Ash acena pra mim.

Ele está acompanhado de Michael Clifford.

Ok. Não estava preparada para conhecer a banda toda hoje. Aliás, o que eu estava esperando vindo até aqui?

Lola, dá meia volta e entra no carro agora.

Afasto o pensamento.

Aceno de volta e ele vem na minha direção, deixando Michael pra trás conversando com aquele que penso ser o baixista. Ufa.

- Chegou agora?

Irwin está vinte porcento suado e cem porcento animado, mesmo que a conta não bata. Eu gosto dele, dessa energia caótica, mesmo que não combine comigo hoje.

- Aham, cheguei - sorrio tímida.

- Vamos pegar uma bebida pra você - ele não perde tempo.

Ele me guia até uma mesa com a mão na minha cintura enquanto eu observo o ambiente como se estivesse em um safari. Logo logo alguém vai me reconhecer e se irritar com a minha intromissão, mas eu não consigo desviar o olhar.

Escolho um drink que tem gosto de suco e digo ao Ash que vou buscar um conhecido quando, na verdade, só vou me encostar em algum lugar pra ver o movimento. Não quero que ele perca a diversão fazendo sala pra mim. Mesmo assim, ele ainda me apresenta a umas três pessoas que meio que me reconhecem.

Às vezes eu esqueço que sou famosa.

Minha bebida tem um canudinho e eu me distraio com ele no processo de encontrar meu canto favorito no quintal.

Avisto um limoeiro próximo de uma parede vazia na lateral da casa e é aqui mesmo que eu vou me alojar.

Me encosto na parede e cantarolo a música que está tocando, torcendo pra ninguém vir conversar comigo enquanto ainda estou sóbria. Quem sabe eu danço com um desconhecido logo mais.

Beautiful Stranger | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora