49. Dualidade

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"Agathokakological: composto de bom e mau"

Levanto as sobrancelhas ainda em silêncio e olho-o com cuidado.

- Me beija como você beijou toda aquela gente ontem - pede novamente.

Meu queixo cai.

- Você sabe que não é assim que funciona - finalmente reajo afastando meus olhos dele.

Não posso encará-lo enquanto tento não avançar em sua boca, com seu aval e sem ninguém pra nos vigiar.

- Eu vou explodir, Lola.

Hemmings coloca as mãos sobre o rosto e joga a cabeça pra trás soltando um gemido exasperado.

Chego mais para o lado oposto do sofá, como se a casa pudesse pegar fogo se a gente se tocasse. Dois fios soltos pulsando com a eletricidade visível.

O estrago que seria...

- Vamos lá pra fora - ele sugere com a voz abafada pelas próprias mãos.

Não posso abrir a boca para concordar pois sei que há um gemido contido na minha garganta, então assinto e saio na frente dando espaço para que não tenhamos que caminhar tão próximos.

Ando completamente no automático pra fora e sigo o caminho que os turistas fariam se fosse horário de visita.

Não vejo Luke, mas sei que ele me acompanha. Só paro para que o loiro chegue até mim quando cumprimento um funcionário que está colhendo uvas. Pergunto-o se eu e Hemmings podemos ajudá-lo e ele acaba nos ensinando como fazer o trabalho.

À princípio, minha atenção está nos toques não planejados da mão dele na minha enquanto colhemos a fruta, mas logo o esforço de me manter em pé após a noite me domina. Isso tudo é suficiente para que a minha mente disperse.

Me divirto no processo e nos sujamos bastante por falta de prática.

- Não era pra você ser boa nisso? - Luke questiona.

Eu jogo uma uva na cara dele.

- Não era pra você estar quieto catando suas uvas? - rebato.

Mais dois homens começam a trabalhar na mesma parreira em que nós estamos. O funcionário que eu não sei o nome me apresenta aos outros dois — que, pela conversa, foram contratados recentemente — e se refere à Luke como meu namorado.

Hemmings não esboça nenhuma reação e eu também não me incomodo em consertá-lo.

Almoçamos com os funcionários no restaurante do vinhedo e eles ficam encantados ao saberem que Luke é um músico famoso. Eles se distraem na conversa e eu aproveito para voltar em casa e dar uma olhada no meu celular.

A ideia de ficar sozinha com Luke está atacando a minha ansiedade. Eu o quero tanto que deveria ser proibido. Se rolar agora, eu sei que vou estar ferrada muito em breve.

Alcanço o aparelho na sala e estou rolando as notificações quando ouço o barulho da porta abrindo.

Luke, claro.

- Você pode ficar lá fora? Eu estou tentando fugir de você - uso meu tom sarcasmo, mas é bem real e ele sabe.

Hemmings ri, mas seu riso não dura muito. A expressão travessa dá lugar ao desconforto conhecido.

Estamos pensando a mesmíssima coisa.

Ele coloca as mãos nos bolsos.

- Vai acontecer, Lola. Você sabia desde que entrou no carro.

Beautiful Stranger | Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora