➵ 32 | chá de maconha

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Dulce Maria

— Ok, por que a gente tá no meio do mato? — Amber perguntou depois de nós descermos do ônibus e entrarmos numa reserva que ficava nos arredores da cidade.

Ela passou a viagem inteira reclamando que o ônibus balançava demais, que o assento era muito duro e que estava tão cheio que ela se sentia dentro de um microondas. O melhor, ou pior de tudo foi ela ter pisado no pé de uma mulher com a sua perna mecânica, depois da mulher não ter tido nenhum cuidado de atravessar o corredor do ônibus batendo sua enorme bolsa no rosto de qualquer um que estivesse sentado.

Ela até inflou o peito para reclamar da dor, mas engoliu qualquer palavra quando olhou para baixo e viu que Amber usava uma perna mecânica. As pessoas sempre procuravam evitar ofender qualquer deficiente, fato que, segundo a própria Amber, ajudava a se safar quando se precisava chutar a canela de alguém.

— Nós viemos colher algumas plantas.

— E por que a gente está no meio do mato e não em um supermercado?

— Eu não gosto muito de supermercados, geralmente é a Maite ou o Christian que compram as coisas de casa.

— E por que?

— Já viu as expressões de pura falta de vontade daquelas pessoas? É um lugar carregado de energias pesadas. Eu costumo comprar minhas ervas em lojas naturais, mas ainda assim estou sujeita à energias negativas. Ninguém é totalmente limpo, por mais "good vibes" que seja. — nós caminhávamos por uma trilha por entre as árvores e não éramos as únicas ali. Algumas pessoas com mochilas de acampar e roupas para caminhada também seguiam pelo mesmo caminho. — É bom tirar um tempo para conseguir algo puro.

— Claro, por que se você mesma colher a planta, não vai ter a energia ruim de ninguém. — Amber completou e eu sorri, assentindo positivamente.

— Demorei a encontrar esse lugar. Nova York é uma selva de pedras e eu tive que pesquisar bastante sobre algum ponto que tivesse um punhado de natureza. Era bem mais fácil em Los Angeles.

— Dulce, você está saindo da trilha. — ela me avisou quando eu me embrenhei pela mata. — É proibido sair da trilha. — sussurrou vindo atrás de mim.

— Pode falar alto, ninguém vai te ouvir aqui.

— Não fale essa frase enquanto estamos num lugar de acesso proibido dentro de uma mata! — berrou.

— Não é como se o Jason estivesse aqui. — dei risada.

— Piadistas sempre são os primeiros a morrer em filmes de terror.

— Vamos, não seja boba. — agarrei o pulso dela e continuei a caminhar pelo caminho íngreme e cheio de raízes de árvore.

— Agora eu entendi por que você insistiu tanto que eu calçasse botas.

— Não essas de veludo, mas está servindo.

— Desculpe por não ter galochas, é que eu moro em Nova York. — ironizou.

— Galochas são para fazendas, não reservas florestais. — franzi a testa. — Hibisco! — gritei animada ao chegarmos ao lugar onde as ervas costumavam nascer. — Está bem cheio aqui. — abri minha bolsa tiracolo e peguei os saquinhos que havia trazido. — Aqui. Separe cada tipo dentro de um saquinho. — entreguei alguns para elas.

— Posso perguntar uma coisa? Já aviso que talvez você se ofenda.

— Eu ouço coisas ofensivas o tempo inteiro, nem me importo mais. — dei de ombros.

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