➵ 05 | mais de uma ótica

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Dulce Maria

Entrei no carro e fiquei ainda mais tensa por estar a poucos metros de distância dele. O que tinha nesse homem que me deixava tão nervosa? O jeito sério dele deveria me afastar, não me atrair. Eu podia ver em cada linha do seu rosto que ele carregava uma bagagem pesada em sua vida e que isso com certeza afetaria qualquer um que se aproximasse. E mesmo assim eu me via tentada a saber mais.

— Sobre o que você viu ontem, imagino que tenha pensado muita besteira. — ele começou a dizer sem olhar para mim, com uma das mãos segurando firme o volante. — E não importa o que deduziu, aquilo não era da sua conta. — abri levemente os lábios. Isso foi totalmente grosso.

— Ainda não entendi o que eu estou fazendo aqui, senhor Von Uckermann. — tentei ser o mais séria que eu conseguia.

— Minha filha simpatizou bastante com você, disse que é a melhor professora que já teve. — eu sorri com a informação, mas meu sorriso morreu ao ver que ele continuava na defensiva. — Não interessa que acabe criando vínculo com a Amber, tem coisas que ela não precisa saber. — agora ele me encarou. — Esqueça o que viu.

— Não é da minha conta. — eu disse enquanto o encarava de volta.

— Ótimo.

— Deve ter sido muito sério. — desviei o olhar para a aliança em seu dedo. Ele notou o meu olhar e fechou a mão num punho.

— Não deveria ser tão curiosa. — sua voz ficou mais grave. — Isso pode lhe trazer problemas.

— Está me ameaçando? — arqueei as sobrancelhas em surpresa.

— Só dando um conselho. Preocupe-se com a sua vida.

— Uau... — sussurrei para mim mesma. — Se era só isso... — coloquei a mão sobre a maçaneta para abrir a porta.

Ele não olhou para mim nem falou mais nada até que eu saísse de seu carro. Assim que bati a porta, ele acelerou e saiu do estacionamento. Tinha algo de muito errado com aquele homem e o universo estava me dando vários sinais para não meter o nariz onde não fui chamada. Mas uma coisa eu tinha que admitir, eu estava curiosa e eu não controlava a minha curiosidade.

[•••]

Só teria aula no terceiro turno, seria com o primeiro ano. Fui até o teatro afim de me preparar para o trabalho e aproveitar aquelas primeiras horas livres para meditar um pouco. Depois da tensão que Christopher Von Uckermann deixou em mim, eu precisava relaxar.

Entrei no teatro pelas portas dos bastidores e assim que pisei no palco avistei Isabela deitada no chão enquanto olhava para o teto. Ela estava com a cabeça apoiada em sua mochila e parecia preocupada com algo.

— Bela? — ela se ergueu num susto e respirou ofegante enquanto olhava para mim. — Você deveria estar na sala de aula.

— Eu sei, desculpe. É que eu não estava me sentindo bem e vim para cá. Eu gosto daqui.

— O que houve? — me aproximei dela. — Está passando mal?

— Não. — sorriu. — Não é nada físico. Eu sei, você vai dizer que eu deveria estar na aula mesmo assim.

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