➵ 01 | duas linhas

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| 15 anos antes...

Dulce Maria

"Ok, é só uma suspeita, não quer dizer nada. Vamos, Dulce, respire, não seja covarde! Você precisa olhar o resultado."

Eu brigava em pensamento comigo mesma enquanto segurava o teste de farmácia que acabei de fazer em mãos. Eu não podia estar grávida, eu não deveria estar grávida. Esse seria o fim de tudo o que eu planejei para a minha vida.

Mas eu não ia sair desse banheiro enquanto não olhasse para esse maldito teste e finalmente descobrisse se o motivo do atraso da minha menstruação era mesmo uma gravidez indesejada.

E lá estavam elas. As duas linhas que decidiram que dali em diante a minha vida seria a mais difícil que uma mulher com o meu conhecimento sobre o mundo poderia enfrentar.

Hum, mulher? Eu tinha 15 anos, eu era uma mulher? Eles diriam que eu fui mulher para abrir as minhas pernas, então seria mulher para cuidar de uma criança. Mas eu não era! Eu era uma adolescente idiota que acreditou no namorado quando ele disse que fazer sexo sem camisinha não era tão perigoso assim.

Fiquei tão em choque com o resultado que nem sequer consegui chorar. Continuei estática, olhando para um ponto específico da parede do banheiro com a mente totalmente vazia. Chorar depois que tudo estava acabado não ia adiantar muita coisa.

[•••]

Era dia de jogo no colégio e eu saí bem cedo pela manhã, mantendo a minha melhor expressão para não transparecer que por dentro eu estava sentindo milhares de explosões que aconteciam ao mesmo tempo, sem descanso.

Como quase não havia dormido, fui obrigada a usar mais maquiagem do que o normal. Não queria ninguém perguntando o porquê de minhas olheiras estarem tão profundas.

Vestida na camisa do time do colégio, uma calça jeans, tênis e um rabo de cavalo, eu desci as escadas de casa e fui direto para a cozinha, onde meus pais tomavam café da manhã.

— Bom dia, meu amor! — minha mãe me cumprimentou com um beijo no rosto.

— Bom dia, mamãe. — a beijei também. — Bom dia, papai. — fui até ele e o abracei por trás enquanto ele lia seu jornal sentado à mesa.

— Bom dia, querida. — ele respondeu. — Pronta para o final de semana? — perguntou sorrindo.

— Hum... poderia clarear a minha mente?

— Não se lembra, filha? Faremos uma feirinha beneficente para ajudar com a manutenção da igreja. Você prometeu que iria cantar.

— Ah, claro! — dei um tapinha na minha testa. — Desculpe, a escola tem deixado a minha cabeça cheia. — na verdade, estar grávida me deixava com a cabeça cheia.

Tomei meu café da manhã e fui direto para o ponto de ônibus. Assim que entrei, avistei Lisa, minha melhor amiga. Ela acenou para que eu sentasse ao seu lado.

— Olá! — a cumprimentei.

— Animada para ver o jogo? Não vejo a hora de ver todos aqueles metidos do colégio Butterfield massacrados! — ela riu com satisfação, mas eu apenas sorri de lado. — O que foi?

— Nada.

— Eu te conheço, Dulce. O que aconteceu? — colocou sua mão sobre a minha.

— Tá... — suspirei. — Lembra quando eu disse que a minha menstruação estava atrasada? — ela assentiu. — Então, eu fiz um teste de gravidez.

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