Cap. 15 - No Meu Escritório

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Pov Lauren

— Essa não é a porra do problema. O problema é sua incapacidade de cozinhar uma refeição decente sem queimar.

Ouvir esse tipo de declaração gritada não era novidade para aquelas paredes. Só que, desta vez, não estava vindo de um dos meus clientes.

Eu tinha acabado de voltar ao escritório depois de almoçar tarde com Henry Archer e o som de um homem bravo ecoava pelo corredor. A porta do escritório de Camila estava um pouco aberta e pensei em ouvir para ver como ela estava e me certificar de que estava tudo bem.
Ouvindo, escutei-a pedir para que o cara se acalmasse e então outra mulher começou a falar. Assim, voltei para meu escritório para cuidar da minha própria vida.

Quinze minutos depois, aconteceu de novo. Eu estava ao telefone quando a voz do mesmo cara foi carregada pelo corredor e chegou ao meu escritório.

— Eu não sabia se queria casar com você, para começo de conversa. Deveria ter cancelado depois que você não conseguiu nem carregar nosso filho.

O cabelo da minha nuca se arrepiou. Era horrível o que ele dissera. Mas eu já tinha escutado casais cuspirem coisas malvadas um para o outro durante um divórcio. Nada mais me chocava muito. Mesmo assim, esse cara... Não era o que ele dizia, mas como dizia. A voz dele estava cheia de raiva e intimidação, ameaçando enquanto insultava. Nem tinha visto a cara dele, mas meu instinto me dizia que ele fazia mais do que abusar verbalmente.

Infelizmente, eu também vira agressores físicos ao longo dos anos. Havia algo na forma como os canalhas gritavam que os separavam dos maridos comuns do estilo odeio-você-e-quero-ferir-sua-alma.

Apressei o cliente com quem estava falando ao telefone e fui ver como Camila estava. Antes de chegar ao seu escritório, um barulho alto de algo se quebrando me fez correr.

Quando cheguei à porta, o cara estava sentado na poltrona enquanto sua esposa estava ajoelhada e com as mãos no chão limpando a sujeira. Camila estava em pé.

— O que aconteceu aqui? Está tudo bem?

Camila hesitou e me olhou nos olhos quando falou. Ela estava tentando amenizar a situação. Vi nos olhos dela, ouvi em sua voz.

— O Sr. Dawson ficou um pouco nervoso e quebrou um prêmio de vidro que eu tinha na minha mesa.

O peso de papel que ela tinha carregado pelo metrô na sua caixa estava estilhaçado por todo o chão.

— Vá dar uma volta e se acalmar, amigo.

A cabeça do imbecil se virou.

— Está falando comigo?

— Estou.

— Quem é você?

— Sou a pessoa te dizendo para dar uma volta e se acalmar.

Ele se levantou.

— E se eu não for?

— Vai ser fisicamente retirado.

— Vai chamar a polícia por quebrar um vidro?

— Não, a não ser que Camila queira. Mas vou te expulsar para a rua eu mesma.

Cruzei os braços à frente do peito e mantive contato visual. Homens que batiam em mulheres eram covardes. Eu bateria nele e iria aproveitar cada minuto.

Após alguns segundos, o cara olhou para sua esposa.

— Estou cansado dessa merda de terapia.

E então saiu. Dei um passo para o lado para deixá-lo passar.

Camila e sua cliente ficaram quietas até ouvirmos a porta da frente bater.

— Você está bem? — perguntei.

Camila assentiu e, pela primeira vez, a mulher se virou e olhou para mim. Sua bochecha estava roxa e amarela de um machucado antigo. Cerrei a mandíbula. Eu deveria ter socado o desgraçado enquanto tive oportunidade.

— Ele normalmente não é assim. Só está difícil no trabalho dele ultimamente.

Claro que não é.

Camila e eu trocamos olhares mais uma vez, em uma conversa não falada. Estávamos na mesma página.

— Vou deixar vocês conversarem. — Fechei a porta.

Pela meia hora seguinte, trabalhei em um caso na mesa da recepção vazia, sem querer que aquele marido imbecil voltasse sem que eu soubesse. Às vezes, eu via o rosto dele lá fora pela janela da frente. Estava fumando um cigarro e esperando sua esposa do lado de fora. Esperto.

Camila acompanhou a Sra. Dawson até a recepção enquanto conversavam.

— Que tal conversarmos pelo telefone amanhã? Mesmo se for por quinze minutos? Eu realmente gostaria de saber como está depois da sessão de hoje.

Sua cliente assentiu.

— Certo.

— Que tal às dez?

— Está bom. Bill sai para trabalhar às oito.

Camila assentiu.

— Sabe de uma coisa? Não te dei um cartão de consulta para a sessão da próxima semana. Deixe-me pegar um para você, e já volto.

Depois que ela se afastou, conversei com a Sra. Dawson. Minha voz era baixa, sem julgamento e cautelosa.

— Vai ficar bem?

Ela olhou rapidamente nos meus olhos, mas rapidamente mirou o chão.

— Vou ficar bem. Bill não é um cara realmente mau. Sinceramente, você só o pegou em uma hora ruim.

— Aham.

Camila voltou e entregou um cartãozinho para a cliente.

— Falo com você amanhã?

Ela assentiu e saiu.

Quando a porta se fechou, Camila suspirou alto.

— Sinto muito por isso.

— Não há nada para se desculpar. Não pode evitar que seu cliente seja um babaca. Eu mesma tenho vários deles.

— Acho que ele abusa fisicamente dela.

— Tenho que concordar com você.

— Também acho que não vou mais saber dela. Ela vai me dispensar porque a confrontei sobre o que eu suspeitava que acontecia.

— Não acha que ela vai ligar amanhã ou aparecer na sessão da semana que vem?

— Acho que não. Ele não vai deixá-la continuar. Agora que o conheço um pouco melhor, estou bem surpresa por ele ter concordado até em vir aqui. Minhas sessões têm sido apenas com ela.

— É difícil.

Ela suspirou de novo.

— Espero que ela te ligue.

— Me ligue?

— O cartão de lembrete de consulta que dei a ela era o seu cartão de visita. Achei que ela precisava mais de um advogado de divórcio do que de uma sessão de terapia de casal.

Minhas sobrancelhas pularam.

— Legal!!!

Andamos lado a lado pelo corredor.

— Uma bebida seria bom agora — Camila disse.

— Na sua sala ou na minha?

Camila olhou para mim.

— Você tem álcool na sua sala?

— Tenho muitos dias de merda.

Ela sorriu.

— No meu escritório.
* *

CAMREN: Capitã Prolactinadora (G!P) Onde histórias criam vida. Descubra agora