Cap. 17 - Era Minha Esposa

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Pov Lauren

Véspera de Ano-novo. Cinco anos atrás.

— Feliz aniversário!

Alexa estava sentada no sofá folheando uma revista People. Me inclinei para beijar sua bochecha, depois me abaixei mais para beijar a testa do meu filho de quase 2 anos, que dormia com a cabeça no colo dela. Ele estava babando. Uma piscina enorme de baba se amontoava na coxa da minha esposa.

Apontei para a baba e brinquei:

— Há alguns anos, deixar você molhada na véspera de Ano-Novo significava uma coisa totalmente diferente.

Ela suspirou.

— Queria que pudéssemos sair. Este é o primeiro Ano-Novo que fico em casa
desde criança.

A véspera de Ano-Novo era um feriado importante para minha esposa. Ela
ansiava por ele como uma criança espera pelo Papai Noel. E, no dia anterior, alguém tinha contado a Alexa que não existia Papai Noel.

Tínhamos planejado sair naquela noite ― uma festa no centro de Atlanta dada por uma amiga dela da qual eu não gostava muito ―, mas a babá nos deixou na mão.

Alexa ficou devastada. Eu fiquei secretamente feliz. Aquele era o primeiro dia de folga que
eu tinha em um mês e ficar em casa e assistir a filmes ― talvez entrar no Ano Novo dentro da minha esposa ― estivesse muito mais no clima para mim.

Mas Alexa esteve mal-humorada nas últimas 24 horas. Ela ainda estava com dificuldade em se ajustar ao novo estilo de vida que a maternidade trouxera. Era compreensível. Afinal de contas, ela tinha apenas 22 anos e todas as suas amigas iam a festas como pessoas livres de 22 anos.

Eu tinha esperança de que ela fizesse novas amizades na aula de "Mamãe e Eu" em que ela se inscreveu no último mês ― talvez amigas que fossem casadas, tivessem filho e não pensassem que beber com responsabilidade fosse virar e engolir seu shot de Goldschläger.

— Por que você não sai? Eu fico em casa com o Beck esta noite.

Seus olhos brilharam.

— Sério?

Não era exatamente como pensei em passar nosso aniversário de casamento, mas Alexa precisava disso.

— Claro. Estou acabada. Eu e meu amiguinho vamos aproveitar. Não passamos muito tempo sozinhos, de qualquer forma.

Alexa gentilmente ergueu a cabeça de Beck do seu colo, apoiou-a em uma almofada e se levantou para me dar um grande abraço.

— Mal posso esperar para usar o vestido que comprei. Rose e Allison vão ficar com muita inveja porque tenho dinheiro para comprar na Neiman Marcus agora.

Forcei um sorriso.

— Mal posso esperar para te ajudar a tirar o vestido quando chegar em casa.

*****************

Deixamos Alexa na casa da amiga Rose na noite anterior e me ofereci para buscá-la, mas ela insistiu em pegar um táxi de volta para que eu não precisasse acordar o bebê. Acabou que isso não foi um problema. O bebê estava bem
acordado, considerando que eram oito da manhã e minha esposa ainda não tinha
voltado para casa.

Beck se sentou em seu cadeirão, comendo Cheerios e fez um barulho alto para chamar minha atenção enquanto eu estava me servindo da segunda xícara de café. Enchi as bochechas de ar, expirei e fiz o mesmo barulho para ele quando me sentei. Ele me olhou temporariamente assustado com o som e, por um segundo, pensei que fosse chorar. Mas então ele deu uma risada alta, o que me
fez rir também.

— Você gostou disso, não é, amigão? — Me inclinei para perto dele e enchi as bochechas de ar de novo. — Quá. Quá.

Meu filho estudou meu rosto como se eu fosse uma alienígena, então gargalhou. Depois da terceira ou quarta vez, ele pegou o jeito, e fiquei assistindo enquanto ele tentava fazer o mesmo som. Suas bochechas pequenas enchiam, mas só um sopro de ar com um pouco de cuspe saía de sua boca. Sem quá. Eu
fazia o som e ele observava atentamente, depois tentava de novo.

Em certo momento, era a vez dele e pensei que fosse ser seu momento brilhante. Ele encheu a boca de ar e, então... prendeu a respiração. Suas bochechas rechonchudas começaram a ficar vermelhas, e sua expressão decidida. Esse era o meu garoto. Se não conseguir de primeira, tente mais. Eu tive um momento de mãe orgulhosa. Meu menino seria um campeão.

Ele fez a cara-de-prender-a-respiração algumas vezes, depois começou a rir de novo. Era minha vez. Então me inclinei para perto dele para fazer quá e, quando suguei o ar, percebi que, nessa última rodada, ele não estava tentando fazer o barulho. Ele estava cagando na fralda.

Nós dois rimos por dez minutos enquanto eu o trocava. Embora eu ache que ele estava rindo de mim e não comigo.

Um pouco depois, a máquina de merda parou. Eu o observei maravilhada por um tempo. Não era exatamente assim que tinha imaginado minha vida quando olhava para o futuro há três anos, mas não mudaria por nada no mundo. Meu filho era tudo para mim.

Quando o relógio apontou 10 horas, irritada por Alexa ainda não ter voltado para casa, comecei a ficar preocupada. E se alguma coisa tivesse acontecido com ela? Peguei meu telefone no balcão da cozinha e olhei minhas mensagens. Ainda nada. Então liguei para o celular dela. Caiu direto na caixa-postal.

A janela da sala de estar no terceiro andar do nosso prédio dava de frente para a rua Broad, três quarteirões silenciosos na periferia de Atlanta. A maioria das pessoas do mundo estava em festas na noite anterior, então a rua estava particularmente quieta esta manhã. E foi por isso que não teve como não notar o
Dodge Charger amarelo e envenenado com o número 9 pintado na lateral virando a esquina. Embora as janelas estivessem fechadas, consegui ouvir o ronco barulhento e o guinchado quando o motorista virou rápido demais.

Que trouxa. Aquela curva era um grande ponto cego. Alexa poderia estar atravessando a rua com o carrinho do bebê e aquele idiota não os teria visto até ser tarde demais.

Balancei a cabeça e observei o carro da janela conforme parou a alguns prédios do meu. Ficou ali parado e fazendo barulho por alguns minutos. Então, vi quando a porta do passageiro se abriu e um par matador de pernas saiu.

Eu era casada, não estava morta. Olhar não tinha problema.

Então a mulher saiu do carro e percebi que olhar não tinha mesmo problema.

Porque a mulher que saiu do carro de corrida de rua a alguns prédios de onde eu morava era minha esposa.

CAMREN: Capitã Prolactinadora (G!P) Onde histórias criam vida. Descubra agora