Adora recebeu em seu aniversário de 11 anos o melhor presente que poderia ter pedido, uma melhor amiga, um laço inseparável.
Catra teve que se mudar a força para outro bairro mas não esperava encontrar seu primeiro amor morando na casa ao lado.
Abri os olhos com certa dificuldade por conta da claridade do ambiente, quando minha visão se acostumou percebi que estava em um lugar diferente.
Era o quarto da Adora.
Minha cabeça foi massacrada com as lembranças do dia anterior quando me levantei bruscamente e senti os cortes dos cacos de vidro nas minhas costas. Adora tinha me tirado de lá?
E... Sombria.
Sombria tinha ido embora.
Eu estava definitivamente sozinha no mundo.
Senti meus olhos marejarem novamente e acabei nem percebendo a presença da loira no quarto com uma bandeja cheia de comida.
-Ei amor, trouxe café da manhã. - Ela disse depositando a bandeja e fazendo um leve carinho em minhas costas para não machucar.
-Mamãe foi embora Adora. Agora eu estou sozinha tem noção disso? Ela me abandonou. - Disse em meio a fungadas e soluços.
-Cat olha pra mim. - Adora disse segurando meu rosto e limpando as lágrimas com o polegar. - Eu estou aqui, não vou sair do seu lado. Papai e mamãe já concordaram que você tem que ficar aqui com a gente o tempo que quiser e precisar. Sombria se foi mas nós estamos aqui, você é minha família e eu sou a sua lembra?
Eu lembrava, um dos nossos infinitos juramentos quando crianças.
-Você sempre cuida de mim, me deixa cuidar de você agora. - Finalizou com um cafuné colando nossas testas.
-Eu te amo... Obrigada.
-Eu também te amo.
Ficamos assim por alguns minutos até a loira me oferecer os alimentos da bandeja e depois de uma relutância da minha parte acabei comendo.
-Não estamos atrasadas pra escola? - Perguntei de boca cheia o que fez Adora revirar os olhos.
-Papai disse pra gente ficar aqui hoje. Eles estão indo para uma votação importante hoje então só voltam tarde. - Deu de ombros.
-Mas a gente vai perder a matéria de prova.
-Catra você é a menina mais inteligente da cidade, não fala como se isso fosse o fim do mundo. - Adora disse me fazendo corar.
Passamos mais um tempo abraçadas depois de comer, o silêncio dominava o ambiente as vezes mas não era desconfortável, muito pelo contrário na verdade Adora sempre me dava espaço para pensar quando alguma coisa acontecia.
-Amor... - A loira chamou quebrando o silêncio. - Ontem eu não quis te acordar pra fazer isso mas precisamos fazer uns curativos em você.
Olhei para ela assentindo e tirando a camiseta ficando apenas de top. A menina franziu o cenho provavelmente com a enorme quantidade de machucados nas minhas costas mas logo esticou o braço pegando uma bolsinha com primeiros socorros. Jogou um pouco de soro em uma gaze e começou a passar pelo local.
Não pude deixar de arrepiar com o toque. Adora era sempre muito suave em tudo que fazia, até mesmo lutando parecia um anjo.
Senti a maior passar o líquido pelo meu pescoço me fazendo enrijecer pois aqueles machucados eu mesma havia causado com minhas unhas, coisa que eu fazia quando ficava nervosa.
Adora percebeu aquilo. Ela suspirou contra minha nuca me fazendo arrepiar mais ainda e deu um beijo no local.
Quando me virei para ver a cena ela me olhava com um sorriso simples.
-Eu te amo. - Ela disse.
Sem pensar duas vezes abracei o colo da menina de forma desajeitada o que a fez rir. Ela continuou o trabalho nas áreas alcançáveis naquela posição, relaxei um pouco e por um momento jurei cochilar.
Eu e Adora estávamos mais juntas do que nunca, mesmo que eu estivesse morando sozinha ainda passava boa parte do tempo com ela em casa ou na casa dela.
A loira insistia que eu passasse os almoços e jantas com eles, Randor e Marlena não pareceram se importar com aquilo, diziam que apreciavam minha companhia e aquilo me deixava profundamente feliz.
Randos as vezes me puxava para conversas mais sérias como conversar sobre o futuro e o que eu pretendia me tornar, essas sempre me deixavam nervosa mas eu sabia que o homem só queria garantir que eu e Adora fossemos independentes.
Ter eles, com certeza, me tranquilizava.
Fora meus amigos, Scorpia principalmente me apoiou muito, até me ofereceu para ir morar com ela mas eu ainda tinha uma casa pelo menos até o começo da faculdade. Dali direto para o alojamento.
Aquilo não me incomodava também pois Adora estaria comigo.
Enquanto ela estivesse ao meu lado, tudo poderia cair aos pedaços mas eu saberia que no final daria certo.
Só de pensar, a alguns anos atrás eu evitei Adora pois achei que seria apenas mais uma criança me olhando torto mas era, na verdade, minha salvadora, meu porto seguro, minha melhor amiga, a mulher que eu consegui fazer se apaixonar por mim, minha primeira paixão e o amor da minha vida.
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