Quando abro os olhos eu estou em um campo, um campo de tulipas, o mesmo que eu reconheco facilmente como sendo um sonho, ou possívelmente um pesadelo. Então eu faço o mesmo de sempre, me sento agarrando minhas pernas e as prendendo com meus braços, entre algumas tulipas e a grama. Assisto a grama e as tulipas se moverem conforme o vento, esperando algo ou alguém querer a minha atenção e eu eventualmente acordar.
Dessa vez eu até achei que não aconteceria nada, afinal estou alguns minutos sentada e nada, absolutamente nada para atrapalhar os movimentos das tulipas ou a minha falsa concentração nelas. Pelo menos era o que eu achava que era.- Moon, precisamos conversar.
Rapidamente eu reconheço a voz, fico feliz por não ser um dos demônios, mas, tenho quase certeza de que o assunto envolverá um deles. Afinal não é sempre que a Ecipses vem te visitar.
- Se veio me falar de Allex, peço que me deixe voltar a esperar os pesadelos.
- Não, não é isso, pelo menos não é a primeira coisa da qual quero discutir com você. Preciso conversar com você.
Sunn, a própria divindade queria conversar comigo, é algo irrecusável, porém ela continua sendo parente de Allex e assim como a maioria dos parentes ela iria me dizer coisas para mudar a minha opinião sobre Allex. Então ela se senta, não muito longe de mim, mas o suficiente para eu poder sentir o seu calor.
- Você tem até eu acordar, Lenda.- Eu digo num suspiro.
Apesar de tudo, não tenho nada contra ela, e a presença dela é reconfortante. Ela ficou tensa e seu calor começa a diminuir. Algo estranho. Acho que falei a coisa errada novamente ou a ofendi com a minha hostilidade. Nada novo de fato. Então ela confessa num sorriso triste que vejo pelo canto dos olhos:
- Nunca gostei de ser chamada assim.
Então penso em todos os nomes que me falaram e começo a recita-los.
- Primeira Eclipses? Sunn? Divindade? -viro minha cabeça para olhar para ela de verdade, ela parece estar incrivelmente deslocada e desconfortável- Qual prefere?
Não consegui evitar soar o mais irônica possível, afinal, qualquer um queria ter um desses nomes. Ter esse reconhecimento. Chloe sem dúvidas adoraria o "divindade".
- Sunn é menos pior- ela diz soando um pouco tímida- mas, meu verdadeiro nome é Ophelia.
Fiquei meio atordoada com a revelação e não pude deixar de me perguntar quantas pessoas sabiam ou sabem sobre isso e que talvez, ela era louca para dize-lo a mim. Confiar seu nome verdadeiro a mim.
- Ophelia?- Eu repito meio incerta se deveria trata-la tão informalmente.
Ela assume uma expressão mais triste que agora, mas ainda mantém o sorriso tímido.- É o nome que minha mãe me deu.-ela diz, seu sorriso ficando cada vez mais nostálgico, como se estivesse perdida nas memorias que o nome desencadeia nela- significa quem traz ajuda, ou quem socore.
Fico meio atordoada. O nome combina perfeitamente com ela. E sem dúvidas é um nome lindo, com a sonoridade muito boa.
- Nesse caso combina perfeitamente com você- falo com um sorriso meio tímido.
Foco novamente minha atenção nas tulipas e a deixo pensar numa resposta. Gostando até do silêncio e apenas o barulho e sensação da brisa. Então ela diz:
- Acho que minha mãe achou que eu fosse salva-la.
- De certa forma você salvou- eu falo, tentando soar gentil- afinal você é quem dividiu os mundos e os salvou, é uma lenda.
Pelo silencio que se estende julgo que ela toma tenpo para pensar nisso, arrisco uma olhada de canto de olho para ve-la, agora não mais sorrindo, no entanto também não estava triste. Talvez apática. Ela irrompe com:
- Minha mãe era um demônio.
Me virei para ela olhando-a totalmente agora, quase caindo para o lado e expressando toda a minha surpresa. E claro, me condenei umas dezenas de vezes por ter dito aquilo, não queria magoa-la, afinal estava sendo sincera desde que chegou aqui e com certeza a companhia dela era melhor que voltar aos pesadelos.
- Sinto muito- solto num tom triste.
Ela fez um breve sorriso para mim e logo voltou a sua típica expressão de calmaria, agora tomando minha atividade de encarar as flores.
- A briga entre demônios e anjos começou bem antes da rebelião, a guerra era inevitável.
- Imagino- eu disse, continuado a conversa- afinal é sempre assim, nada acontece de uma hora para outra.
Ela levantou os olhos e me olhou diretamente nos olhos, senti como se ela pudesse ver minha alma e ler meus pensamentos, me senti vulnerável e incrivelmente desconfortável.
- Moon- ela disse enfatizando muito o tom- os anjos não são realmente anjos, não leve o nome ao pé da letra- ela diz num tom firme.
- Eu sei- respondo num sorriso de compreensão- ninguém é cem por cento bom. Podem se nomear como quiserem, eles continuam sendo tão humanos quanto nós.
Ela olhou para mim com curiosidade. Só então percebi que falei "nós", e eu não sou humana, não literalmente, não mais, mas foi assim que eu cresci, como uma simples humana. AApesar da curiosidade ela não falou nada sobre isso, acho que ela compartilha da opinião de que sou bem humana no fim das contas.
- Os anjos não queriam que os demônios vivessem em Noctis- ela disse- Eles achavam que eles corrompiam seu precioso paraíso e que são inferiores a eles.
Solto uma risada sem humor e respondo com um sorriso:
- Então nem no paraíso as pessoas deixam de ser idiotas.
- O lugar em que você está não define quem você realmente é.
- Aparentemente.
Outro silêncio se instala. E eu deixei para que ela começasse a falar. Essa conversa era dela. Era para ela expor sua opinião e desabafar. Então ela diz, me surpreendendo mais ainda:
- Meu pai, um Hamon, o segundo líder do conselho de Noctis, me criou para ser uma arma. Ele queria criar algo que pudesse ser melhor que tudo que existia, mas que ainda pudesse controlar.
- Parece que nós duas temos o próprio cão como pai.
Ela deu um leve sorriso, acho que ela gostou da minha piada. Então notei o quão vulnerável ela podia estar por revelar isso para mim e eu, bom eu estava servindo de conselheira para uma divindade, não sabia como me sentir, mas felicidade estava entre a confusão de sentimentos. Afinal, ela não faria isso se não confiase em mim, eu certamente não faria.
- Acho que é por isso que gosto tanto de você sabia?-ela pergunta com um sorriso.
- Por que temos um pai de merda? Me sinto honrada.
E me sentia mesmo, tenho poucas pessoas que gostem de mim, é meio raro isso acontecer para falar a verdade. Claro, eu também não facilito, não sou uma verdadeira definição de simpatia e educação e muito menos gentileza.
- Conversar com os vivos não é algo realmente permitido, porém, não consigo evitar quando se trata de você.
- Agora, realmente é uma honra, Ophelia.
Ela deu um sorriso triste, sua expressão quase melancólica. E me amaldiçoou novamente, pois certamente falei algo que não deveria e me perguntei o que mais viria por aí.
Quais outras coisas ela confessará para mim?
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Lose Heaven (Lose Moon Vol. 2)
FantastikO que você faria se soubesse o seu destino? Tentaria muda-lo ou aceitaria os planos do Universo para você? E o que faria se não tivesse escolha nenhuma sobre isso? O que faria se sua história já estivesse escrita nas estrelas muito antes de nascer e...