- Honra? -Ophelia pergunta com um sorriso triste, quase irônico, perguntando mais para si mesma do que para mim, como se não pudesse acreditar naquilo- Sou só uma arma Moon, alguém que foi usada e certamente não para fazer o bem.
- Eu me sinto honrada por você desrespeitar a lei por mim, por gostar de mim. Você não é uma arma Ophelia, pode ter sido criada para ser uma, mas não é.
- Mas não pode negar o fato de que fui usada, de que me deixei ser usada.
- Tenho certeza de que teve um motivo para isso, ninguém se deixa ser usado por nada.
Agora sim ela me olhava como um mistério, quase fiquei ofendida, porém quase queria rir por ela me tratar assim. Afinal ela sabe tudo sobre mim. Como um espírito e a primeira Eclipses ela me acompanhou minha vida inteira, minha história inteira.
Ela suspira e me confessa:- Meu pai me levou para longe da minha mãe quando tive meu quarto aniversário, disse que eu voltaria a vê-la quando me tornasse forte o suficiente. Eu achava que ele se importava comigo, que queria o melhor para mim, afinal ele era meu pai. - Ela suspirou - Queria que ele sentisse orgulho de mim. Então ele começou a me chamar de Sunn, desde então tem sido meu nome.
- Não importa como te chamam, seu nome é Ophelia, ninguém vai mudar isso e mesmo que ninguém mais saiba, eu sei agora. Posso não ser muita coisa mas sou alguém que não vai esquecer isso. Nunca.
Ela sorriu para mim e colocou sua mão na minha, então a segurou. Uma atitude gentil que foi capaz de derreter todas as barreiras que coloquei entre nós, se ela quisesse falar sobre Allex eu não me importaria, eu iria escuta-la. Ela parecia a única pessoa que poderia tocar no assunto comigo, afinal ela o conhecia e eu sentia que ela realmente era uma amiga. Pensar nisso me fez rir, afinal estou falando de uma pessoa que viveu a milhares de anos antes de mim. Que morreu a milhares anos antes de mim.
- Obrigada, mas eu sou uma fraude Moon, um golpe. - Seu sorriso se tornou um sorriso melancólico e seus olhos, eu podia jurar que ela iria chorar a qualquer momento - Ascendi para anjo nos meus quatorze anos e só ascendi para demônio aos dezoito, quando fui acorrentada e lançada em um vulcão, junto com outros demônios e minha mãe.
Não consegui falar nada, e mesmo se conseguisse eu não saberia o que dizer. Cada vez mais os anjos se tornavam os verdadeiros demônios. Quase tive pena de Allex por ser dessa família, porém, me lembrei que ele fazia jus à ela. E então me odiei mais um pouco por me lembrar dele e pensar nele quando outra pessoa precisa da minha ajuda e quer ela. Com um esforço eu consegui tira-lo, momentaneamente da minha cabeça, afinal sei que ele voltará a me assombrar.
- Senti tanta raiva Moon, me senti tão impotente naquela hora. Eu não sabia o que fazer e se conseguisse sair viva dali não sabia se matava meu pai e todos do conselho. Quando estava caindo não sabia se salvava os outros demônios ou minha mãe... E então eu ascendi e salvei os demônios, pelo menos alguns deles eu consegui salvar, porém não consegui salvar minha mãe. E quando cheguei na boca do vulcão eu fui aprisionada, os feiticeiros do conselho colocaram um selo em mim, então, meu pai jogou novamente os demônios que salvei para dentro do vulcão e no final meu gesto não valeu de nada, a morte da minha mãe não valeu nada. Foi tudo em vão.
Ela parou, como se estivesse revivendo a memória novamente e nesse momento eu agradecia por ela não ter feito uma conexão, agradecia por ser palavras e não imagens, eu não as suportaria.
Não falei nada, não conseguia falar nada. Eu não sabia o que falar, não sabia nem o que tentar falar. Então lembrei que as vezes as pessoas não precisam que fale nada, só precisam que as escute e que permaneça lá, para escuta-las.
Então eu dei um leve aperto em sua mão, mostrando que estava aqui e a tirei das memórias. Ela olhou para mim, e quase vi agradecimento em seus olhos, então ela respirou como para pegar coragem e se eu não estivesse tão preocupada com ela, eu perguntaria se ela podia realmente respirar ou sentir o aperto que dei em sua mão.
Ela então voltou a falar:- Fiquei presa até a rebelião começar, fiquei horrorizada, tinha tanto sangue, tantos mortos, tantas crianças, e o paraíso que eu conhecia foi destruído. Então fui usada e destruí mais o paraíso que conhecia. Quando mandei os demônios para o inferno eu só conseguia chorar, era a única coisa que eu conseguia fazer por vontade própria. Então, quando eles liberaram o selo que me prendia, eu ofereci minha vida ao universo e criei a Terra, criei um mundo para as pessoas que morreram, para as pessoas que eu matei, um lugar em que não era para existir nada além de humanos, todos seriam iguais... porém após os humanos iniciarem uma terceira guerra mundial os anjos desceram a Terra, e a tomarem, dizendo que somente os anjos poderiam comandar a Terra, que somente eles eram capazes de impedir uma quinta guerra, só eles poderiam impedir que eles agissem como demônios. Mas era só uma desculpa para controlar a Terra, uma desculpa para manter os anjos no poder.
Então ai, meu mundo começou a cair novamente. E eu me vi num mundo cheio de mentiras muito mais antigas e profundas do que eu imaginava.
- Como?- foi o máximo que consegui deixar sair.
Ela olhou para mim e foi a vez dela de dar um aperto em minha mão, ela sorrio para mim com tristeza e me deu um olhar de compreensão, ela deve ter notado o quanto eu estava surpresa com o fato. Então calmamente ela voltou a falar.
- Depois da Quarta Guerra Mundial, o Conselho de Noctis entrou em uma votação e julgaram que o melhor seria eles enviarem anjos para governar a Terra.
Não pude falar nada, ainda estava confusa e chocada com o fato. Deixei que ela continuasse, sem me preocupar com minha realidade desabando, novamente.
- Então, um Hamon ofereceu seus sete filhos, disse que seus filhos governariam a Terra e que eles e seus descendentes sempre seriam liderados pelo Conselho e que eles fariam o que o conselho exigisse ser o melhor. "Dever e obrigação para com o céu".
Foi aí que as peças se encaixavam, as estátuas, monumentos e igrejas sempre tinham anjos. E todas as fotos dos castelos e palácios se podia ver os anjos nas pontas das torres e nos telhados, e na portão principal. E Onham, bom se separar as letras, dentre todas as combinações possíveis. Esta o nome Hamon nele. Não era um segredo, mas ninguém tinha sido capaz de ligar os detalhes. Certamente eu não seria, talvez o meu tio Elyon que se mostrou extremamente inteligente sobre isso e também, sendo aprendiz de um membro do conselho, certamente devia saber ou ter suas suspeitas.
Mas eu... eu só pude assistir a minha realidade mudar novamente. Só pude escutar as verdades e mudar minha visão de realidade novamente e ver o quão ignorante eu era.
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Lose Heaven (Lose Moon Vol. 2)
FantasyO que você faria se soubesse o seu destino? Tentaria muda-lo ou aceitaria os planos do Universo para você? E o que faria se não tivesse escolha nenhuma sobre isso? O que faria se sua história já estivesse escrita nas estrelas muito antes de nascer e...