Capítulo 9

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Nem mesmo um banho frio foi capaz de tirar o calor do meu corpo. Amaldiçoei mentalmente aquele homem por me deixar assim. Estava prestes a sair do banheiro quando ouço batidas na porta:

-Lucille? Deixei algumas roupas para você no quarto, use-as se se sentir confortável. - Era a mesma voz sussurrada que estava tirando minha paz.

-Eu... Ok. Obrigada.

Bufo de raiva quando sinto minhas bochechas corarem mais uma vez. Permaneço colada a porta tentando, e falhando, escutar seus passos se afastando. Quando presumo que já tenha passado tempo suficiente eu corro para o quarto. Há várias trocas de roupas por cima da cama, a adaga que eu avia esquecido na sala de treinamento estava no meio, eu olho cada uma, observando cada detalhe diferente das que eu estava acostumada a vestir. Todas parecendo ter sido feitas para alguém maior que eu, mesmo assim algumas deixavam partes do corpo de fora, eu escolho uma legging e uma blusa preta que cobre até o pescoço, cobrindo todas as minhas cicatrizes, pego a faca e a coloco na cintura. Azriel está me esperando na sala quando eu desço.

-Está bonita. - Diz me olhando dos pés a cabeça.

-Obrigada. - Penso em coisas aleatórias para que meu rosto permaneça da cor normal.

-Eu estive conversando com a pessoa capaz de quebrar o feitiço que colocaram em você, nós iremos até ela quando você se sentir pronta.

-Ela vai me ajudar?

-Sim.

-É qual vai ser o custo?

-Custo? - Ele franze o cenho.

-Sim, custo. Eu não posso esperar, e também não aceito, que depois de toda a hospitalidade e generosidade eu não deva nada a você e agora a essa pessoa que pode me ajudar.

-Você não tem que se preocupar com isso. - Ele cruza os braços.

-Mas eu me preocupo. - Dou alguns passos em sua direção. - Você cuidou de mim, me deu abrigo, comida e agora roupas...

-Não quero que você pense que me deve alguma coisa por isso.

-Eu devo. Vou encontrar algum jeito, algum trabalho, para poder pagar por tudo o que me fez.

-Não quero que me pague. - Ele dá alguns passos na minha direção também. - Eu tenho dinheiro suficiente para manter nós dois aqui.

Eu me surpreendo com suas palavras, quanto tempo ele espera que eu fique? Nós estamos bem próximos um do outro, eu com a cabeça levantada para encara-lo. Não tem possibilidade nenhuma de eu ficar aqui às custas dele, colocando-o em perigo, comendo da comida dele, dormindo na cama dele, usando as roupas dele sem pagar por isso. Ele suspira enquanto descruza os braços.

-Essa casa é minha, e você é minha convidada de honra.

O resto da noite nós jantamos em silêncio, mesmo insistindo ele não permitiu que eu lavasse a louça, depois fomos cada um para um quarto, aproveitei para começar mais um livro, continuei lendo até cair no sono.

Era noite, as estrelas brilhavam no ceu enquanto eu andava por uma cidade completamente destruída. Não havia mais risos ou conversas, apenas silêncio e corpos espalhados pelo chão, meu coração batia forte e arrependimento parecia querer corroer meu corpo. A lua reflete um rosto em especial no meio da multidão e eu corro até ele, me lançando de joelhos ao lado do corpo sem vida de Azriel, minhas mãos tremem quando eu seguro seu rosto, suas asas estão destruídas, há muito sangue e queimaduras por toda parte. Imediatamente eu sei quem foi o autor de tanta destruição. Eu destruí a cidade. Eu matei Azriel. Tento gritar mas não sai som algum, eu começo a me afogar no sangue dele, no sangue que eu mesma tirei...

A Corte de Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora