Capítulo 26

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Os braços de Azriel me apertando contra seu corpo são a única garantia de que eu não estou morta. E nem ele. Estou tremendo violentamente e lágrimas mancham meu rosto enquanto meu ouvido está zumbindo. Me agarro a sua camisa precisando ter certeza de que ele está bem, seguro e vivo. Ele está sussurrando algo para mim, mas não consigo escutar, tento, mas estou completamente esgotada e aterrorizada. Não tenho ideia do que acabou de acontecer, do porque eu vi o que vi, porque estive onde estive, foi diferente de todas as outras coisas. Procuro me atentar a coisas presentes para me afastar das lembranças, sinto o coração do illyriano que bate rápido demais contra a minha bochecha, o calor de seu corpo, o cheio familiar, o toque suave que molha minha roupa... Molha minha roupa e a deixa úmida e quente, como sangue. Ainda tremendo, procuro sua mão e a sinto molhada contra a minha, abro os olhos e a vejo ensanguentada e machucada, ergo a cabeça rapidamente.

-O que aconteceu com as suas mãos?

-Lucille... - Sussurra.

Seus olhos estão arregalados, preocupação estampada em seu rosto, cabelos desgrenhados e pregados a sua testa molhada de suor, suas asas estão nos escondendo e suas sombras estão por toda parte. Suas mãos tremem quando ele segura meu rosto.

-Você está bem?

-Eu... - Coloco as mãos por cima das suas. - Suas mãos...

-Tentei passar pelo escudo, não consegui quebrar.

-Você socou? - Ele assente. - Por quê? - Pergunto.

-Eu precisava chegar até você.

Meu coração parece queimar, seu toque nas minhas bochechas queimam, ele puxa meu rosto para perto do seu e beija minha testa.

-Você me assustou. - Sussurra contra minha pele, suas mãos tremem mais uma vez.

-Me desculpa. - Sussurro de volta.

-Não foi culpa sua, foi minha. Eu a fiz se esforçar demais, e peço perdão por isso.

-Não tem que me pedir perdão.

-Tenho. - Se afasta para olhar em meus olhos. - Eu tenho.

-Está tudo bem. - Tento forçar um sorriso mas sai como uma careta. - Vamos, temos que cuidar disso. - Sinto os cortes em seus punhos.

Suas asas se abrem e eu me levanto, só para quase cair e ser amparada por ele, que se levanta rapidamente, seus olhos ainda estão arregalados e isso me preocupa, sinto como se tivesse escondendo algo, não gosto da sensação. O encantador de sombras me segura contra seu peito e atravessa para casa.

-O que aconteceu? - Ele quebra o silêncio.

Estamos ambos sentados na cama, um de frente para o outro, eu limpo seus cortes com o kit de socorros. Sua pergunta me pega desprevenida.

-O que?

-Você saiu para jantar e de repente eu sinto como se alguma coisa estivesse errada com você...

-Espera. - Franzo o cenho. - Você sentiu? Como assim?

-Eu... - As mãos do illyriano tremem e seu olhar vacila.

-O que está acontecendo, Azriel?

Ele puxa as mãos para si e esfrega o rosto, parecendo cansado, olha para mim e suspira.

-Nós temos muito o que conversar e tenho coisas muito importantes para te contar, mas não acho que agora seja uma boa hora. Você acabou de, sei lá, não sei dizer o que aconteceu, mas ainda está ofegante e tremendo.

Eu reparo nas minhas próprias mãos e vejo que ele está certo, respiro fundo, exaustão cada vez mais tomando conta do meu corpo e mente, decido não insistir, fico em silêncio.

A Corte de Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora