Capítulo 5

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Nós acabamos de comer em completo silêncio. Eu me obriguei a engolir a sopa, tinha perdido o apetite.

-Você não vai tirar os meus pontos.

-Por que não? - Afasta a tigela vazia.

-Posso fazer isso sozinha.

-Eu tenho certeza que sim, mas eu posso te ajudar. - Ele cruza os braços, me encarando - Compensar o que fez por mim.

-Eu não fiz nada de mais.

-Você cuidou de mim.

-Você cuidou de mim primeiro.

-Eu não vou forçar você, mas seria mais prudente que outra pessoa fizesse isso. Você pode acabar se ferindo de novo.

Azriel respira fundo, se levantando e eu desvio o olhar do seu, observando minhas mãos cheias de cicatrizes e calos. Eu com certeza estou sendo imatura, e ele está certo, mas a ideia de ter outra pessoa observando uma vulnerabilidade minha ainda me apavora. Eu também me levanto, pegando nossas tigelas.

-Não se preocupe com isso, você também precisa descansar.

O homem tira, cuidadosamente, os utensílios da minha mão, levando-os até a pia.

Eu sigo para o banheiro, evito os espelhos e entro na banheira. Puxo os joelhos para o peito e os abraço, deixando que a água me cubra. Fecho os olhos enquanto deixo minha cabeça tombar para a frente.

O buraco no meu peito ameaça me engolir e eu tento lutar contra ele buscando a minha única lembrança boa e me agarrando a ela. Deixo que a voz doce da minha mãe ecoe em meus ouvidos uma vez mais. Ela me tranquiliza e o buraco volta a se esconder. Permaneço na mesma posição por mais alguns momentos antes de me lavar.

Desço para a sala alguns minutos depois, encontrando Azriel limpando suas facas, a lareira está acesa e eu me aconchego na poltrona mais perto.

-Sabe... - Ele começa - Você roubou a minha adaga favorita.

-Qual? - Sorrio - Está falando dessa adaga?

Tiro a faca do cós da calça e a giro entre meus dedos. O macho para o que estava fazendo e observa atentamente o movimento da minha mão, depois olha meu rosto com um sorrisinho de lado. Mais uma vez apelo para todo o treinamento passado para evitar que meu rosto core.

-Exatamente.

-Eu perdi as minhas e essa parece ser capaz de me servir bem. - Jogo-a para cima e a pego sem qualquer corte ou arranhão - Eu gosto dela.

-Então acho que posso ficar com essas.

Ele levanta a faca que estava limpando e faz sinal para as outras na mesa, só então eu reconheço como as minhas facas. Estão em menor quantidade do que antes, mas ainda sim são elas. O mestre das sombras volta a se concentrar nas adagas.

-Onde você as encontrou?

-Foi você quem trouxe. Atravessou com duas nas mãos, as outras estavam presas na sua perna.

-Eu as quero de volta, mas vou ficar com essa. - Volto a brincar com a adaga dele.

-Está sendo egoísta. - Sorri de lado.

-Não acho que...

As palavras morrem na minha boca ao mesmo tempo em que eu escuto um rugido alto e consideravelmente próximo. Os olhos de Azriel encontram os meus, seu sorriso some e nós nos levantamos rapidamente. Ele pega minhas adagas enquanto as sombras cochicham em seus ouvidos. Seguro o cabo da adaga com força.

-Eu te disse, não tem como fugir. - Ando em direção a porta.

-Onde você vai?

-Elas vieram aqui por mim, eu estou pronta pra elas.

A Corte de Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora