Capítulo 3

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Seria mentira se eu dissesse que as palavras dele não me deixaram mais calma, mas ao mesmo tempo eu fiquei ansiosa pra mostrar que eu não preciso de proteção. Me levanto do sofá e passo rapidamente por ele, esbarrando em seu braço propositalmente, indo em direção ao quarto. Paro antes de abrir a porta.

-Agradeço pelas palavras de conforto e a hospitalidade. Mas... - Abro um sorriso irônico e tiro da manga a adaga que roubei de sua bainha quando passei por ele - Eu não costumo aceitar ofertas de proteção.

Me viro a tempo de vê-lo piscando de surpresa e conferindo a bainha, antes de seus lábios formarem um rápido sorriso de lado.

-Acho que vou ficar com essa. Por precaução. - Dou uma piscadinha e entro no quarto.

Deito novamente na cama, colocando a adaga debaixo do travesseiro e puxo as cobertas até o pescoço. Por um tempo eu apenas fico ouvindo as batidas frenéticas do meu coração, tentando organizar todos os confusos e embolados pensamentos.

Um desconhecido me ofereceu proteção depois de ter salvo a minha vida. Seguindo as ordens do rei, ele claramente é um dos inimigos. Mas eu não sigo mais suas ordens. Por algum motivo esse homem me salvou e se ofereceu pra me salvar novamente. Eu não consigo ver a razão, não consigo ver um motivo pra isso. Meus olhos começam a pesar ao mesmo tempo em que meu corpo relaxa. Eu adormeço.

As algemas nos meus pulsos e tornozelos pesam, meu corpo todo dói, não tenho forças pra nem mesmo levantar a cabeça. Estou mais uma vez algemada nas paredes de ferro do calabouço do castelo de Hybern. A porta range, passos lentos e pesados vem na minha direção. Minha respiração fica mais rápida, mas é a única reação de medo que eu deixo que ele veja. Suas botas estão no meu campo de visão agora. Me obrigo a levantar a cabeça e encontrar seus olhos escuros e terríveis.

-Você tem uma missão.

Ele tomba a cabeça para o lado antes de um sorriso horrível e cruel brotar em seus lábios. Ele avança...

Mãos seguram meus ombros e eu grito para o escuro. Procurando fugir daquele lugar e daquela sensação eu solto meu poder, colocando minhas mãos nos braços que me seguram na cama e me permitindo ferir o meu agressor, que solta um grito de dor mas não se afasta. O som me afeta também e eu me sinto entrar em desespero, permito que mais do meu poder saia.

-Lucille! Você precisa parar! - As mãos saem dos meus ombros e seguram meu rosto. - Sou eu! Você está bem...

Abro os olhos e encontro as feições de Azriel se contorcendo de dor. Afasto as mãos dele. Por que ele está aqui? O pegaram também! Olho ao redor sentindo o pânico me puxar, abro a boca para implorar que ele fuja mas nada sai, nada entra também. Não consigo respirar. Começo a me debater, tentando puxar o máximo possível de ar, mas nada vem.

-Olha pra mim! - A voz agoniada está mais perto agora. - Olha pra mim, Lucille!

Meu olhar busca, desesperadamente, o dele. Seu rosto é a única coisa que eu consigo ver na escuridão, está a centímetros do meu e eu olho diretamente em seus olhos.

-Respira. - É com calma que ele fala agora - Continue olhando para mim. Você está aqui, está tudo bem.

Meu corpo começa a acalmar e aos poucos o ar começa a entrar e sair. Posso sentir a cama abaixo de mim, a gota de suor que escorre pela minha testa, as mãos calejadas e ásperas de Azriel nas minhas bochechas.

-Isso. Continue respirando.

As batidas do meu coração começam a voltar ao ritmo normal. Foi um pesadelo. Um pesadelo de um passado horrível. Sinto meu rosto molhado e pegajoso, provavelmente molhando também as mãos do homem que me olha com preocupação.

A Corte de Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora