Capítulo 11

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Nós nos olhamos por muito tempo, a tensão podia ser cortada como um pedaço de bolo, o rosto do homem a minha frente estava inexpressivo, ele dá um passo a frente e as sombras nos rodeiam, seus olhos fixos nos meus. Não o culparia se ele me matasse, na verdade eu até agradeceria.

-Isso não é uma coisa que se deva esconder. - Apresar de tudo, sua voz ainda é calma.

-Eu sei, eu quis contar, acredite, eu quis muito. Eu só... - As palavras somem e eu me calo.

-Lucille, você estava prestes a assassinar minha Grã-Senhora e eu te trouxe diretamente a ela, para que ela pudesse quebrar o feitiço em você.

Feyre Archeron, a quebradora de maldição. É óbvio! Eu não havia relacionado antes e agora a revelação me atingiu em cheio.

-Feyre... Foi para ela que você pediu ajuda?

-Sim.

-Eu não posso...

-Acredite. - Ele me interrompe. - Te levar até ela seria a última coisa que eu faria nesse momento.

Eu entendo seus motivos e concordo com ele, mas aquilo não me impediu de me sentir mal.

-Você não devia ter escondido isso de mim, Lucille, eu te disse desde o primeiro dia onde estávamos.

-Sim, eu...

-Foi por isso que você reagiu daquele jeito, não foi?

-Sim. - Olho para as minhas mãos, envergonhada.

-Você sabe que eu não vou poder esconder isso deles, não é?

-Sim, não quero que escon...

-Eu fui irresponsável trazendo você para cá. - Azriel passa as duas mãos pelos cabelos e respira fundo, é o único sinal de irritação que ele me permite ver. - O que mais você esconde, Lucille? Quando pretendia me contar que é uma assassina? Depois que matasse meus senhores? Ou me deixaria descobrir sozinho enquanto estivesse voltando para Hybern?

Suas palavras são frias e me ferem como lâminas de gelo afiado, mas eu as derreto ao mesmo tempo que o ataco. Meu pé direito passa rapidamente por trás dos seus, seguro seu pescoço ao mesmo tempo que ele se desequilíbra e cai com as asas no chão, aproximo meu rosto do seu encarando sua expressão chocada e surpresa.

-Eu sei que errei, Azriel. - Rosno sem afastar o olhar. - Mas isso não te dá direito de me julgar ou falar de mim como se soubesse o inferno que eu passei. Você sabia desde o começo que eu tinha meus segredos e me disse que também tinha os seus. Não fale como se eu fosse a única a esconder coisas porque eu sei que não sou. - Solto seu pescoço e me levanto. - Você fez muitas perguntas, mas esqueceu a mais importante. Eu teria ido até o acampamento para matá-la se não tivesse fugido? - Engulo em seco antes de cuspir as palavras para fora. - Eu teria ido atacá-la na esperança de que ela, seu Grão-Senhor, ou qualquer outra pessoa me matassem. Não ligaria se fosse uma morte lenta e dolorosa, contanto que fizessem, teriam realizado o meu único desejo. Morrer.

Passo por suas sombras e começo a me afastar o mais rápido possível, seguindo o mesmo caminho que fizemos para chegar até ali. Raiva, culpa, angustia e tristeza ameaçam me engolir, minhas mãos tremem e há suor gelado escorrendo pelo meu pescoço.  Eu ouço a voz de Azriel me chamando e ignoro, ouço quando ele começa a se aproximar e quase corro para longe. Sua mão envolve meu pulso.

-Luci...

-Não encosta em mim! - Grito.

No mesmo instante ele me solta e se afasta. Volto a seguir para a casa, agora correndo. Ignoro os olhares curiosos e surpresos que são lançados na minha direção e corro.

"Assassina!"

A voz de Azriel se repete na minha cabeça. Não sei quanto tempo se passa até que eu chegue na casa, sigo em direção ao banheiro e me jogo na frente do vaso, vomitando.

"Assassina!"

Eu vomito, vomito e vomito, na esperança de que aquela palavra vá embora.

"Assassina!"

Diversos rostos passam pela minha cabeça e eu vomito a cada lembrança horrível, até não ter mais nada para colocar para fora. Quando consigo me levantar, meu corpo todo treme e preciso me apoiar na parede para chegar até o quarto. Tenho tempo apenas de trancar a porta antes de cair no chão. Puxo meus joelhos e os abraços, sentindo os espasmos que começam desde a minha cabeça até os meus pés.

"Assassina!"

Fecho os olhos, encontrando o corpo pálido da minha mãe caído no chão sujo do calabouço, suas mãos ainda quentes por ter acontecido recentemente, os olhos esmeralda sem vida, muito sangue...

"Assassina!"

A palavra se repete várias e várias vezes e eu desisto de tentar afastá-la, passo a ouvir atentamente, começo a aceita-la. Ele não mentiu, eu sou uma assassina, eu sempre fui.

"Assassina!"

Sim. É isso que eu sou, uma assassina.

"Assassina!"

"Assassina!"

"Assassina!"

"Assassina!"

E então uma voz conhecida começa a lutar para ficar mais alta, se agarrando a essa outra que aos poucos vai perdendo a força e ficando mais baixa.

"Lucy..."

É a voz da minha mãe. Essa é a única voz agora, eu estou focada nela, meu corpo começa a relaxar enquanto minha mãe se esforça para falar.

"Lucy, eu amo tanto você, meu amor..."

Cubro a boca quando um soluço escapa, sentindo meu rosto completamente molhado. Eu estava finalmente fazendo algo que não fazia há anos, eu estava chorando.

"Não importa o que aconteça... Você é boa..."

Eu queria poder dizer que ela estava certa, mas não estava. Mais e mais soluços começam a escapar e eu choro, minhas mãos cobrindo meu rosto.

"Querida..."

Minha mãe começa a falar quando outra voz se sobrepõe a sua. Desespero me consome quando eu a reconheço. Tento segurar o mais forte possível a voz tranquila que começa a se afastar, mas ela some e leva com ela toda a calma que havia trazido em poucos segundos. Meu corpo fica imóvel, as lágrimas não querem mais descer e meu coração dispara quando eu a ouço claramente.

"Eu te disse que isso aconteceria, não foi?"

O rei de Hybern sussurra no meu ouvido, posso ver seu sorriso asqueroso quando ele se abaixa para olhar em meus olhos, limpando uma de muitas lágrimas que escorriam pela minha bochecha. Eu odiava aquela lembrança.

"Sentimentos são nocivos, você acaba com eles ou eles acabam com você."

E no final ele estava certo.

A Corte de Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora