O seu sorriso com a sua boca larga, que mostrava todos os seus dentes, brancos como a neve, revelava a sua total falta de preocupação com os seus inimigos. Observou Carmélia a curar Tony e Vanda, e o conselheiro lá, de pé, como se estivesse aguardando que ele se rendesse. Mal sabiam eles que, enquanto tudo isso acontecia, o seu chapéu era energizado em sua quase totalidade. Naquele ponto, nem todos os conselheiros daquele lugar juntos poderiam pará-lo. Mas, a sua confiança logo fora abalada ao ver o diário da sua amada, Francisca, nas mãos de Guga. O seu sorriso se desfez, e ele, em tom ameaçador, começou a falar:
— Você deve ser o garoto que tanto se ouve falar em Monte Cinza, né? O ser tão colorido e cheio de vida que se destacou e atraiu tantos olhares curiosos por lá. Sabia que eu estava ansioso para vê-lo pessoalmente? — Disse Donie, aproximando-se do seu chapéu a passos vagarosos. — O menino e o chapéu de Antony Cobrich. Como eu desejei tê-lo de volta. Hoje, olho para esse objeto tão gracioso em sua cabeça, e não sinto mais desejo algum por ele.
— Enzo, fique parado e se renda! São quatro contra um, você não tem chance! — Gritou Aron, tentando intimidar Donie, mesmo sabendo que seria bem difícil o fator numérico ser uma vantagem para eles.
— Bem, Guga, você deve ter família, certo? — Perguntou Donie.
Guga, parado, apenas ficou a observar o mafioso a dar mais passos ainda em direção do chapéu, sem responder nada.
— Acho que, pelo bem do seu pai, da sua mãe e dos seus amigos, você tem uma escolha bem óbvia para fazer. Entregue-me o diário em sua mão. Vocês não terão chances contra mim de toda forma. — Disse Donie, ficando parado a poucos centímetros do seu chapéu.
— Acho que você tá se borrando de medo — disse Guga, afrontando Donie.
Naquele momento, todos que estavam ao seu redor impressionaram-se com tamanha coragem. Donie, irritado com o atrevimento do garoto, pegou o seu chapéu, com o mesmo a emanar uma energia intensa e raios para todos os lados, que atingiam o solo e as árvores ali por perto e ofuscavam a visão de Gustavo e seus amigos.
Todos ali esperavam um combate sem precedentes. A energia que Donie emanava de si era impressionante, e o local, pouco iluminado pelas árvores fosforescentes dali, agora ganhava a coloração esverdeada do seu chapéu. As marcas no chão, que estavam abaixo do fedora, movimentavam-se de forma circular, lentamente, e Aron, de cara, percebeu que o poder de Enzo havia aumentado consideravelmente e que ele ativara uma espécie de portal.
— Vejam! Vejam, que coisa linda! Aqui será o portal entre esse mundo, e o mundo medíocre dos vivos — disse Donie, apontando para os desenhos do solo, que se moviam radialmente e cada vez mais depressa. — Saiam, minhas criaturas! Saiam da escuridão! Venham para a luz verde da esperança! Eu convoco a todos que sempre estiveram ao meu lado por onde passei! Venham! — Concluiu, disparando rajadas verdes por todos os lados, criando portais para que criaturas de todo aquele mundo pudessem chegar ali.
Ao dar o primeiro passo para avançar na direção de Donie, Aron e todos dali foram surpreendidos com um tremor intenso de terra, fazendo com que eles se desequilibrassem. Os olhos deles não acreditavam no que estavam vendo. A ilha inteira agora erguia-se sobre o mar avermelhado. À medida que o pedaço gigante de terra subia vagarosamente, criaturas de todos os tipos saíam dos portais criados por Donie, incluindo Argo, Bafo e Vera. Grunhidos pavorosos, como de porcos selvagens, perturbavam os ouvidos de todos dali. Homens encapuzados, monstros humanoides de três olhos, aranhas e escorpiões gigantes, todos saíam daqueles locais, cercando a equipe que, naquele momento, se via quase sem esperança, mas firme e com coragem.
— E agora, o que fazemos? — Perguntou Tony.
— Protegemos Guga — respondeu Aron.
— Pessoal, o diário! Pra saber o que aconteceu com ele, só precisamos da chave dessa droga de diário que tá dentro do paletó de Donie! — Gritou Gustavo. — De acordo com o que descobri, Enzo e Francisca tinham um pacto entre eles. Ela guardava as chaves do cofre dele com ela, que era a sua própria caneta, só bastando girá-la duas vezes para a esquerda, fazendo sair o encaixe para o cofre na sua ponta, e ele guardava a chave do diário dela no bolso interno do paletó, sempre entregando pra Francisca quando ela precisasse, pra que ela anotasse os acontecimentos mais importantes do dia aqui.
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O chapéu de Antony Cobrich
FantasyGustavo, mais conhecido como Guga pelos seus familiares e amigos, é um menino de 13 anos que tem a sua vida virada pelo avesso. Após pegar um atalho para o caminho da escola e atravessar o bosque próximo da sua casa, notou um chapéu em um galho de u...