Capítulo 14 - O espelho, a caneta e o diário

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O clima gélido proveniente do eterno crepúsculo de Monte Cinza parecia ainda mais penetrante nos corredores da grandiosa mansão por onde o garoto seguia a passos cautelosos. Seu nervosismo e o clima misturavam-se em um só, resultando tremedeiras involuntárias de seus membros superiores e inferiores.

O corredor, que ostentava de várias portas totalmente quadradas em ambos os lados, continha uma iluminação ruim, apesar dos enormes lustres de luzes verdes que iluminavam precariamente o local. Guga, por sua vez, caminhava desordenadamente até o fim dele. Passos grosseiros pelo assoalho de madeira denunciavam que alguém muito grande estava quase dobrando o corredor para vir em sua direção. Rapidamente, o garoto entrou por uma das portas, que estava apenas encostada.

O som dos passos ia aumentando conforme o indivíduo se aproximava do quarto de onde Guga estava, e o garoto, com medo, ficou a encarar a porta, imóvel, esperando que a pessoa se afastasse dali. Alguns segundos depois, apenas se ouvia o eco do firme andar pelo chão a diminuir seu som e a se distanciar cada vez mais.

Não muito tempo após respirar fundo, viu ao virar-se um misterioso livro a flutuar na companhia de um espelho quadrado e uma caneta violeta. Pensou em sair correndo pela mansão ou em retirar o chapéu no susto, mas por um minuto, se conteve e caiu em si de que precisava buscar respostas para resolver toda aquela situação com os seus novos amigos. 

Tomando coragem, o menino andou em direção aos objetos flutuantes. Observou por um instante a luz verde vinda do teto a refletir e deixá-los em tom esverdeado. Decidiu então pegar primeiramente o espelho. Nele, viu o que parecia ser uma bela mulher com olhos de cor de mel e cabelos enormes, cacheados e de tom marrom. Se perguntou baixinho na mesma hora: "quem é essa mulher? O que ela tá fazendo aqui, no espelho? Ela tá presa aqui?". Poucos segundos depois, percebeu que a imagem dela, refletida nele, parecia apenas uma foto com um breve movimento que sempre se repetia. Logo, tomou por intuição que aquilo poderia se tratar de repente de uma lembrança ou algum tipo de registro fotográfico, só que do mundo dos mortos.

Deixou o espelho em cima de uma cômoda que havia lá perto, e ele, assim que o soltou, começou a flutuar novamente. Em seguida, o garoto pegou a caneta, dando um pequeno pulinho para alcançá-la. Observou-a e não viu nada de mais. Resolveu então largá-la também em cima da cômoda, e ela também voltou a flutuar. Por último, o garoto pegou o livro, e notou que o mesmo não se tratava de um livro, mas sim, de um diário. Ao tentar abri-lo, notou que ele estava fechado, possuindo uma fechadura em sua lateral.

"Droga, aqui com certeza deve haver alguma informação muito importante sobre Donie, não tenho dúvidas", pensou Guga.

De repente, um estrondo faz a porta do quarto de onde Gustavo estava se partir em dois pedaços, um deles quase atingindo a cabeça do menino, que naquela hora, abaixou-se e deu um berro, assustado. Um homem enorme e musculoso, de cabelo grande e liso, com aspecto sombrio, de sobretudo, encarou Gustavo com os seus olhos azuis vazios e sem vida. 

— Você não é bem-vindo aqui — disse o homem misterioso, andando a passos lentos na direção do garoto, com os punhos cerrados.

— Eu, eu... eu só queria... — tentava falar Guga, apertando o diário contra o seu peito com uma das mãos e colocando a outra vagarosamente em direção do chapéu.

— Queria se meter aonde não foi chamado — completou o homem. — Agora vai ter o que merece — concluiu, avançando rapidamente pra cima do garoto.

Ao se aproximar, o homem simplesmente foi envolvido por uma espécie de fumaça lilás brilhante que saía das mãos da pessoa que Gustavo menos esperava ver naquele momento: Vanda. Movendo o gigante esquisito para a beira de uma janela, de repente, Antony também aparece logo atrás dela, pegando um impulso e dando um empurrão com toda a sua força no homem, fazendo ele quebrar a vidraça e cair para o lado de fora da residência.

— O que tão fazendo aqui? — Perguntou Guga.

— Salvando a sua vida, pirralho — disse Tony. —Não temos tempo pra conversa, vamos embora logo daqui!

Ouviram-se grunhidos bizarros vindos do lado de dentro e de fora da mansão. Uma correria intensa se iniciou e o trio seguiu a correr procurando a saída da residência. Seguiram pelo corredor de onde Guga havia ido, seguindo para o fim dele, e em uma decisão rápida, Vanda disse: "por aqui rapazes, esquerda!"

Pela direita, um batalhão de homens encapuzados perseguiam os três, que haviam seguido pelo lado oposto do deles. Em um lance de esperteza, Tony derrubou um quadro e, em seguida, uma cômoda para atrasá-los. Com alguns segundos a mais de vantagem, Vanda, que estava na frente dos outros dois, esticou a sua mão para a porta no fim do corredor de onde estavam e a abriu com a força do seu pensamento.

— Ela sabia fazer isso esse tempo todo? — Perguntava Guga, ofegante, correndo sem parar.

— Eu sei lá! — Respondeu Tony.

Um homem encapuzado puxou Tony pela camisa que, imediatamente, deu-lhe um gancho certeiro de direita em seu queixo, fazendo-o cair na mesma hora, atrapalhando mais ainda os outros homens que os perseguiam. Seguindo logo depois de Vanda e Guga, deparou-se ao sair da casa com um outro grande grupo de homens encapuzados que os esperavam. Estavam cercados. 

— Me escutem, desmaiarei logo depois de fazer isso, então por favor, cuidem bem do meu corpo! — Disse Vanda.

— O que!? Como assim!? — Perguntou Tony.

Então, Vanda começou a contagem regressiva:

— Três...

— O que vai fazer!? — Perguntou Tony, voltando as mãos à cabeça, olhando os homens encapuzados a se aproximarem deles, furiosos e com grunhidos bizarros, como porcos selvagens.

— Dois...

— Vanda!?— falou Tony novamente.

— Um!

— AAAAAAAAH! — Gritaram os dois, em uníssono, enquanto sentiam os seus corpos a serem sugados para debaixo de seus pés.




O chapéu de Antony CobrichOnde histórias criam vida. Descubra agora