— Boa, velha! Vir aqui realmente foi uma decisão muito inteligente! — Disse Tony para Vanda, que naquele instante, derrubava mais um monstro de cima do pequeno morro.
— Acho que não vamos aguentar por muito tempo. É bom o conselheiro e a minha irmã estarem com mais sorte — disse Vanda olhando para Tony, que dava um gancho de direita com tudo em um humanoide de uma perna só que tentou ataca-lo naquele momento.
Guga, naquele momento, apenas observava todos ao seu redor a brigarem, sempre de olho para que nenhuma criatura o pegasse desapercebido. Olhou para Tony e Vanda, e sentiu-se orgulhoso deles, de como eles travavam aquela batalha com tanto empenho e companheirismo. Ele queria fazer algo a mais, mas não podia. Era uma criança em uma terra de criaturas que iam além da sua compreensão.
Com a velha e Tony jogando mais alguns monstros ladeira abaixo, o menino voltou a sua visão para o outro lado e viu o conselheiro apanhando feio de Donie. A velocidade que o mafioso tinha adquirido era absurda, e o barulho dos seus socos, quando se chocavam contra o corpo de Aron, dava para ser ouvido dali, da onde o menino se encontrava, mesmo estando a uma distância razoável da batalha dos dois. Viu também Carmélia, um pouco mais distante, concentrando uma energia luminosa entre as mãos. Pensou no que a velha muda estaria tramando, e logo, a sua dúvida fora sanada.
Erguendo as duas mãos enquanto Aron apanhava, Carmélia chamou a atenção de todos dali, inclusive das centenas de monstros que ainda saíam dos portais. Com tudo, a velha lançou a esfera de energia no solo da ilha, provocando um buraco enorme no local. De baixo da terra, a partir da cavidade que fora aberta, gritos corajosos eram ouvidos por todos dali, e logo, quem observava já sabia do que se tratava: Carmélia, em um último esforço esgotando praticamente toda a sua energia, libertou os prisioneiros de Donie para ajudar a todos na batalha.
— Miserável! Enquanto eu tava distraído com o meu saco de pancadas, você libertou os meus prisioneiros com esse seu poderzinho medíocre. Você vai pagar por isso! — Disse Donie, correndo na direção da velha após dar um último soco em Aron, o fazendo perder os sentidos temporariamente.
— Tony! — Gritou Guga para o seu amigo.
Sem pensar duas vezes, Tony saiu correndo na direção do homem que o odiava. Carmélia, de joelhos no chão, esperava o golpe final do vilão, quando, de repente, Tony saltou nas costas dele, o agarrando pelo pescoço e sendo eletrocutado.
— Desgraçado! Como ousa! — Gritou Donie, jogando Antony para longe com violência, com ele se chocando em uma árvore.
Com gemidos de dor, Tony se erguia vagarosamente na sua frente. Donie, o olhando com desprezo, comentou:
—De todos aqui, você é o que eu mais odeio, e o que menos me oferece perigo.
— É o que veremos — disse Tony, dando um largo sorriso, com a chave do diário que pegou do bolso de Donie em mãos. — Uma vez malandro, sempre malandro. — Concluiu.
Donie, naquele momento, entrou em desespero. Antony correu para a direção oposta dele e gritou para Gustavo:
— Pirralho, pega!
— NÃO! — Gritou Donie.
A chave caiu a alguns centímetros dos pés do menino. Ao abaixar-se, notou que Donie, emanando fúria nos olhos, corria em sua direção tão rápido que parecia que os raios, emanados pelo seu corpo, tornavam-se um só. Guga pegou a chave, com ela quase escapando das suas mãos, e tudo o que sentia naquele momento era o seu sangue esfriar. Alguns dos prisioneiros libertos por Carmélia tentavam impedir Donie de chegar no menino, inclusive Ferdinand e o conselheiro Henrique. Todos falharam, pois Enzo, naquele momento, via que os seus planos poderiam falhar em um piscar de olhos, e a sua determinação para evitar isso era inabalável.
Guga, tremendo, viu a sombra de Donie a se aproximar de si. Enzo tinha dado um salto com o punho cerrado, com os raios emanados por ele a colorirem o ambiente de verde e darem choque em quem estava por perto. Vanda, que não estava tão distante do garoto, não podia fazer nada pelo menino, pois estava com um monstro enorme de três olhos a apertá-la pelos braços, quase a esmagando.
Donie estava disposto a dilacerar o menino em um único golpe de desespero, e o garoto, vendo-o se aproximar, como se ele estivesse em câmera lenta, viu que iria morrer naquele instante. Protegendo a chave e o diário com a sua mão esquerda, e erguendo o seu braço direito instintivamente para proteger-se do soco que lhe atingiria a face em cheio, Gustavo apenas esperou o seu destino.
Uma grande explosão de raios atingiu a todos dali. A terra, as árvores, o céu, tudo ganhou o tom de verde. O vento parava de soprar, e as ondas do mar, paravam de se mover. A ilha, que estava ainda subindo pelos céus, parou de subir naquele instante. O ambiente estava todo em um silêncio ensurdecedor. Não sabendo o porquê, mas, de olhos fechados, Guga lembrou-se do seu avô, mais especificamente, no dia que ele o visitara no hospital após o seu acidente no ônibus.
— Guga, meu neto! Tou tão feliz por você tá vivo, meu menino! — Dizia o avô de Gustavo em seu leito.
— Vovô, eu... ai... a minha cabeça... dói...
— Não, não, não se esforce, meu netinho. Eu tou tão orgulhoso de você ter acordado e sobrevivido! — Dizia o velho, abraçando o seu neto. — A sua vontade de viver me emociona, meu garoto.
— Eu não... consigo... me... lembrar de muita coisa... — dizia Guga, na cama.
— Você bateu muito forte com a cabeça, querido, e dormiu por um mês e meio... a sua mãe logo chegará aqui. Os médicos disseram que vai levar um tempo até que você se lembre de tudo, meu garoto. E por falar em tempo... fiz uma coisa pra quando você acordasse! — Disse o avô de Guga, retirando uma caixa azul de uma sacola velha. — Vamos, abra!
Guga, ainda um pouco confuso por haver acabado de acordar, abriu a caixa. Enquanto ele a abria, um médico observava tudo, emocionado, sem acreditar que o menino havia despertado.
Ao abrir a caixa, viu o relógio que o seu avô lhe dera. Era, para ele, o melhor presente que ele já recebera na vida.
— Meu neto, quero que toda vez que você olhar para esse relógio, recorde que o tempo é o seu amigo, e não inimigo, como muitos pensam. Espero que, cada engrenagem e cada pecinha dele que montei para ti, te tragam muita sorte por onde quer que você ande. Te amo muito, meu neto — concluiu o avô de Guga, em lágrimas.
Ao abrir os olhos, o menino viu, na sua frente, que o seu relógio formara uma espécie de escudo para protegê-lo, e que Donie, na sua frente, estava congelado, do outro lado do escudo. Não só ele, como tudo ao seu redor estava. Porém, notou que os olhos de todos em sua volta se mexiam, como se ainda estivessem com consciência. De repente, o menino ouve uma voz dentro da sua cabeça, que diz:
"Garoto, é agora ou nunca. Conte a Donie tudo. Conte como ele morreu. Não poupe detalhes" — disse a voz, com o garoto a perceber que era a de Carmélia.
O menino, saindo de perto de Donie, que estava com os olhos inquietos, inseriu a chave no diário. Este abriu de forma imediata.
— Isso! — Disse Guga, com um gritinho que ecoou por todo o ambiente. — Agora é só procurar o dia vinte e um de março. — Concluiu, notando que todos os seus amigos e criaturas dali, mesmo imóveis conseguiam ouvi-lo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O chapéu de Antony Cobrich
FantasiaGustavo, mais conhecido como Guga pelos seus familiares e amigos, é um menino de 13 anos que tem a sua vida virada pelo avesso. Após pegar um atalho para o caminho da escola e atravessar o bosque próximo da sua casa, notou um chapéu em um galho de u...