Por debaixo da pele

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InuYasha POV

Estávamos sentados um do lado do outro no corredor que levava a sala de exames. Kagome não parava de enrolar uma mecha de cabelo em seu dedo indicador. Está nervosa. Como não estaria?

Eu estava ansioso por ela.

Queria muito saber o que levou ela a ficar quieta por tanto tempo. Queria conhecê-la melhor. Na verdade, se eu pudesse, falaria com ela por horas. Conversaria até saber quais os seus sonhos mais loucos da época que estava no ensino fundamental.

O barulho das algemas que prendiam seus pulsos e a rendiam me incomodavam. Não pelo ruído que a pequena corrente fazia quando ela se movia, mas por que ela não deveria passar por isso. Era humilhante demais.

A pasta estava no meu colo, com todos os documentos necessários e o requerimento assinado e carimbado por aquela viúva negra que liderava o presídio. Pigarreei e abri a pasta, chamando a atenção dela e do nosso querido, entre aspas, guarda costas. Sim. Mandaram um armário para nos escoltar.

É certo que aquela prisão mantinha presas muito perigosas, mas a Kagome não era igual a estas. Eu não tinha as provas, mais meu empirismo dizia isso. Eu percebia nela, desde o seu cheiro, suas expressões e tom de voz, o agir de uma garota que foi subjugada à isso sem ter tido reais chances de se defender.

Ela não teve voz. Não teve qualquer escolha.

E isso... Me deixava puto de raiva.

O armário que nos seguia colocou a mão sobre seu coldre e eu apenas soltei um "Keh" baixinho. Ele achava que eu ia fazer o que? Idiota. Ela voltou a olhar os grilhões que lhe mantinham presa, mesmo 'fora' do seu cativeiro.

- Kagome. – falei baixo e peguei um bloco de papel e uma caneta. – Quero fazer algo por você. – desviei os olhos e a fitei suavemente.

- Mais do que já faz? – murmurou, ela não me olhava agora. Seus olhos estavam fixos nas algemas. Suas mãos estavam abertas, como se ela fizesse uma prece.

- Tudo o que eu puder fazer, ainda parecerá pouco para mim. – sorri de canto.

Ela não me alcançou com seus olhos. Kagome apertou suas pálpebras e eu senti um cheiro salgado escorrer por seu canal lacrimal. Aquilo ardeu em minha garganta.

Sem perceber bem o que eu fiz... Levei a mão até a dela e a segurei.

Uma eletricidade incrivelmente intensa parecia percorrer por mim. Minha boca secou. As batidas do meu coração se tornaram frenéticas e descompassadas. O que era isso?

- Sr. Taisho! – o médico nos chamou e isso me fez puxar rapidamente a minha mão de cima da mão de Kagome. – Pode trazer sua cliente até aqui.

- "Keh! Ela tem nome, imbecil." – pensei irritado. – Certo. – levantei e olhei-a. Sussurrei depois: - Pronta?

- Não... – seus lábios tremeram e eu não sabia o que dizer a ela.

- Vou estar com você. Não se preocupe. – assenti para ela e tentei lhe passar alguma confiança.

- Ok. – apertou seus lábios e levantou.

Percebi que deixei o bloco e a caneta caírem ao chão, juntamente com a pasta. Juntei tudo e recoloquei os itens no interior da bolsa de couro. Depois eu terminaria o que comecei quando fiz aquela pergunta à Kagome.

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Kagome POV

Aquela sala branca tinha um cheiro de hospital, apesar de ser uma clínica particular própria para este tipo de exame. Era totalmente quadrada. Havia uma maca e uma pequena escada composta de dois degraus e feita em ferro, porém pintado de branco. Dei alguns passos e parei na frente da maca, com as mãos postas em uma corrente de ferro.

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