sex shop [h.s.] [portuguese]

trinta e seis.

Meus olhos esbugalhados não escondiam a surpresa de sua declaração. A boca entreaberta, porém, nenhum som saia dali. Os dedos – involuntariamente – tremiam, e as palmas das mãos suavam descontroladamente. O coração parecia correr pelo canal da laringe, até voltar novamente ao peito – com batidas sem ritmo correto.

Harry continuava sereno, sem nenhuma reação. As feições do rosto relaxadas, os lábios pressionados numa linha tênue.

— Está brincando, certo? — foi a primeira coisa que cuspi.

— Por que acha que eu estaria brincando?

— Eu não sei... — em choque, me levantei. O garoto ergueu a cabeça, me seguindo com seu olhar. Gesticulei diversas vezes, gaguejando ao tentar produzir uma frase. — Você é... Você. — apontei para ele. — E eu sou... Eu. Entende?

Com uma covinha marcada no canto da bochecha, ele se levantou, mantendo-se ao meu lado. As duas mãos tocaram meus braços delicadamente, forçando-me a encarar suas esmeraldas brilhantes.

— Eu sou uma pessoa melhor quando você está por perto. — sorriu fraco. — Entende? — meu queixo despencou. Harry apertou meus ombros com os dedos polegares, relaxando os músculos tensos. — Carly, ouça. Não te contei a verdade para que se apaixonasse magicamente por mim em cinco segundos. Contei porque estava engasgado. Tentei esconder ao máximo, porque não sabia como admitir. Lá no fundo, me recusava a acreditar que estava realmente aproveitando a companhia de alguém a este ponto. Cada vez que quebrávamos uma daquelas regras estúpidas, eu estranhamente não me sentia preocupado. Me sentia bem. Quando compunha, pensava em você. Nos seus lábios, no seu corpo perfeito, no seu toque. Aquelas palavras escritas em pedaços de papeis foram uma forma de aceitar, dentro de mim, que já estava entregue. — me soltou, respirando profundamente. — Depois daquele dia, na festa, em que simplesmente travei com aquela mulher na minha frente, percebi que era algo muito maior do que atração carnal. E tudo fez sentido quando descobri que trouxe outro cara para seu apartamento. Senti um ciúme fodido, Carly. Não consegui dormir direito. — coçou a nuca, olhando para a areia sem fim. — Nunca me apaixonei por alguém. Não sabia qual era a sensação. Mas tenho certeza de que ela é tão boa quanto a sensação que desfruto ao te beijar.