Capítulo Um

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Min-jun (민준) abriu a porta do seu apartamento e sentiu o característico cheiro de bebida. Ele tapou o nariz com as costas da mão e andou até seu quarto, passando pela sala bagunçada pela roupa e garrafas de soju. Trancou sua porta e tirou o casaco preto que usava. Ele se olhou no espelho. Jovem e com seus dezesseis anos, seu corpo apresentava alguns músculos que ganhou graças à natação. A camisa branca que usava por debaixo do casaco estava um pouco suada, e ele a tirou, jogando em cima da cama. Passou a mão no cabelo liso que cobria o olho e entrou na porta no final do quarto que dava para um suite. Ele colocou as duas mãos na pia e ligou a torneira. Enfiou as mãos debaixo da água e jogou no seu rosto, depois molhou os cabelos. Ele estava farto de viver com o pai e a mãe brigando todo o tempo, e sabia que teria que ouvir mais daquele teatro pela manhã. Ele decidiu descansar. Tomou um banho, se enrolou no roupão e a porta do seu quarto estava aberta quando ele saiu. Ele viu que a camisa não estava mais sobre a cama, e sabia que a mãe a havia pego. Ele se sentou na beirada da cama e respirou fundo. Sabia que era necessário encarar os dois novamente, mesmo que estivesse com nojo da cara de ambos. Seu pai era milionário, dono da empresa de música e idols mais famosa da Coréia, e ele não queria seguir os passos que o pai desejava que ele seguisse. Carreira e sucesso não faziam parte do vocabulário de Min-jun.

Min-jun se levantou e abriu sua porta. Não ouviu nada. Foi até a sala e ela já estava sem a bagunça que antes ele havia visto. Parecia que havia passado dias no banho. Ele continuou pela sala e passou pela cozinha, chegando a uma porta que estava entreaberta no fundo dela. Lá estava sua mãe, ajoelhada em frente à máquina de lavar. Seus olhos marejados de água, sua mão trêmula e seu rosto vermelho de um lado. Ele sabia o que isso significava. Correu até ela, se ajoelhou ao lado da mãe e ela chorou em seus ombros. Não dava mais para suportar isto, e este era o ápice.

- Amanhã vamos sair desta casa, vamos para outro lugar - ela olhou ele nos olhos - não tem que passar por isso mãe. Você não pode continuar vivendo isto. Peça o divórcio.

- Divórcio Jun? Sabe o que vai acontecer se eu pedir a ele um divórcio? O seu pai só pensa na mídia, vai sair em todos os jornais e adivinha? Ele vai queimar a minha imagem no país inteiro - ela soluçou - Vou apenas viver isso enquanto puder.

- Eu posso cuidar de você, se você aceitar morar em uma casa simples, eu tenho dinheiro para isso - Min-jun segurou o ombro da mãe - Você é mais forte do que parece mãe, e podemos vencer qualquer coisa. Não me importo com o dinheiro do meu pai, muito menos em morar em Gangnam. Podemos ir para um bairro mais barato e...

- Que palhaçada é essa? - seu pai estava parado na porta. O homem de quarenta anos portava uma camisa social branca desabotoada até o meio do peito, calça social e cabelo grisalho. Era muito bonito para a idade dele, e usava um cavanhaque que o deixava sensual aos olhares das mulheres. Ele levantou o filho pela gola do roupão e a mãe dele gritou - O que acha que está tramando? Inútil. Você sempre viveu às minhas custas, você não sabe o que é o mundo lá fora. Você não deixa de ser uma grande merda. Vive apenas para me dar dor de cabeça e nadar. Não sabe o quanto eu fiz por esta família, e não sei o quanto ainda posso sacrificar por ela.

- Com mulheres, jogos e bebidas? Eu sei sim - o pai de Jun deu um tapa em sua cara depois do comentário e o soltou. Sua mãe o segurou por trás - covarde, é isso que você é. Um homem covarde. Você bateu na minha mãe, a mulher que decidiu viver ao seu lado. Prefere estas prostitutas de merda ao invés dela que sempre passou por vários problemas por conta de você. Agora, você quer ME chamar de merda? Você é um total inútil. Sua empresa? Seus ídolos? - Min-jun cuspiu no chão - Que vão para o inferno junto com você. Amanhã quando você acordar, nem eu nem minha mãe estaremos aqui. E você nunca mais vai ouvir falar em nosso nome. Você morreu para nós. MORREU!

- Moleque mesquinho - ele levantou a mão para bater de novo em Min-jun e sua mãe entrou na frente dele - Saia da frente Jang-mi.

- Você não vai mais bater nele, nem em mim Chang-ho (창 호) - Jang-mi relaxou ao ver a mão de Chang-ho se abaixar - a partir de amanhã não moramos mais com você.


Chang-ho não sabia perder, e muito menos gostava de ser contrariado. Saiu pisando forte no chão e batendo nos móveis. Min-jun e sua mãe se abraçaram e ela chorou desesperada em seus braços. Ele passou a mão em sua cabeça e disse para ficar calma, que tudo iria ficar bem. No outro dia, eles pegaram algumas roupas, documentos e objetos pessoais e saíram da casa. Foram de táxi até uma quitinete alugada durante a madrugada por Min-jun em um grupo de apartamentos em Itaewon. Min-jun queria ver novamente o olhar de calma no rosto de sua mãe, mas nunca mais conseguiu ver. O ano passou e ela não conseguia um emprego por sempre estar ligada ao pai de Min-jun, que nunca a deixou trabalhar. Min-jun largou o último ano da escola e começou a fazer alguns bicos de entregador. Virava a noite estudando para não se sentir atrasado quando voltar para a escola e decepcionar a mãe. Ele sempre tentou a fazer feliz. Um dia comprou um par de meias de gatinhos que dizia "te amo" e ela o abraçou carinhosamente, mas não sorriu como ele queria. O ano virou, a mãe passou a virada dormindo e Min-jun sentado na janela vendo os fogos. Ele olhou para a mãe, viu que ela estava usando as meias de gatinho, e sentiu pena. Ela tinha que vencer, ele estava ali para cuidar dela.

O aniversário de Min-jun de dezoito anos estava próximo, dia 14 de janeiro, e da sua mãe dois dias depois. Ele estava feliz porque poderia trabalhar firme e voltaria a estudar, então resolveu que levaria um bolo e comida comprada para comemorar com a mãe. Ligou para ela, e a voz dela estava mais triste que o habitual. Disse que ia ficar tudo bem e que ele estaria sempre ali, independente de qualquer coisa. Ela finalmente sorriu, ele pode ouvir. Seu coração se encheu de alegria. Passou na loja de doces e comprou um bolo de aniversário, depois foi até a loja de conveniência e comprou duas marmitas de frango frito e soju. Era quase dez horas da noite. Sua bicicleta nunca trabalhou tanto para chegar em casa o mais cedo possível, mas seu coração cheio de alegria travou e congelou ao ver, em frente ao seu prédio, a polícia, várias pessoas amontoadas tirando foto, e uma ambulância. Ele desceu da bicicleta e a largou no chão. Correu até a multidão e empurrou quem pode, seu bolo caiu no chão, mas ele manteve firme as marmitas. Não queria crer no que seu coração dizia, mas não podia suportar ao ver a cena. Estirado no chão À sua frente havia um corpo coberto por plástico preto. Sangue se formava cada vez mais ao redor e as pessoas comentavam sobre o barulho que o corpo fez ao cair. Min-jun se ajoelhou, começou a chorar e, sem força, soltou as marmitas. Sua mão tremia, seu coração parou de bater por uns segundos. Ele não queria acreditar e gritou. Min-jun tinha certeza que ninguém mais naquele prédio usava aquelas meias de gatinho.

HEDGEHOG BOYOnde histórias criam vida. Descubra agora