Capítulo três

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               Min-jun chegou em casa e jogou a mochila em cima do sofá, foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água. Ao se virar, viu o ambiente em que estava e sua cabeça ficou em branco. A mansão de seu pai preencheu seu olhar novamente. Um lugar que ele jamais achou que colocaria os pés de novo. Ele perdeu as contas de quantas vezes pediu perdão à mãe por ter tirado ela dali, e muito pior: por ter voltado. Ele chacoalhou a cabeça para tentar fazer os pensamentos irem embora e foi até seu quarto, trancou a porta antes de pular na cama, e abriu a garrafa de água. Enquanto bebia água a imagem de Ji-hoon surgiu em sua cabeça. Ele imaginou o quanto aquele menino sofre naquela escola, e se pudesse daria um bom troco em todos os que fazem covardias com ele. Min-jun sem querer apertou a garrafa de água com ódio, molhando todo o seu edredom. Respirou fundo, pois teria que trocá-lo, e isto indicava ter que ir até a despensa que ficava próximo ao escritório de seu pai. Desejou que ele não estivesse em casa.

               Min-jun andou devagar e chegou na porta da despensa poucos segundos depois. A abriu com muito cuidado, mas o rangido enquanto a empurrava não passou despercebido do pai, que abriu a porta do escritório e o olhou. Min-jun pegou qualquer edredom na sua frente, fechou abruptamente a porta e começou a andar em direção ao seu quarto. O pai dele o chamou algumas vezes e ele pode ouvir os passos do pai atrás dele. Apertou seus passos para que ele não o alcançasse, mas antes de conseguir fechar a porta, seu pai a segurou. Ele largou a porta e andou até a cama para trocar o edredom e seu pai respirou fundo e escorou no batente da porta.

- Como foi seu primeiro dia de aula?

- É sério mesmo? - falou Min-jun, sem olhar para o pai, apenas continuou trocando o edredom

- Não posso ao menos saber como foi seu primeiro dia? Eu tenho este direito de saber como você se sente.

- Você tem é? Desde quando?

- Eu sou seu pai Min-jun, eu não posso continuar a ver você chegando em casa e indo direto para este quarto. Você - Chang-ho passou a mão no cavanhaque - você nem tocou na comida que eu deixei para você ontem, muito menos acho que comeu alguma coisa hoje.

- Eu estou bem, não precisa se preocupar comigo.

- Você ainda me culpa não é? - Min-jun parou de ajeitar a cama e seu punho fechou no edredom - Você me culpa pela morte dela. Min-jun eu não sou o mesmo homem de dois anos atrás. Sabe quanto tempo eu não coloco uma gota de álcool na minha boca?

- Nunca foi pelo álcool.

- Você deveria ter deixado eu ajeitar tudo depois. Deveria ter deixado eu me encontrar com ela, você foi quem não quis que eu voltasse a vê-la. Ela foi embora sem nem mesmo eu conseguir pedir perdão.

- Cala a boca - Min-jun olhou para o pai - Primeiro que você nunca deveria ter encostado em minha mãe. Segundo que ela não estava daquele jeito por ter perdido você - ele chegou até perto do pai - Entenda de uma vez por todas: ela estava daquele jeito porque você destruiu a vida dela. Ela não tinha diploma, carreira, não tinha nenhuma economia porque você nunca deixou ela ter. Sabe o que mais doía na mamãe? Era ver que o filho dela teve que deixar a escola para colocar a pouca comida que tínhamos na mesa e ela não poder fazer nada. Caiu a ficha de que ela nunca teve uma vida na qual poderia ser alguém caso um dia você viesse a faltar - o pai dele engoliu seco e olhou para o lado com a mão na cintura - Então pai, não. Nem eu, nem ela sentimos falta de você. Muito menos desta casa maldita que cheirava a soju. Você pode ser a última bolacha para o público da sua empresa ou seus funcionários, para nós você nunca iria fazer falta.

               Min-jun fechou a porta na cara do pai e escorou nela de costas. Ele ouviu o pai sair em direção ao escritório e começou a chorar silenciosamente. Min-jun começou a perder a força da perna e se sentou ali mesmo, escorado na porta, enquanto chorava. Ele queria que tudo fosse diferente, tudo fosse como era antes do pai ser o CEO de uma empresa tão conhecida. Ele se recordou de seus anos de criança, quando a JUNMUSIC não passava de uma loja de discos e instrumentos musicais. Ele nem se lembra do pulo que foi desta loja para uma grande empresa de música. Independente de tudo, o pai que ele tinha na infância morreu no dia em que colocou um terno, e se tornou o CEO.

HEDGEHOG BOYOnde histórias criam vida. Descubra agora