Tudo aconteceu rápido demais, minha cabeça ainda estava girando. Lembro de ter sido arrastado de casa pela polícia, enquanto gritava para todos ouvirem que eu era inocente. E logo estava deitado em uma cela fria, confinado e sem esperanças.
Tentei de todas as formas explicar o que tinha acontecido naquela noite. Mas infelizmente, ninguém acreditou em mim. E eu ter desaparecido por onze dias realmente não ajudou nem um pouco.
As palavras do juiz ficaram gravadas em minha mente.
— No caso, o estado de Nova York contra Michael Cane, o réu é declarado culpado pelo homicídio de Juliette Malin, sob pena de sessenta anos de prisão em regime fechado.
Como isso foi acontecer? Fui acusado de matar a minha própria namorada, fui condenado. E o pior de tudo, o verdadeiro culpado ainda estava solto, quem sabe matando outras jovens inocentes e destruindo a vida de outras pessoas.
Isso me deixava muito irritado, tentei ao maximo ficar sozinho, evitar encrencas. Mas não consegui manter essa atitude por muito tempo.
Na prisão, você é provocado o tempo todo, tem gente que procura um motivo para começar uma briga. E naquele dia um deles conseguiu.
Ele parecia ser um pouco mais velho que eu, aparentava uns vinte anos. Sua aparência era horrível, tinha uma cicatriz na bochecha que atravessava do canto da boca até a orelha. E estava acompanhado de mais seis homens, um mais estranho que o outro.
Eles chegaram perto de onde eu estava, e o rapaz se aproximou de mim e falou:
— Você é o covarde que matou a própria namorada?
— Vai embora - disse eu.
— Ele diz que é inocente, todos são inocentes aqui - falou o rapaz em tom de deboche — provavelmente ela era uma vagabunda, e você a matou porque descobriu a verdade sobre ela - todos riram.
Quando ele terminou de falar, fui tomado por um acesso de raiva, e sem pensar comecei a bater nele. Ele estava caido no chão, e eu cercado por seis brutamontes. Não sei explicar como aconteceu, parecia que meu corpo estava agindo sozinho. Eu conseguia desviar de cada golpe e ainda revidar. Em menos de um minuto os seis estavam estendidos no chão, e eu estava em pé sobre eles. Parecia que eu estava em algum tipo de transe, quando me dei por conta estava sendo arrastado pelos guardas e jogado na solitária. Uma semana sem ver a luz do sol, e uma promessa de vingança de uma gangue da prisão.
Será que podia piorar? Sim, uma coisa que aprendi na prisão é o seguinte: sempre pode ficar pior, não existe uma situação tão ruim que um colega de cela piradão não possa tornar pior. Exatamente o que aconteceu, até então eu estava sozinho em uma cela, duas camas duras, um vaso sanitário sujo e um lavatório que gotejava o tempo todo. Depois de alguns dias confinado, os guardas trouxeram um novo preso e o colocaram na mesma cela que eu. O cara era um brutamontes, media aproximadamente um metro e noventa de altura, parecia pesar uns duzentos quilos, tinha olhos pequenos e frios, uma expressão assustadora no rosto. O mais estranho era que ele não falava nada, ficava apenas me observando.
Quando a noite chegou, caiu a barreira do estranho direto para o bizarro, meu colega de cela continuava sem falar, mas a sua aparência estava mudando rapidamente. Ele não era mais humano, ele parecia um monstro. Ficou mais alto e assustador, pelos cresceram em seu corpo e rosto, nas suas mãos não haviam mais dedos e sim garras. Primeiramente achei que era só um pesadelo. Mas quando suas garras rasgaram meu peito percebi que aquilo era real.
Tentei me manter afastado, aquela criatura poderia me matar em um segundo.
— O que é você? - perguntei assustado, me afastando toda vez que ele se aproximava.
— Você é a minha presa Michael Cane - falou o monstro com uma voz rouca — hoje você vai morrer mais uma vez, mas dessa vez não tem volta.
Logo lembrei daquele velho, Caron, e das coisas que ele falou sobre vida e morte, sobre meu destino. Agora as besteiras que ele falou não pareciam tão surreais, eu estava sendo atacado por um monstro que dizia que iria me matar novamente.
— Sua missão acaba aqui Hunter - sussurrou o monstro.
Essa palavra de novo, afinal o que é um Hunter? Antes de eu descobrir a resposta, o monstro saltou para cima de mim, e novamente o meu corpo respondeu. Em um movimento involuntário, esquivei do ataque.
— Sua sorte não vai durar para sempre garoto. - Ameaçou o monstro.
Eu não sabia quanto tempo poderia sobreviver, como era possível os guardas não ouvirem nada.
O monstro investiu mais uma vez sobre mim, dessa vez conseguindo me acertar, fui lançado contra a parede. Por um momento pensei que ficaria inconsciente, mas algo me manteve acordado.
— Será que você não percebe Michael?! Você não tem chances, você morre aqui e agora! - Gritou o monstro.
Nesse momento senti meu corpo todo estremesser, eu não podia morrer agora. Se eu morresse, o assassino de Juliette poderia nunca pagar por seu crime. Meu coração acelerou.
— Eu não vou morrer aqui seu verme. - Falei olhando diretamente para o monstro.
Senti uma grande força dentro de mim e sem pensar investi contra a criatura. Meu corpo agiu sozinho novamente, saltei e chutei o acertando diretamente no peito, uma luz forte iluminou a cela e o monstro se transformou em uma nuvem de fumaça. Fiquei observando a fumaça se dissipar e então desmaiei.
Acordei com o barulho das celas se abrindo pela manhã. — Será que foi tudo um pesadelo? - pensei. Até sentir meu peito queimar, e perceber que nele tinham marcas de garras afiadas. Foi real.
Nesse momento um guarda entra na minha cela.
— Você tem visita Michael - disse o guarda.
Alguém veio me visitar, quem seria?
— Quem quer me ver? - perguntei.
— Apenas venha garoto - insistiu o guarda.
Assenti com a cabeça, e o segui pelo caminho até a sala de visitas. Antes de chegar perguntei.
— Por acaso o senhor viu meu colega de cela hoje?
Ele me olhou com uma expressão séria e respondeu.
— Não diga asneiras garoto, desde que você chegou aqui, você nunca teve um colega de cela.
Essa resposta confirmou o que eu temia, realmente foi um monstro que me atacou noite passada. E por algum motivo não lembravam mais da chegada dele.
Quando chegamos a sala de visitas, meu coração disparou. Quem estava me esperando com um sorriso amarelado no rosto era Caron, aquele velho maluco.
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Hunters - o caçador das sombras
HorrorDepois do incidente com Juliette o mundo de Michael não é mais o mesmo, tudo está diferente. O perigo está em todos os lugares, coisas estranhas tem acontecido. O destino do jovem rapaz está traçado, ele deve cumprir uma missão, movido por um dos se...