Prólogo

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LOKI

A atmosfera é nefasta, fatídica, Asgard estava vivenciando a chegada do anoitecer. A escuridão logo tomaria seu lugar no céu e os ventos se tornariam mais intensos, refrescando os rastros da manhã quente que ia embora. O frio invadia meu quarto, de pouco em pouco, lento e tíbio, como ondas constantes que me emitiam paz e conciliação. Suas correntes de ar receberam mais força e agora fazem meus fios de cabelo voarem, batem contra contra meu traje e a sensação de liberdade me faz senti-lo em minha pele. Éramos um só.

Os ventos frios e intensos, a noite escura e sombria, eram parte de mim, completavam um pouco da pequena parte que estava perdida. A escuridão do céu me aconselhava em silêncio enquanto eu observava as estrelas brilharem em sintonia, iluminando meus olhos que agora pareciam tão vazios. Eu segurava em minhas mãos um livro de histórias, contos que narravam a felicidade em pequenos momentos de solidão, mentiras que acolhiam minha mente e fantasiavam uma vida perfeita. Li e reli as histórias centenas de vezes, pois os dias em Asgard estavam virando uma rotina drástica e repetitiva, fazendo com que minha vida se tornasse um filme dramático que deu errado.

Mas a única coisa que não mudava era a mania irritante de Odin de atrapalhar minhas noites.

Um estrondo forte é produzido durante meu momento de reflexão e interrompe minha concentração. Alguém batia à porta e não havia voz por trás da gigante de madeira. Hesito em atender a chamada, mas já era óbvio quem podia ser, e ele não desistiria até ser atendido.

- Entre, pai. – O deixo se apoderar de meus aposentos, sabendo que ele pretendia propor algo à mim, como sempre. - O senhor por aqui? - Finjo surpresa, vendo-o abrir a porta, ligeiro, fechando-a logo em seguida. Ele se aproxima da cama em que eu descansava.

- Pensando? – Sua voz carranca carregava uma finalidade já conhecida por mim, ele tinha algo a me propor. Odin não andaria meio palácio até meu quarto apenas para perguntar o que eu estava fazendo.

- Tramando meu próximo plano para matar Thor e governar Asgard. – Respondo, irônico, mas a expressão do velho permanecia séria. – Sim, pensando.

- As pessoas já esqueceram seu erro, então, por favor, não as lembre. - Sua presença preenche cada canto do quarto, com o brilho forte de sua coroa de ouro. Era a única coisa que permanecia na cabeça de meu pai além de suas péssimas ideias.

- Veio para me lembrar que eu não posso ser uma má pessoa e devo fingir ser feliz como nos contos que lia para mim, quando jovem? – Ironizo mais uma vez e mesmo com o ar fresco do clima, senti meu sangue ferver aos poucos, por debaixo da pele. Aquela conversa tomaria rumos que eu não queria.

- Vim para dizer que sinto muito. – O clima esfriou de repente, me senti aliviado por alguns instantes, mesmo sabendo que tinha algo por trás daquela melancolia toda. Odin, o mais tolo e intocável dos deuses, pedindo desculpas? Pra mim? Eu estava delirando? Tenho certeza que o café que tomei mais cedo estava envenenado. – Você errou, pecou, traiu seu irmão, o reino e à mim...

- Pule essa parte.

- ... mas eu o compreendo. Tratamos você diferente, mesmo sendo parte de nossa família e talvez esse seja o motivo de seus pensamentos egoístas. - Mesmo sendo um completo arrogante e rígido, ele parecia estar arrependido e mesmo que esse fosse um péssimo jeito para pedir desculpa, senti sinceridade em suas palavras.

- O seu jeito de pedir desculpas não é o melhor, mas aceitarei apenas para não ouvi-lo falar mais. – Interrompo, calando-o por alguns segundos. – Está tudo bem, meu pai, não tenho ressentimentos de...

- Você precisa de uma noiva. – Desta vez, ele fala por cima de mim. Tombo para trás e arqueio as sobrancelhas, aflito. Me assusto com sua decisão repentina, era algo novo para meus ouvidos. Odin foi claro e direto, talvez eu não tenha entendido bem.

FEAR - LOKIOnde histórias criam vida. Descubra agora